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Intercâmbio familiar

Imagem Intercâmbio familiar

Publicado em 02/07/2014, às 21h00 - Atualizado em 15/08/2018, às 08h03 por Ligia Pacheco


Estava na Finlândia pesquisando com uma delegação de educadores a teoria e a prática do mundialmente reconhecido sistema educacional finlandês. Já havia participado de seminários e visitado algumas escolas públicas do país, e me encantado com sua proposta educacional. (No FILHOsofar.blogspot.com, estou fazendo postagens que tratam do que vi, senti e aprendi nesta expedição).

Em Espoo, cidade próxima a capital Helsinki, fomos a SaunalahtiSchool, inaugurada em 2012, com um custo de 30 milhões de euros. Sua arquitetura transparente, leve, multifuncional, linda e repleta de metáforas deixou-me boquiaberta. Lembrei dos bilhões gastos com a Copa do Mundo e da situação de nossas escolas e sistema educacional. Sim, deu e dá vontade de chorar. Pois a Finlândia foi destruída com a guerra, tornou-se independente há menos de 100 anos, é um pontinho isolado no mapa, com um clima bastante cruel. E então olho para o nosso abençoado e diverso Brasil. Claro que um país com mais de 200 milhões de habitantes como o nosso fica tudo mais difícil. Para ter clara a diferença de desafio, a Finlândia tem um pouco mais de 5 milhões!

É fácil notar que países que acreditam no poder da educação de mundos e gentes tornam seus povos libertos, desenvolvidos e dignos. E essa ideia é facilmente fortalecida a cada geração. Podemos sim fazer a nossa parte, começando por nós e pelos nossos filhos. Mas, quem de nós já não teve esta inquietação de sair do país em busca de melhor qualidade de vida e de melhor formação aos filhos?

Em uma das salas de aula em que entrei nessa escola, encontrei Caio, 10 anos, um brasileiro já bem entrosado ao grupo e fluente em inglês e em finlandês. Na saída, conheci Diana Majuri, sua mãe, com quem troquei diversas mensagens por e-mail e whatsapp. Resolvi compartilhar com vocês o tema dessas conversas.

O que motivou Diana a sair do Brasil, há dois anos, foi a vontade de mostrar aos filhos (o Caio, que na época tinha 8 anos e Yakko, então com 13), que existia um outro mundo além do Brasil. Buscou um lugar em que pudessem ter uma educação de qualidade, que valorizasse a criatividade e conhecimentos que servissem à vida e não somente ao vestibular. Também achava difícil pregar valores em casa como respeito, educação, comprometimento, honestidade, confiança e confrontá-los com a realidade, com a corrupção, descaso, oportunismos, falta de segurança. Quem já não sentiu isso, levante a mão! Então decidiram juntos fazer um intercâmbio em família. Por que Finlândia?

O pai de Diana era finlandês. Na década de 50, veio ao Brasil em busca de novas oportunidades. Então Diana embarcou a família no caminho inverso. A Finlândia também é um país com um dos melhores ensinos do mundo, seguro, com pessoas sérias, honestas, disciplinadas, que respeitam os direitos de todos. Aliás, são diretos, objetivos e pouco afetivos, podendo até ser mal interpretados por nós como rudes.

Lá, tudo funciona, nada fica para depois, todos conhecem o seu papel e se envolvem no progresso das pessoas e do país. Diana conta vários exemplos de como isso está impregnado na sociedade. A qualquer problema que surja, do mais banal ao mais complexo, as pessoas fazem o que precisa ser feito. Têm autonomia e responsabilidade para tal, não sendo necessário um chefe, um dono, um supervisor. Tudo isto é fruto da educação. Lembrei imediatamente de um problema que estou com minha operadora telefônica. Nem preciso dizer quantos números de protocolos já coleciono, nem com quantas pessoas já falei nem a quantos dias espero a solução de um problema que não foi criado por mim. Educação… Que falta faz uma boa educação!

