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Dr. Alberto DAuria

Imagem Dr. Alberto DAuria

Publicado em 05/06/2012, às 07h00 por Redação Pais&Filhos


O obstetra e ginecologista já dirigiu maternidades importantes, como o São Luiz, a Santa Joana e a Pro Matre, todas em São Paulo. Há apenas 10 anos, não sabia o que eram células-tronco. Hoje, dirige o maior banco que armazena sangue de cordão umbilical, o Cryopraxis. Não existia o método quando seus filhos, Alberto e André, nasceram, mas os netos com certeza terão suas células-tronco bem guardadinhas – e viverão 150 anos, se depender de todas as descobertas da medicina.

Por Mariana Setubal, filha de Cidinha e Paulo
Qual é a maior mudança que as células-tronco estão causando?
Em breve, o homem vai chegar aos 150 anos. Para isso, nós vamos ter que usar o recurso das quatro medicinas. A medicina curativa é aquela que o médico usa quando opera alguém, assim como quando dá o antibiótico. A gente não abandonou essa medicina, ela vai ter que ser usada sempre. Depois vem a medicina preventiva que é do início do século passado, é aquela coisa do lavar a mão para evitar vermes. Depois vem a medicina preditiva, que é a medicina do genoma, em que você abre a célula, pega o DNA, tira um gene e fala: esse gene aqui é de diabetes, vamos tirá-lo e colocar outro no lugar. A gente usa muito, inclusive, na reprodução assistida. Hoje, existe a opção de fazer o teste do genoma para ver se o embrião é defeituoso. Assim, não transfere uma síndrome genética. 
Isso não é polêmico?
Não, isso é usado em clínicas de reprodução assistida porque ali você lida com mulheres de idade mais avançada, com alto risco de ser transferido um embrião mal formado sob o aspecto genético.
É possível identificar a Síndrome de Down, por exemplo?
Lógico, mas aí entra a polêmica. É como fazer sexagem. Mas é importante fazer o diagnóstico para identificar possíveis patologias.
E a quarta medicina, que você estava falando, qual é?
É a medicina regenerativa, em que é feita a terapia celular. Você cultiva células, fabrica órgãos. Os seus filhos, muito provavelmente, daqui a uns 50, 60 anos, irão a uma empresa e falarão: eu vim aqui trocar meu fígado, ele não tá legal. Aí trocarão o fígado e fabricarão outro com células-tronco.
Você acha que os bebês que estão nascendo hoje já vão chegar aos 150 anos?
Aos 130, com certeza. Quando eu comecei a fazer medicina, há 30 anos, a média do homem era 56 anos. Isso em 1978. Hoje já foi pra 77, e a da mulher já foi pra 82. Mais um assoprão e nós vamos para 100.
O objetivo da medicina é que o homem chegue a 150 anos?
Sem dúvida. Eu acho que o objetivo é regenerar mesmo. Porque regenerando tecidos, dá uma vida melhor, prolonga uma vida com qualidade.
Mas tem algumas coisas, como Alzheimer, que ainda não tem esse tipo de cura, né?
Temos um trabalho avançadíssimo em relação ao Alzheimer, mas vamos com cautela.
Não pode contar?
Não. Mas é com célula-tronco também.
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Qual é a diferença entre as células da medula óssea e do cordão umbilical?
As duas são células-tronco, só que no sangue do cordão umbilical elas são mais virgens, mais limpas e mais isentas de agressões. Quando eu tiro a medula óssea de um indivíduo de 60 anos, eu estou tirando células-tronco que já foram agredidas com poluição, antibióticos, radiação, tabagismo… Se o indivíduo tem alguma doença que desenvolveu no decorrer da vida, pode ter células-tronco menos eficazes. As do cordão umbilical têm mais chances de sucesso e nenhum índice de rejeição.
Qual é a última novidade nessa área?
Uma delas é tratar a incontinência urinária com células-tronco retiradas do sangue menstrual, que são potencialmente poderosas.
Esse sangue menstrual pode ser usado para curar outras doenças?
Provavelmente, sim. Em um futuro muito próximo a gente vai usar. Quando você descama o endométrio, menstrua e joga fora uma quantidade enorme de células-tronco, que estavam preparadas para receber um ovo e com o potencial de transformá-lo em um ser humano.Não são células-tronco embrionárias.
Qual é a diferença entre a célula-tronco embrionária e a do cordão umbilical?
Só tem dois tipos de células-tronco: a embrionária e a adulta. A embrionária começa a crescer desgovernadamente e pode acabar se transformando em câncer. Por isso o abandono desses trabalhos. Elas só existem em uma blástula, em um saco gestacional com cinco dias de vida. Então, para colhê-las você precisa fazer o embrião e destruí-lo. As outras células todas são adultas, inclusive a do cordão umbilical.
Por que armazenar o sangue do cordão umbilical em vez de usar no futuro o da medula?
A célula-tronco de cordão umbilical tem índice de rejeição zero, vai servir para os irmãos e está pronta para usar. A outra (da medula) você tem que aspirar. Se está contaminada, não dá para usar. Então teremos que buscar um doador que seja compatível. Aí começa uma batalha pesada porque isso é muito difícil. No Brasil há uma grande dificuldade de conseguir compatibilidade porque tem uma miscigenação enorme. Quando você mistura pessoas diferentes, a sua célula se diferencia.
Existe um banco de dados aqui no Brasil? 
Sim. Hoje quem congrega todo o sangue de cordão e de medula dos bancos públicos é a BrasilCord. É uma iniciativa muito legal. Acho que nós deveríamos incentivar o banco público e o banco privado. Quanto mais sangue, mais crianças serão tratadas.
