Colunas / De olho no cotidiano

Por que ler “a parte que falta” e “a parte que falta encontra o grande O”?

iStock
iStock

Publicado em 16/03/2018, às 12h32 - Atualizado em 17/03/2018, às 08h50 por Ligia Pacheco


“A parte que falta” e “A Parte que falta encontra o grande O”, ambos de Shel Silverstein, são livros infanto-juvenis (e para toda a idade) que tocam, pois tratam da natureza humana, da nossa incompletude e da nossa busca por plenitude, chamando-nos ao autoconhecimento. É de se supor que pais que tenham esta preocupação favoreçam maiores oportunidades aos filhos de se autoconhecerem também, o que é fundamental ao seu pleno desenvolvimento como apregoam tantas pesquisas. Além disso, são livros que chamam ao diálogo e trazem várias questões que podem ser trabalhadas de acordo com a idade do filho. Ajuda ainda a perceber a compreensão da criança para a mensagem, identificar as suas “faltas”, ajudá-la a lidar com elas, perceber como estão suas habilidades sócio-emocionais entre outras, além de muitas vezes nos surpreender com suas deliciosas interpretações, que mostram bem que o menos é mais. Ai as crianças! Como ensinam! Mas voltemos aos pais.

“A parte que falta” foi primeiramente lançado em 1976, mas inquietou a muitos, graças à Companhia das Letrinhas que o relançou este ano e ao vídeo cheio de vida da youtuber Jout Jout. Ouvi jovens, adultos, crianças comentando o livro aparentemente simples no texto e nos desenhos. Como se o autor não quisesse nos distrair com detalhes, mas sim nos fazer rolar junto com a personagem, que afinal rola para dentro de si e nos leva junto, fazendo brotar indagações de autoconhecimento na revelação enigmática da mensagem. Nele, a personagem é como uma pizza faltando um pedaço que rola em busca desta parte que falta. Interage com o meio, aprecia o entorno e até elege alegrias, enquanto tenta ajustar-se às partes que parecem ser a parte que falta. Mas elas sobram, faltam, sufocam, quebram, limitam, não encaixam. E, quando parece ter encontrado a parte perfeita, a “pizza” plena passa a sentir falta da vida, de seu ser e da sua falta. Então, coloca com cuidado a parte no chão e segue a rolar em busca da parte que lhe falta. Não, não tem um final feliz. E, talvez por isso, fiquem a ecoar em nós as tantas  perguntas: Falta em mim? O que falta? Por que falta? Como falta? Deve faltar? Fico com a sensação de que a falta nos move e nos faz avançar. Mas, até que ponto nos falta o que cremos faltar?

Perguntas que nos levam, também, ao autoconhecimento na relação com os filhos. Escuto mães dizendo: “Meu filho é minha vida!” “Meu filho deu sentido à minha vida.” “Meu filho me completa!” É bonito, mas será saudável e justo fazer do filho a parte que nos falta e moldá-lo para tal? Será que o meu filho quer ser a parte que me falta e me completa? Ou será melhor que ele seja inteiro? E eu?

E é esta a reflexão, ser parte ou inteiro, que me tocou em “A parte que falta encontra o grande O.”, lançado em 1984. Afinal, a ideia do outro ou de algo a nos completar é mais antiga que Cristo e está incorporada em nós pela cultura. Aprendemos a buscar a nossa metade, a achar a tampa da nossa panela, a fazer do filho uma parte de nós ou o todo de nós. E o livro trata bem esta questão: a ideia da união de inteiros e não de metades. Acho que vale pensar.

Neste, é a parte que sente a falta e na sua busca encontra a “pizza”, agora um círculo completo. A parte crê que encontrou o seu complemento e quer rolar com o círculo. Mas este a nega pois já se encontra completo. Sugere, então, num diálogo cru(el) e de impacto, que o pedaço role sozinho. E assim a parte segue, aos trancos e barrancos, arredondando suas arestas com esforço e determinação, até que rola por si, tornando-se livre para rolar junto sem precisar rolar com. E assim seguem ambos inteiros rolando juntos num final bem mais feliz.

Resumindo em uma palavra, eu diria que um livro é PIECE e o outro PEACE. O primeiro trata de PIECE (pedaço), e nos faz refletir o que falta, seja em relação a nós, aos filhos, a outros, a objetos, a desejos diversos. Já o segundo, remete-nos a PEACE (paz), estado que nos permite sentir a completude, ainda que nos falte, mas que nos faz cientes de que cabe a nós completarmo-nos. Creio que só assim poderemos em todos os nossos papéis rolar junto sem precisar rolar com, o que propicia relações mais saudáveis e de desenvolvimentos. E creio que só assim poderemos ajudar nossos filhos em suas faltas e completudes: rolando e ensinando a rolar junto, sem rolar com. Assim senti. Assim, percebi.

Dito tudo isso, como explorar estes livros com a criança ou adolescente? Leia, escute, indague, leve seu filho a pensar sobre o livro, sobre si e sobre o que pensa, sente e age. Reflitam: O que é a parte? O que falta? O que está por trás da falta? Traga exemplos do seu cotidiano como a falta daquele celular, tênis ou jogo que todo mundo tem menos ele. Ou faça uma analogia com os amores, amigos, manias. Como eles completam? Por que completam? Deveriam? E deixem fluir perguntas e respostas que lhe tragam informações importantes para ajudar o seu filho a constituir-se por inteiro.

No blog FILHOsofar, trago sugestões e cuidados fundamentados no desenvolvimento da criança e do adolescente para proporcionar ao seu filho uma rica experiência de leitura e autoconhecimento com a ajuda dos livros infanto-juventis.

http://filhosofar.blogspot.com.br/2018/03/213-como-transformar-uma-historia_16.html

Role até lá, leia, palpite, inscreva-se! E, boas leituras!

Leia também:

Itaú lança documentário para incentivar as crianças à leitura

Você sabe qual tipo de leitura indicado para o seu filho?

Hora da leitura! 18 opções de livros para ler para bebês


Palavras-chave

Leia também

Imagem Mãe que procurava bebê gêmea diz que filha foi encontrada m0rta nas enchentes do RS

Família

Mãe que procurava bebê gêmea diz que filha foi encontrada m0rta nas enchentes do RS

Nadja Haddad - (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Família

M0rre filho recém-nascido da apresentadora Nadja Haddad: "Deus o recolheu e o poupou da dor"

Mensagens e frases para o Dia das Mães

Especiais / Dia das mães

Dia das Mães: mensagens, frases e legendas especiais para emocionar

Monatagem Endrick e Lara - Foto: Reprodução/ Instagram

Família

Pressão familiar fez Endrick terminar o seu primeiro namoro

Kimberlly e Neymar - (Foto: Reprodução/Instagram)

Família

Mãe do 3° filho de Neymar recebe presente de Dia das mães da família do jogador

Foto: Reprodução/Instagram

Família

Bebê de 2 meses é resgatado no RS por motociclista: "Achei que era um brinquedo de tão pequeno"

Rafa Kalimann - (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Família

Rafa Kalimann conta que perdeu bebê após abort0 espontâneo: "Essa dor não é normal"

(Foto: Silvio Avila/AFP)

Família

Doações para o Rio Grande do Sul: veja onde e como doar às vítimas de forma segura