Gravidez

O parto é da mulher, não do médico

Imagem O parto é da mulher, não do médico

Publicado em 10/07/2013, às 20h15 - Atualizado em 18/06/2015, às 14h22 por Redação Pais&Filhos


O parto é da mulher. Não do médico. Meu coração insistia em repetir isso para mim, e passei a minha segunda gravidez quase toda sufocando um grito interno que tentava me dizer que o meu parto, com aquele médico, não seria meu.

Começou pouco antes de eu engravidar. Eu não queria ter que correr atrás de obstetra já grávida (a vida e suas ironias), então decidi que faria tudo bem planejadinho desta vez. O médico que fez minha primeira filha nascer estava fora de questão: os valores de consulta e parto tinham tornado-se inviáveis e no fim das contas ela havia nascido de cesárea.

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Mães de cesárea: por que é tão difícil ter parto normal no Brasil 

Desta vez, eu estava decidida a encontrar um médico a favor do parto normal que não cobrasse o preço de um carro pelo parto. Enquanto isso, filosofava sobre o quanto é maluco viver numa sociedade em que um parto normal seja sinônimo de gastar fortunas (não deveria ser o contrário, com a cesárea, intervenção cirúrgica que é, sendo a opção dispendiosa?)

Peguei o livrinho do convênio. Quanto mais eu refletia sobre o assunto, mais determinada eu ficava: ia encontrar um bom médico conveniado. Pagar o convênio e ainda ter que ir atrás de médicos de fora estava além da minha capacidade de aceitação naquele momento de revolta contra o sistema. Listei nomes e telefones do meu bairro e dos bairros próximos.

Comecei a ligar. A primeira pergunta que eu fazia para a secretária era: ele faz parto normal? Pasme: muitas respondiam que não. “Olha, é difícil, viu?”. “Ah, nunca vi não…”. É difícil acreditar, mas foi assim mesmo. Até que em um dos consultórios, a resposta foi rápida e firme: “Faz sim!”. Ótimo! Era perto de casa. Fui na consulta. Tudo ok. Sabe médico que cumpre o protocolo? Esse era assim. Não ia virar meu melhor amigo, não seriam consultas de ficar batendo papo e filosofando sobre o milagre de parir, mas ia dar tudo certo e ele parecia competente e confiável.

Assim passaram-se os meses. Cada consulta era o checklist: “Tá sentindo isso? Tá sentindo aquilo? Tudo bem? Tudo em ordem?” Ok, ok, ok. Como a gravidez ia superbem, obrigada, não houve muito com o que me preocupar. Até que chegou a 36ª semana. Em casa, eu já estava terminando de lavar todas as roupinhas e arrumá-las no quarto.  Boa parte da mala da maternidade já estava pronta. Tudo preparado.

Fui fazer o ultrassom de rotina: peso estimado de 3,4kg. Ela sempre tinha estado no percentil 95, era um bebê grande desde o início da gravidez. Mas agora tinha saído da curva. Apesar de grande, estava tudo bem:  líquido normal, placenta, doppler. Cheguei à consulta. O médico mal me cumprimentou e já foi disparando, em tom de acusação, que já estava sabendo do tamanho dela. Como se 1) ela fosse grande por culpa minha e eu tivesse feito algo de muito errado e 2) ela ser grande fosse algo ruim. E o discurso absurdo começou.

Faca, com certeza

Disse que isso significava, sim, que eu teria que fazer uma cesárea. “Mas com certeza?”, perguntei. “Muito provavelmente”, ele respondeu, com desdém. Mas eu não iria desistir tão fácil. “E se eu entrar em trabalho de parto na semana que vem, o que vai acontecer? Você não vai deixar nascer pelas vias normais, vai fazer cesárea?”. “Veja bem”, respondeu ele. E começou uma explicação bizarra afirmando que não só o parto normal seria perigoso para mim, mas a cesárea também, porque bebê grande precisava de corte grande, e corte grande podia atingir artérias uterinas.

