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A escola do seu filho é muito mais do que escolher o lugar certo

Imagem A escola do seu filho é muito mais do que escolher o lugar certo

Publicado em 03/08/2012, às 07h00 por Redação Pais&Filhos


por Samantha Melo, filha de Sandra e Tião

Márcia Brigatto, mãe de Nathalia, por pouco não perdeu o ótimo cargo de engenheira química numa grande empresa. O motivo? A culpa. Depois de um ano de licença-maternidade e sem poder contar com a ajuda de avós e babás, ela teve de recorrer a uma escola.

Matriculou a filha numa instituição indicada pela chefe e se preparou para voltar ao trabalho. Nas primeiras semanas, Nathalia ficou bem, deixando o coração da mãe apertado de saudade. No segundo mês, a filha começou a chorar na hora da separação. No terceiro, Márcia não conseguia mais dormir de tanta preocupação. Resultado: faltas no trabalho, choros contidos durante o expediente e falta de concentração.

A solução encontrada foi oferecida pela vizinha, que tomou conta de Nathalia por seis meses, quando a criança entrou em outra escola. “Até hoje penso se não deveria ter deixado de trabalhar, para ficar mais tempo com ela, mesmo não podendo arcar com as despesas”, desabafa.

Mesmo sabendo que as crianças irão para a escola mais cedo ou mais tarde, dá uma angústia, não tem jeito. Nada nos prepara para a primeira grande separação dos nossos filhos, e por consequência, as próprias crianças também não são preparadas. Isso é normal – você não é a primeira nem a última mãe que vai sofrer com a entrada dos filhos na escola e se sentir culpada por isso.

Já passa do meio do ano, e se você pensa em colocar seu filho na escola em 2013, essa é a hora de começar a se mexer. Conversamos com especialistas para entender por que esse momento é tão difícil e como lidar com a situação. Mas a gente avisa desde já: não tem por que se culpar. Contar com a ajuda da escola é o melhor que podemos fazer por nossos filhos.

Rompimentos e vínculos

Seu filho passou nove meses dentro do útero, tranquilo, se alimentando através do cordão umbilical e sem se preocupar com nada. Não é difícil entender por que, quando o bebê nasce, não tem a percepção do próprio corpo e nem a noção de que não é a mesma pessoa que a mãe. “A criança se sente fundida ao corpo da mãe: suas mãozinhas são as mãos da sua mãe, assim como o restante de seu corpo”, explica a psicóloga Elizabeth Monteiro, mãe de Gabriela, Samuel, Tarsila e Francisco.

Por isso, embora a primeira separação efetiva entre você e ele seja o corte do cordão umbilical, é apenas por volta dos 6 meses de idade que ele realmente percebe que o seu corpo não está ligado ao da mãe, e começa a percebê-la como uma figura diferente da sua.
Por volta dos 8 meses, a criança começa a sofrer por medo da separação. Ela não entende que a mãe vai e volta. Isso é chamado de “angústia da separação”. O primeiro sinal de independência infantil acontece quando ela é capaz de dormir sozinha a noite inteira, e isso varia de criança para criança, pois só funciona quando ela entende que a mãe vai voltar.

Muitas vezes, a entrada na escola é a primeira vez em que mãe e filho são separados por uma grande distância física e por mais de duas horas. Por isso, é absolutamente normal que ele estranhe, chore e demore um pouco para se adaptar. “Apesar dos avós, dos dois lados, insistirem para ficar com meu filho, nunca consegui deixá-lo sozinho na casa deles por mais de uma hora. Quando ele começou a frequentar a escola, com 3 anos, percebi que esse grude comigo prejudicou a adaptação no começo”, conta a assistente administrativa Lara Pereira Luis, mãe de Miguel.  

“Apesar desses rompimentos superficiais dos primeiros anos, a criança não faz uma separação muito clara; ela continua pensando que se ela sente fome, por exemplo, a mãe saberá automaticamente e estará lá para alimentá-la”, aponta a psicóloga familiar Lidia Aratangy, mãe de Cláudia, Silvia, Ucha e Sérgio.
E não é só o seu bebê que sofre com essa separação. Não mesmo! Na verdade, às vezes é pior para a gente do que para eles. Ou você está achando que não vai sair correndo do trabalho para buscá-lo na escolinha o mais rápido possível? Esse grude todo desde o nascimento dá a sensação que a criança faz parte da gente – e pensar em outras pessoas cuidando dela, mesmo as pedagogas capacitadas da escola, dá uma angústia muito grande. “A mãe também se torna dependente da criança, a ponto de não conseguir fazer nada sem estar minimamente conectada ao filho”, completa Lidia.

