Bebês

O certo e o errado na hora de tirar a fralda do seu filho

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Publicado em 02/01/2013, às 05h00 - Atualizado em 06/04/2016, às 08h31 por Redação Pais&Filhos


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Seu filho vai entrar na escolinha este ano e você quer aproveitar as férias para tirar as fraldas. Até aí, lindo. Só falta uma coisinha: saber se ele concorda. Isso mesmo. Fomos falar com uma das maiores autoridades em criança do mundo, o pediatra norte-americano Thomas Berry Brazelton, criador da Escala de Avaliação Comportamental Neonatal, usada por médicos em todo o mundo. Segundo esse superespecialista, seu filho precisa sentir que o uso do peniquinho é uma conquista dele e não apenas algo que faz para agradar aos pais. Caso contrário, as chances de sucesso são bem menores.

Enquanto muitos médicos defendem a idade mínima de 18 meses para começar o processo, Brazelton recomenda que se espere um pouco mais, até o segundo ano de vida. E ainda assim, só se a criança estiver preparada. É bom lembrar que meninos demoram um pouco mais e deixam as fraldas, em média, dois meses depois das meninas.

O problema é que, em nossa cultura, tirar as fraldas cedinho é visto como um sinal de inteligência. É como se fosse um atestado de Q.I. Nada mais absurdo.

O processo em que a criança passa a ter o controle do esfíncter e de seu corpo é uma etapa do crescimento, como começar a andar, por exemplo. O que entorna o caldo é a ansiedade da família. Não é à toa que estão cada vez mais comuns os casos de crianças com sérios problemas de prisão de ventre. “Os pais não querem que seus filhos sejam diferentes. Tudo isso os leva a pressionar a criança a fazer coisas para as quais ela ainda não está preparada. E a maneira que ela tem de resistir é prendendo as fezes. A questão é: “´Você realmente quer transferir essa pressão do mundo adulto para seu filho?”, pergunta o dr. Brazelton.

Mãe demais atrapalha

No Brasil, psicólogos, pediatras e educadores concordam que a interferência, principalmente materna, é a principal causa das complicações. Segundo a psicóloga Evelyn Pryzant, mãe de duas crianças, esse é o pior erro que os pais podem cometer, já que cada um tem seu ritmo de amadurecimento. “A criança sofre com a angústia dos pais”, diz. E isso pode comprometer desde o simples treinamento para ir ao banheiro sozinha até questões psicológicas mais complexas. “Quanto mais cedo uma criança fica asseada, com menos sossego vai crescer”, diz a psicóloga.

Freqüentemente, os pais subestimam a habilidade necessária para desenvolver esse controle.
Como o amadurecimento do controle corporal envolve a maturidade de elementos físicos e motores, é quase como querer apressar o crescimento dos dentinhos. Um dado para deixá-lo mais tranqüilo: pesquisas feitas nos Estados Unidos mostram que 40% das crianças ainda usam fraldas aos 3 anos.

Então, como saber a hora ideal para iniciar o processo? O pediatra José Martins Filho, pai de Carina, Juliana e José, confirma que o melhor é ouvir a criança – ela vai dar sinais claros quando estiver pronta. Como a tarefa exige um controle muscular específico e delicado, isso só acontece quando seu filho tiver desenvolvidas outras tarefas corporais. “Ele precisa correr, chutar, subir e descer escadas, conhecer o nome dos dedos”, diz Evelyn. A criança deve estar íntima de si mesma e confiante em atividades mais simples. Para isso, precisa de espaço, estímulo e experiência – brincar com areia, água, massa de modelar, tudo isso ajuda a amadurecer.

O papel da escola

Nessa idade, muitas crianças já estão na escolinha. Por isso, o primeiro passo deve ser conversar com as professoras. Flávia Barbosa, professora de educação infantil da escola Ofélia Fonseca, em São Paulo, concorda que os apressados costumam ter que esperar muito mais. “Várias vezes os pais pedem para desfraldar antes da hora, e o processo é muito mais lento”, diz a professora, que mora com o sobrinho Vítor, de 2 anos, que acabou de passar por essa fase. Segundo ela, apesar de a maioria das crianças desfraldar na mesma época, o processo de cada aluno é individual e só começa quando ele está pronto.

Quando a criança começa a demonstrar desconforto, a escola pede uma reunião comos pais para determinar um trabalho simultâneo. Se algum “acidente” acontece – e acontece sempre –, não tem nenhum tipo de bronca.

Mesmo que pais e professores estejam trabalhando juntos, a criança deve encontrar na família apoio e cumplicidade, revela a psicóloga Evelyn. Quando a professora informar que o aluno deixou “escapar”, a mãe deve explicar que não tem problema nenhum. “Console seu filho. Palavras são importantes. Somos seres de linguagem.”

A força do exemplo

É bom que a criança possa ver como o adulto usa o vaso – desde que os pais não fiquem constrangidos. O uso de exemplos é mais seguro e tranqüilo do que a insistência e a repetição característicos de um “treinamento”, porque diminui a ansiedade dos pais e, conseqüentemente, das crianças. Os psicólogos acreditam que, mesmo se os pais não façam nenhum treinamento, as crianças que vivem em um ambiente asseado obviamente passam a ser assim mais cedo ou mais tarde, apenas observando os adultos.

Pai de Felipe e Ana Célia, de 5 e 7 anos, o engenheiro Ricardo Nunes Ribeiro tomou para si a responsabilidade de desfraldar os filhos. “Quando percebi a ansiedade da minha mulher em acompanhar o ritmo dos coleguinhas, fui ao pediatra, me informei e fiz tudo no ritmo deles”, conta. Fátima, mulher de Ricardo, confessa que foi um alívio geral. “Fiquei mesmo muito ansiosa quando percebi que os amigos do Felipe já usavam cueca e ele ainda não tinha dado os sinais necessários para tirar a fralda”, afirma.

