Família

Não é o fim

Imagem Não é o fim

Publicado em 07/07/2014, às 14h23 - Atualizado em 26/06/2015, às 08h51 por Redação Pais&Filhos


Em um jardim de gramado verdinho, um casal – com dois filhos lindos e um cachorro brincalhão, claro – toma café da manhã em um domingo ensolarado. Por mais gasta que essa imagem possa parecer aos olhos dos nossos tempos, quando nos casamos e decidimos compor família a ideia que nos passa pela cabeça em geral não é tão distante dessa. Mas casamentos às vezes acabam. E, muitas vezes, acabam antes de terminar. Pois é, parece incoerente, mas, se as brigas passaram dos limites ou a indiferença tomou conta da casa, acabou. Mesmo sem ter terminado oficialmente.

Para nós, pais, a separação geralmente causa culpa. Tudo passa pela cabeça, inclusive que estamos desmanchando a família e os planos feitos lá atrás. Mas adiá-la pode ser pior. Sim:  o sofrimento da criança pela perda da família é grande, mas ela sofre também ao testemunhar ou intuir os atritos entre os pais. “Em geral, os casais pensam que a separação vai produzir uma perda, e vão levando um casamento em condições muito difíceis. O que eles não percebem é que nesse momento uma outra perda já está acontecendo, que é a do desmantelamento conjugal”, diz a psicanalista Ana Laura Giongo, mãe de Anita e Marina.

Quando decidiu se separar, há cinco anos, Simone Boletta não tinha mais um casamento. Moravam na mesma casa, no bairro paulistano da Mooca, ela, a filha Juliana e o ex-marido. Simone, no entanto, dormia no quarto da filha. “A gente só dividia a casa e as contas, mas éramos dois estranhos”, conta. “A Juliana não era muito de falar, mas a gente sabe que filho sofre com esse tipo de coisa.” Entre o casamento acabar e terminar de fato, se passou quase um ano, em que nenhum dos dois conseguia seguir em frente. Até que chegou o momento do basta. Antes de mais nada, Simone falou com Juliana. “Acho que o fato de a conversa ter sido sempre muito aberta contribuiu para que ela passasse por esse processo de uma forma relativamente tranquila.”

Efeitos colaterais
Durante o processo do divórcio, é importante deixar claro para a criança que a decisão não diz respeito ao amor que pai e mãe sentem pelo filho. “Sempre é importante reforçar que o pai continua sendo o pai, e a mãe continua sendo a mãe, e nenhum tipo de rejeição está acontecendo em relação à criança”, diz a psicóloga especializada em educação infantil e terapia de família Andrea Bellingal, mãe de Hannah e John Lucas.

Nessa hora, aliás, é fundamental que pai e mãe não se deixem cair em armadilhas, na ânsia de tentar compensar a criança pela perda da família. “É frequente que, por culpa da separação, os pais deixem de exercer suas funções de pai e mãe – não impõem limites, toleram maus comportamentos, tentam apagar os sofrimentos dando presentes e brinquedos ”, explica Ana Laura.

O desacordo entre os pais a respeito de aspectos básicos na vida e na rotina dos filhos também pode trazer consequências ruins. Segundo Ana Laura, não é incomum que essas crianças aprendam a manipular regras. “Na infância pode ser que isso não seja especialmente problemático, mas, ao chegar na idade adulta, pode ser que a pessoa não tenha aprendido a lidar com limites onde não há escolha a não ser respeitá-los.” O resultado, por exemplo, é um adulto que repete padrões de desistência – empolga-se facilmente com novos projetos, mas desiste deles com a mesma facilidade.

Por isso, quaisquer que sejam as desavenças entre você e seu ex-parceiro, entre pai e mãe, guardá-las entre vocês dois é o melhor. “A separação é um jogo entre os  adultos”, ressalta Andrea. “O maior erro que os pais podem cometer é usar a criança para atingir um ao outro – ela deve ficar fora do conflito”, diz.

Tudo nas costas de um
Às vezes acontece de um dos dois – frequentemente a mãe – se sentir carregando o piano. É aquela sensação de estar sobrecarregada: arruma para a escola, dá almoço e jantar, manda fazer lição de casa, manda para o banho, dá bronca quando precisa… Aí, quando chega o final de semana do outro, é só alegria: passear no parque, levar ao cinema, jogar videogame. A mãe ou o pai que lida com o dia a dia sem a ajuda do outro pode se sentir injustiçado. Reverter essa situação requer uma mudança de postura e, às vezes, de perspectiva.

“A dinâmica com o filho após a separação em geral reproduz a relação que havia até então. Muitas vezes uma pessoa se separa da outra por se incomodar com a postura em relação ao filho e espera que, após o divórcio, essa postura mude”, comenta Ana Laura. Segundo ela, pais que dividem tarefas antes da separação, em geral, continuam assim depois que ela acontece. Mas a psicanalista alerta: “Forçar a barra de alguém que não está disponível pode ser muito ruim para a criança, gera um sentimento de rejeição”. Ana Laura pondera que há pais que não têm muito mais do que o final de semana para dar – e isso não quer dizer que eles não possam estabelecer uma relação significativa com a criança. “O pai  pode ser desligado do dia a dia, mas, quando leva a criança para seu universo, fornece referências simbólicas importantes”, diz.