Perguntei-lhe como se dava na prática a educação dos filhos, como era viver em outra cultura, quais as dificuldades que encontravam para além da língua, quais as perdas e os ganhos. Diana reforçou o que eu havia ouvido nos seminários. No pós-guerra, uma das estratégias adotadas para a recuperação, valorização e desenvolvimento do país foi a educação, gratuita e igualitária a todos, independente de classe social, raça ou credo. A instituição educacional é muito valorizada e priorizada, estão continuamente em busca de melhorias para garantir o aprendizado e a participação do aluno e desde o início da década de 70, o grau de mestre é requisito mínimo para ser professor. Aliás, profissão que é uma das mais valorizadas e respeitadas no país.

Contou que quando a criança entra na escola, há reuniões com os pais, professores e com a presença da criança, onde são levantadas as necessidades para criar um projeto individualizado para ela, para não a deixar nem além nem aquém de suas capacidades. Para o aluno estrangeiro, há ainda classes especiais, materiais e provas adaptadas, aulas extras da língua oficial, além de aulas em sua língua mãe, tudo gratuito. Assim como o almoço, passeios, visitas a parques, museus, aulas de robótica, esportes, música, outras línguas. Tudo pago pelo município.Todos são comprometidos com o processo e resultado daquela criança. Ela própria participa dessa construção e assina um termo de responsabilidade.

Aliás, chamou-me a atenção como é levado a sério o papel do aluno. Não há barganhas, há desenvolvimento de responsabilidade e autonomia. Também é interessante, como os próprios alunos ajudam-se entre si, para amenizar as diferenças. Não se vê neles o espírito de competitividade, mas sim o de cooperação.

E apesar do clima difícil, de um inverno rigoroso com dias quase sem luz, as aulas não param. As crianças não ficam presas, pelo contrário: roupas adequadas e materiais apropriados fazem a vida continuar. Diana contou que são erguidas bolhas gigantes cobrindo os campos de futebol pelo país para que o esporte continue. Para lidar com o problema do escuro, roupas, equipamentos e até o cartão do ônibus tem refletor de luz. Segundo ela, a alegria é quando vem a neve, pois clareia os dias de escuridão. Bonita imagem e jeito de ver a dificuldade.

Dificuldade de adaptação

Mas se há muitos ganhos, há também dificuldades. Para quem sai de um país tropical, enfrentar a escuridão e o frio, não é fácil. Deixar família, amigos, cultura e recomeçar, é preciso coragem. Ser estrangeiro, buscar inserir-se num grupo já coeso e com limitações com a língua também requer determinação e vontade. Abrir mão de certos confortos e ter que colocar a mão na massa devido ao alto custo de mão de obra é difícil, mas pode ser bela aprendizagem. Enfim, em tudo há perdas e ganhos, e modos de ver.

Por fim, Diana deu algumas dicas gerias para ajudar a adaptação de uma família em outro país: primeiro, deve-se ter claro qual o propósito, as prioridades e o tempo de permanência no país. Então, deve-se conhecer a cultura e a língua. É bom saber de antemão com clareza como quer se posicionar na nova sociedade e fazer isso acontecer. Eles, por exemplo, participam de todos os eventos esportivos dos filhos, das reuniões escolares, fazem contatos com os vizinhos, participam de cursos de finlandês, de inglês, dos diversos programas oferecidos na cidade, aproveitam tudo para agilizar a adaptação, conhecerem pessoas e aprenderem da nova cultura.

Concluo que, sair do país ou ficar nele, requer consciência, projeto e coragem. E independente da escolha, chamo a atenção do leitor ao poder da educação e como ela é central para os filhos. Sempre bom manter olhos abertos e saber qual a nossa parte nesta seara.

Obrigada, Diana, pela rica troca. Torcendo por vocês, aqui ou aí. Até sempre.


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