Importância da separação

Vai doer, sim. Não tem jeito e nem vamos mentir pra você. Mas esse rompimento não só é importante, como necessário. Por isso, pequenos “exercícios” de separação, como deixar o seu filho passar uma tarde com a madrinha ou dormir na casa da avó, são boas estratégias para ele ir se acostumando – e você também.

“Meu primeiro filho nunca ficou a mais de 3 metros de mim até os 4 anos. Já a Valentina, por conta do trabalho, conviveu muito com as avós e tias. Só percebi como isso influenciou no comportamento deles ao ver as diferentes reações quando os mandei para um acampamento de férias”, conta a empresária Thais Freire.

A separação da mãe é importante para o processo de individuação, como chamam os psicólogos. A criança só começa realmente a se formar como indivíduo quando tem que fazer escolhas, tomar decisões e, até certo ponto, cuidar de si mesma. É por isso que a escola é tão importante: ela não só permite que seu filho comece a criar independência, como o coloca em contato com quem é diferente dele, ajudando-o a categorizar “gosto” e “não gosto”.

Além disso, é na escola que, pela primeira vez, a criança precisa aprender as regras de convivência. É a sua entrada no universo sociocultural. Claro que isso foi iniciado na família, mas se fortalece no ambiente escolar, onde a criança não terá privilégios e será tratada como todas as outras. Procure incentivar que ela estenda o comportamento aprendido em casa também.

É exatamente por isso que a escola escolhida deve acreditar nos valores que você quer que seu filho aprenda.

Culpa da mãe

A professora universitária Ana Luiza deixou o filho Ryan na escola, pela primeira vez, quando ele completou 6 meses. Ele chorou. E ela chorou junto. “Não conseguia acreditar que eu estava deixando meu bebê, que mal tinha nascido, nas mãos de estranhos. Foi desesperador, tudo o que eu queria era uma licença-maternidade maior.”

A culpa é um dos principais motivos que levam a maioria das mães sofrerem mais com a separação do que as próprias crianças. É aquela sensação de que estamos abandonando nossos filhos e deixando de cuidar direito deles. É tanta angústia, que não importa qual seja a reação das crianças, a gente se tortura o resto do dia.

Márcia, a mãe da Nathália, lá do começo da matéria, confessa que não sabe quando se sentiu pior: quando a filha chorou, ou quando foi para o colo da professora sem nem olhar para trás. “Nas duas situações, eu senti que não estava fazendo bem meu papel de mãe”.
 Mesmo quando as mães colocam os filhos apenas mais tarde na escola, a culpa aparece. Isso porque elas sentem que a criança está crescendo rápido demais, e que seu papel já não é mais tão importante como antes. Não importa o momento, as separações são sempre dolorosas, e não é preciso se sentir culpada por isso.     

Elizabeth acredita que parte dessa culpa é cultural. Como as mães são as pessoas que mais ficam com as crianças, elas exercem um enorme poder em seu desenvolvimento e, consequentemente, sentem culpa por aquilo que acham que não está perfeito.
Por conta da culpa, muitas mães prejudicam o desenvolvimento dos filhos, não só desconfiando da escola e fazendo marcação cerrada, como também perdendo a autoridade em casa e tentando compensar o “abandono” de alguma forma.

Mãe também é gente e, portanto, erra. E erra muito, como todo mundo que tenta muito acertar. Mas colocar seu filho na escola, não importa a idade, não é e nunca será um erro, e sim, um acerto e um processo natural. Ele chorou? Seja firme e vá embora. Ele adorou? Não demonstre a sua tristeza e curta muito quando estiver com ele.

A escolha e a preparação

O processo de escolher a escola não é simples e nem rápido, e nem deveria ser mesmo. É um momento super importante e você precisa se dedicar a ele. O futuro do seu filho dependerá, em grande parte, da escola, e por isso, ela precisa reunir todas as qualidades que você acredita serem necessárias. “A tarefa fica ainda mais árdua porque, muitas vezes, esse futuro pode ser bem distante, afinal, há escolas que oferecem desde o maternal até o pré-vestibular”, diz a psicopedagoda Maria Irene Maluf, mãe de Maria Fernanda e Maria Paula.  

Os especialistas apontam que o melhor momento para a criança entrar na escola é aos 3 anos, quando ela tem necessidade de se desenvolver socialmente e um determinado nível de amadurecimento psíquico. “Mas essa é uma questão individual. Às vezes, os pais até têm alternativas, como deixar com uma babá ou uma avó, mas se for para a criança ficar o dia todo em frente à TV, por exemplo, a melhor alternativa é a escola”, diz Elizabeth.