Redescobrimentos
No final de um casamento, quando o afeto está desgastado e o amor já acabou, é bastante comum que a autoestima dos dois esteja em estado de calamidade. A escritora Sofia Fada, mãe de João, conta que, entre saber que precisava terminar o casamento e se separar de fato, transcorreu-se um ano inteiro. “O casamento foi conturbado, eu acabei me afastando um pouco das minhas amigas, e fiquei mal comigo mesma. Aquele foi um ano de retomada de autoestima”, diz. Algum tempo depois de terminado o casamento, Sofia conheceu seu atual marido, de quem ela agora espera o segundo filho – muito aguardado por João, que hoje tem 12 anos.

Segundo Ana Laura, essas novas configurações, mais felizes e gratificantes do que as anteriores, têm efeitos muito positivos para os filhos. Primeiro porque, quando os pais estão mutuamente envolvidos, e não apenas com a criança, ela deixa de ocupar a posição de “reizinho”, percebe que não é o centro único da vida deles. Além disso, a maneira como o companheiro percebe e se comporta em relação ao pai ou à mãe da criança afeta a forma como ela os percebe. “Quando os casais se reconstituem e o pai, por exemplo, encontra outra pessoa que se apaixone por ele, a criança vê que ele não é só aquilo que a mãe via”, diz.

Arthur Siqueira Jorge Neto passou por uma separação bastante traumática. A mãe de sua filha, Ana Beatriz, hoje com 10 anos, chegou a impedir que o pai a visse enquanto corria o processo da separação, durante quarenta dias, quando a menina tinha apenas 1 ano. Em desespero, ele chegou a cogitar pedir uma ordem judicial para buscar a menina na casa da mãe, mas, aconselhado por uma amiga psicóloga, desistiu da ideia pelos possíveis traumas que a ocasião poderia deixar na menina. Depois de nove anos e de muitas sessões de terapia, Arthur está agora em um casamento feliz – coisa que acredita tê-lo ajudado a manter uma relação saudável com a filha. “É muito legal, porque elas são amigas, e a Ana chega a trocar confidências com a Mariana”, relata. “Minha filha é muito família, e torço muito, sem demagogia, para que a mãe dela encontre alguém e seja feliz, porque a melhor situação é aquela em que todo mundo está feliz.”

Separação e felicidade não são conceitos antagônicos. Mas é a longo prazo que eles se tornarão harmônicos. Inclusive para as crianças.

O QUE É ALIENAÇÃO PARENTAL?
A lei federal 12.318/2010 assegura à criança ou adolescente e ao pai ou mãe a garantia do direito às visitas, a não ser nos casos em que há risco para a integridade física ou psicológica do filho, o que deve ser constatado por um profissional designado pelo juiz. A alienação parental acontece quando quem ficou com a guarda desqualifica sistematicamente o outro diante da criança, dificulta que exerça o papel de pai ou mãe, omite de propósito informações importantes sobre a vida da criança, muda-se para um lugar distante para dificultar a convivência ou ainda faz acusações falsas ao ex ou a sua família, para tentar manter o filho longe. Caso isso aconteça, quem estiver sendo lesado pode entrar com uma ação.

A ARTE IMITA A VIDA –Livros infantis que falam do assunto

Mamãe é grande como uma torre, de Brigitte Schär
A protagonista do livro tem uma mãe do tamanho de uma torre – ou da falta que ela faz – e um pai do tamanho de uma caixa de sapatos.
Cosac Naify, R$ 49
editora.cosacnaify.com.br

Duas casas e uma mochila, de Sonia Mendes
O livro conta a história de Clara, uma menina que vive a separação de seus pais e fica dividida entre as casas dos dois.
Editora Mar de Ideias, R$ 21,50
mardeideias.com.br

Quando os pais se separam, de Emily Menendez Aponte
A autora, ela mesma filha de pais separados, aborda o fato de que os filhos não são culpados pela separação.
Girassol, R$ 19
girassolbrasilcom.br 


Leia também

Imagem Nomes femininos raros: veja opções chiques e únicas para meninas

Bebês

Nomes femininos raros: veja opções chiques e únicas para meninas

Pai de Davi - (Foto: Reprodução/Instagram)

Família

Pai de Davi não concorda com posição do filho e decide ir morar com Mani

Imagem Pai de Henry Borel comemora nascimento de filha três anos após tragédia

Família

Pai de Henry Borel comemora nascimento de filha três anos após tragédia

Se você procura um nome de menina, aqui estão 180 ideias diferentes - Pexels/Moose Photos

Bebês

180 nomes femininos diferentes: ideias de A a Z para você chamar a sua filha

Viih Tube fala sobre segundo e terceiro filhos - (Foto: Reprodução/Instagram)

Família

Viih Tube revela gravidez de segundo e adoção de terceiro filhos com Eliezer

De A a Z: confira os nomes femininos americanos para te inspirar - Getty Images

Bebês

Nomes americanos femininos: mais de 1000 opções diferentes para você se inspirar

Virginia Fonseca - (Foto: Reprodução/Instagram)

Família

Virginia Fonseca toma atitude após Maria Alice empurrar Maria Flor: “Dói mais na gente”

Os nomes japoneses femininos são lindos, fortes e possuem significados encantadores - Getty Images

Bebês

Nomes japoneses femininos: 304 opções lindas para você conhecer