 Essa eu nunca tinha ouvido: um bebê de 3,4 kg significar tanto risco para a mãe. Além disso, qual era o objetivo daquele discurso, a não ser me aterrorizar? Afinal, afirmar para a mãe que qualquer tipo de parto será um problema para ela é puro terrorismo. Infundado, aliás, em se tratando de um bebê perfeitamente saudável.

Você tem passagem? Eu tenho

Mas não parou por aí. Para completar o cenário de terror, resolveu usar de exemplo do perigo que eu corria um bebê com hidrocefalia que ele havia feito nascer recentemente. Espera. Hidrocefalia? Mas a minha bebê é normal! O que uma coisa tem a ver com a outra? Tudo errado. Estava tudo errado.  A cereja do bolo foi quando ele soltou que não poderia passar nem 1 dia da semana 40 porque havia marcado uma viagem.

Saí do consultório aos prantos. O meu parto nunca tinha sido tão pouco meu. Ele estava escorrendo como areia pelos meus dedos. Tudo o que eu havia sentido durante toda a gravidez; toda a crença que fui construindo dentro de mim de que seria capaz de parir, de que meu corpo iria agir desta vez, de que tudo ia funcionar, o leite ia descer rápido, eu iria estar bem-disposta no pós-parto para cuidar das minhas duas filhas… tudo estava acontecendo ao contrário. Estava nas mãos de um médico que ia contra tudo o que eu vinha buscando até ali. A sensação de impotência de uma mãe com relação às crias mexe com instintos que nem sabemos que existem, e eu virei leoa.

Grito de independência

Respirei fundo. Aquela era a hora de me render às circunstâncias ou dar um grito de liberdade – e coragem. Aos quase 9 meses de gravidez, eu não sabia nem se era possível começar com um novo médico. Mas resolvi que tinha que tentar. Eu tinha certeza de que iria me arrepender profundamente, e para sempre, se não fizesse nada. E que teria um parto traumatizante.

Saí pedindo recomendações. Lembrei de uma comunidade de mães em que haviam falado muito bem de uma médica. Em 24 horas, eu estava no consultório dela. Nos primeiros 5 minutos conversei com ela sobre pontos que eu não havia sentido liberdade pra conversar com o outro médico em meses. Em 24 horas eu encontrei a médica que não encontrei com toda a pesquisa que fiz pré-gravidez. Quando me dei conta, ela estava de cócoras, no chão, me mostrando posições que facilitariam o trabalho de parto. Saí de lá com o telefone de uma enfermeira obstétrica que poderia acompanhar o trabalho de parto e o parto em si, ajudando a dar de mamar na própria sala – mesmo em caso de cesárea – outra luta que eu já havia perdido com o outro médico, que só fez torcer o nariz quando toquei no assunto. Mas principalmente, eu saí de lá com o coração leve, leve daquele jeito que a gente só sente quando de repente uma porta se abre diante de nós, e constatamos o quanto estávamos realmente presos. 

Coincidência ou não, o ritmo de crescimento da Alice diminuiu de forma inacreditável depois da troca de médicos. Ela continuou crescendo, mas mais devagar, voltando para a curva a cada semana. Está no percentil 90 agora. Posso continuar tentando meu parto normal, mas pode ser que eu acabe tendo uma cesárea.

Estou chegando perto da semana 40, e ela continua um bebê bem grande. Se eu não entrar em trabalho de parto naturalmente, e por não poder mais induzir, pode chegar a hora de tomar essa decisão. Mas eu saberei que a minha vontade foi respeitada. Que não me abriram sem necessidade. Que respeitaram o meu desejo de esperar até onde fosse possível.

Cesárea humanizada

Se for cesárea, será uma cesárea humanizada, com luzes diminuídas, com bebê no meu colo, com mamada ao nascer. Porque o melhor médico é aquele que tem sensibilidade e respeito. Que indica o que é melhor para mãe e bebê: na maioria das vezes é um parto normal, mas pode ser cesárea. E não, nunca, querer fazer o que é melhor para ele. Todo meu respeito aos médicos e ao seu conhecimento. São eles que salvam muitas mães e bebês diariamente. Mas gravidezes saudáveis pertencem às mães. O parto é nosso, e precisamos recuperá-lo.  


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