Na mesma fase em que estão tirando as fraldas, as crianças começam a lidar com a própria agressividade. Como estão sob a pressão dos pais para executar uma nova e complicada tarefa, os pequenos podem se tornar especialmente vulneráveis nesse período.

Uma preocupação excessiva dos pais com o cocô pode fazer com que a criança passe a manipular a situação, decidindo se vai dar ou não o que eles tanto desejam. Os processos corporais são usados pelos pequenos para expressar emoções relacionadas aos pais. “O cocô é visto como um presente para a mãe. Para a criança, aquilo é um produto incrível feito por ela”, explica a psicóloga Evelyn Pryzant. Por isso, sua cabecinha fica confusa quando o tão esperado produto é tratado com nojo. “É completamente incoerente. Tratar como uma coisa ruim, dando valores negativos, como ‘feio’ e ‘sujo’, ensina a criança que ela não pode mostrar sua agressividade”, diz Evelyn.

A empresária Claudia Roencar de Oliveira, mãe de Miguel, sabe exatamente do que Evelyn está falando: “Fui superdesajeitada na hora de desfraldar meu filho, tenho até vergonha de lembrar. Dizia para ele tirar o cocô de dentro dele, que era caca, e fazer dentro do peniquinho”, diz. Por isso, Miguel se recusava a usar o penico. “Só depois de uma conversa do pediatra e de saber o valor do ‘produto’ dele é que eu consegui acertar os passos com o meu filho e levar o processo com naturalidade”, diz.

E agora?

Pode ser que você já tenha iniciado o processo e esteja se perguntando: será que fiz tudo errado? Primeiro, é preciso lembrar que os pais aprendem com seus erros. Ninguém progride sem errar. Se você percebe que as coisas não estão funcionando, é hora de retroceder e procurar ajuda. Converse com o seu pediatra e relaxe. Todo dia é dia, toda hora é hora!

Dúvidas mais comuns

Qual a melhor época do ano?

-O verão, porque os pequenos ficam mais incomodados com a fralda, por causa do suor e o calor.

Como orientar a babá?

-A babá deve avisar a mãe se notar que a criança está pronta e seguir as orientações dos pais.

É legal oferecer presentinhos?

-Não, essa é apenas uma outra forma de pressão. “Você tira da criança o prazer dessa conquista”, diz Brazelton.

Sem fralda, primeiros passos

-Deixe-o sentar no penico de fraldas

-Se a criança demonstrar interesse, deixe-a sentar no penico de roupa ou de fralda, uma vez por dia, enquanto você senta na privada. Fique ao lado dela, conte uma história, converse. Se ela quiser sair, permita.

-Esvazie a fralda no penico

-Depois que ela fizer cocô na fralda, leve-a para esvaziá-la no penico. Se a criança se mostrar incomodada, não o faça até que se desinteresse das fezes. Caso contrário, faça isso uma ou duas vezes por dia. Lave as mãos dela como você faz. Repare se ela se mostra interessada na rotina.

-Deixe-a sem fralda

-Pergunte se ela gostaria que você a ajudasse a ir ao penico. Ela pode surpreendê-lo e realmente usá-lo pela primeira vez. Não demonstre todo o seu entusiasmo soltando fogos. Ela precisa ver isso como uma conquista dela e não sua. Diga: “Você usou o penico como o papai e a mamãe fazem”.

A criança está pronta se…

-Consegue ficar sentada e concentrar-se numa tarefa.

– Já entende e executa um comando simples, como “pegue seu brinquedo no quarto”.

-Sabe dizer “não”. Quando puder defender sua vontade com palavras, será capaz de sentir que ficar sem fraldas é uma conquista dela.

-Começa a guardar as coisas nos lugares certos. Isso revela que está se aprontando para usar o penico como lugar certo de seus produtos.

-Imita o comportamento dos pais. Ela quer imitá-los, pressão para que o faça é desnecessária e prejudicial.

-Faz suas necessidades em horas previstas. É preciso cuidado, pois esse é um sinal que, quando isolado, pode levar a crer que a criança está pronta, quando pode não estar.

-A criança tem consciência do seu corpo e já tem palavras para definir seus órgãos sexuais e excrementos. Reclama quando está suja.

– Coloca seus bonecos para fazer xixi ou cocô. Esse sinal é talvez o mais importante, pois o faz-de-conta ajuda a dominar seus medos sobre seus produtos corporais.

– Coloca e tira peças de roupa sozinha, o que demonstra consciência do corpo e independência.

Mas, definitivamente, não está pronta se…

-Fica no penico e depois faz xixi no chão.

– Não quer que sua fralda seja tirada,
grita e se debate quando os pais tentam tirá-la.

-Faz cocô no chão.

-Senta sobre a fralda cheia de cocô, na maior alegria.

 -Se ela se esconde em um canto para fazer cocô na fralda, está dizendo “por favor, não me pressione”.

– Diz “não, não e não” se os pais comentam que parece pronta para fazer cocô.

Consultoria

Thomas Berry Brazelton, professor emérito de Pediatria da Harvard Medical School

e fundador da unidade de Desenvolvimento Infantil no Hospital da Criança de Boston.

Evelyn Pryzant, psicóloga.

José Martins Filho, pediatra.

Flávia Barbosa, educadora

Matéria originalmente publicada na edição 418 (em janeiro de 2005) da revista Pais & Filhos.


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