Sabendo o que você procura e fazendo uma boa pesquisa, é possível encontrar um colégio adequado para o seu filho. O grande desafio é equilibrar a expectativa da família com o que a escola pode oferecer – é bom você se conformar, desde já, que nenhuma delas vai corresponder 100% às suas expectativas.  O importante é que a linha pedagógica e de pensamento do colégio esteja alinhada com a da família.

Antes de tudo, você precisa pensar se está preparada para isso. Se ainda não for a hora para o seu filho e para você, nenhuma escola irá te encantar.  “Muitas vezes, a necessidade acaba acelerando as coisas, mas a mãe precisa aceitar a situação antes de começar a procura”, afirma a psicopedagoga Quézia Bombonatto, mãe de Rodrigo.

O segundo passo é se perguntar como você sempre imaginou que seria a escola do seu filho. Grande, pequena, tradicional, liberal… E esse seu sonho combina com a personalidade do seu filho? “Estudei a vida inteira num colégio enorme e tradicional de Salvador e isso me ajudou muito na hora do vestibular. Coloquei minha filha na mesma escola, mas ela odiou e quase entrou em depressão”, conta a enfermeira Mariana Nero. Da mesma forma, nem sempre um colégio em que o irmão mais velho estuda serve para o mais novo.

Depois de chegar a uma lista de requisitos, selecione de três a cinco escolas para visitar. Então, conte para a criança que ela poderá ajudar na escolha. “Quando elas se sentem participantes, o medo do que está por vir diminui consideravelmente”, ensina Quézia.

Verifique se as escolas da lista promovem visitas e agende com elas. Há colégios que, enquanto os pais conhecem o local e conversam com os coordenadores, realizam atividades com as crianças. Esse é um excelente modo de sentir um pouco como a escola funciona. Faça quantas perguntas achar necessário, conheça cada cantinho, observe de longe as crianças e professores, e se não se sentir segura, volte a visitar a escola. Só tome a decisão quando tiver confiança na escolha. Mas, claro, se depois perceber que não foi o melhor caminho, sempre dá para voltar à listinha e começar uma nova busca.

10 coisas que você não pode deixar de avaliar na hora de escolher a escola

1. Distância
Os horários de entrada e saída podem render algumas horas no trânsito. Além disso, em casos de emergência, você vai agradecer por estar por perto!

2. Linha pedagógica
Tradicional, Construtivista, Sócio-construtivista… Escolha a que combina com a sua família e que traduz os valores em que você acredita.

3.Custo
Não é só o preço da mensalidade que você precisa calcular: há o material escolar, o transporte, o lanche, o uniforme, os passeios, a matrícula…

4.Infra-estrutura
Preste atenção na higiene, nos recursos (áreas verdes, biblioteca) e nos aspectos humanos (alunos por turma, auxiliares).

5. Atividades extracurriculares
Muitas escolas oferecem atividades como judô, balé, teatro e coral, algumas dentro da própria grade curricular.

6.Parceria
É importantíssimo que haja um canal aberto de comunicação entre escola e família.

7. Preparo
Informe-se sobre a capacitação do corpo docente: a formação, experiência e, principalmente, afetividade com as crianças.

8.Segurança
Observe vidros, piscina, parquinho, degraus e tudo que pode representar um risco. Verifique também se a área destinada às crianças pequenas é separada.

9. Disciplina
A escola exige uniforme e pontualidade?
É muito rígida? Ou muito solta? O ideal é o que combine mais com sua família.

10.Lanchonete/refeitório
Desde a higiene até a qualidade da comida, é importante saber o que o seu filho vai comer durante a semana. Veja se há alimentos saudáveis e naturais.

A culpa é da mãe – reflexões e confissões acerca da maternidade, de Elizabeth Monteiro
Nesse livro, Elizabeth relata suas experiências como mãe de quatro filhos, algumas bem desastradas e peculiares. Fazendo relações entre a época de sua avó, da sua mãe e a própria infância, ela tenta mostrar que as mães, independentemente da geração, erram. E sentem culpa por isso. Mas não devem! Assim, ela vai apontando como a maternidade pode ser menos árdua e mais prazerosa.
Editora Summus Editorial (gruposummus.com.br), R$ 69,20

Consultoria: Elizabeth Monteiro, mãe de Gabriela, Samuel, Tarsila e Francisco, é pedagoga, psicóloga e autora do livro “A culpa é da mãe – reflexões e confissões acerca da maternidade”. Lidia Aratangy, mãe de Cláudia, Silvia, Ucha e Sérgio, é psicóloga e terapeuta familiar. Maria Irene Maluf, mãe de Maria Fernanda e Maria Paula, é psicopedagoga e especialista em neuroaprendizagem. Quézia Bombonatto, mãe de Rodrigo, é psicopedagoga, fonoaudióloga e terapeuta.


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