Falam disso como se o banco público e o privado fossem concorrência… 
Eu não vejo como concorrência. Por exemplo, não vejo como concorrência o hospital público e o hospital privado, eu quero que tenham muitos hospitais privados, e que tenham muitos hospitais públicos, com qualidade igual ao privado, mas que sejam um direito do cidadão.
Como funciona o armazenamento das células-tronco na rede pública?
Para a pessoa doar o sangue na rede pública, ela tem que acionar o BrasilCord, que hoje tem poucas unidades, porque os recursos são pequenos. Aí o banco público destaca pessoas para irem até onde você vai dar à luz. A não ser que o parto seja num hospital que já tem o banco, como o hospital público de Riberão Preto.
Como é feita a coleta?
É facílima. Nós cateterizamos um vaso da placenta com uma agulha que é ligada num tubinho que cai dentro de uma bolsa. E aí a gente enche essa bolsa de sangue de cordão umbilical. A bolsa é colocada dentro de um kit, com gelo seco, num isopor, em que é transportada para a matriz da Cryopraxis.
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A célula do cordão umbilical armazenada só pode ser usada pela própria criança?
Ela é um patrimônio da criança, porém, ela é liberada, mediante a uma liminar rapidíssima, para uso aparentado. O que significa uso pelos irmãos. Existem liminares de liberação de uso pelos pais, porque a chance de compatibilidade é grande.
Qual é essa chance?
É altíssima. Você tem que preencher no mínimo seis marcadores de compatibilidade. Se eu pegar o meu sangue e usar para mim, eu preencho os seis. Se eu pegar o meu sangue, passar para o meu irmão, e preencher só dois, já dá para transfundir. E dois eu preencho com facilidade. Para os pais, é uma chance de três em dez, é alta. 
Para quais doenças a célula-tronco é usada?
Para mais de 80 doenças, como leucemias, linfomas, diabetes tipo 1.
Quando tempo dura uma célula tronco armazenada?
Por enquanto já tem 23 anos.
Um bebê que nasce hoje e vai viver 150 anos, você acha que depois de todo esse tempo ainda vai ser viável usar essas células?
Provavelmente.
Ainda tem alguma resistência dos pais para fazer o armazenamento?
O pai se preocupa com a parte financeira, porque ele não vê muita coisa palpável. A mãe está envolvida sob o aspecto emocional, hormonal, afetivo e quer a proteção da cria. O pai também pode estar contaminado com informações errôneas, como você falou, gente que quer criar polêmica entre o sangue de cordão de banco público e de banco privado.
Você é médico desde 78. De lá para cá percebeu alguma mudança grande no comportamento das mulheres?
Sim, uma mudança radical. Vejo que a paciente que faz o pré-natal hoje é totalmente diferente da paciente da década de 80. Antes, ela vinha sozinha ao consultório, o pré-natal era uma consulta bem mais simples, baseada somente em exames clínicos. Hoje a paciente já vem acompanhada do marido, munida de uma infinidade de informações, e a própria obstetrícia avançou assustadoramente. O número de exames hoje é significativamente maior do que aquele que existia, já tem ações durante a gravidez de correção. Temos que também enaltecer a qualidade dos berçários e das UTIs neonatais que hoje acolhem fetos de 500 gramas e entregam essas crianças em casa. Quando eu comecei a fazer, feto de 500 gramas significava aborto.
Já existe algum plano de saúde que cobre o procedimento de armazenamento do sangue do cordão umbilical?
Por incrível que pareça, a sua pergunta vai ser respondida com um sim. É o BNDES, já tenho 200 grávidas por ano. Já percebi que isso irá arrastar outras instituições.
Mas como funciona?
A grávida só irá pagar a anuidade. O procedimento de coleta, transporte e armazenamento fica por conta da empresa.
Quando a família tem mais de um filho, como faz?
Os valores são menores. As famílias geralmente fazem para todos os filhos. É interessante que das 26 mil amostras que temos hoje, 8 mil são de filhos de médicos. A maioria das celebridades faz coleta, o que é importante porque eles dão visibilidade e um exemplo, um bom exemplo.
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Quando as grávidas te procuram, qual é maior preocupação delas?
Eu acho que a preocupação hoje é a geração de um feto saudável e a possibilidade de complicações gestacionais. Os números de complicações hoje são muito altos, resultados das gestações tardias. O estresse, comprovadamente, destrói a gravidez. E a grande maioria das mulheres hoje estão submetidas ao estresse. Porque trabalham, tem que gerenciar problemas familiares, financeiros, sucesso na carreira. Só que quando elas resolvem engravidar, têm mais de 35 anos. A chance de elas terem complicações aumentou muito. Você vê pelo número de fetos prematuros. 12% das crianças que nascem vão para a UTI neonatal. É muito assustador. 
Mesmo uma mulher mais nova pode ter complicações só por causa do estresse?
Sim. Estressou, descarregou adrenalina, a adrenalina circulante provoca vasoconstrição, reduz a passagem de sangue, reduz nutrição, reduz saúde, ponto final. A adrenalina é o maior inimigo em quantidades altas e em liberações insidiosas para o corpo humano. Qual é o maior inimigo da impotência sexual masculina? A adrenalina. Pega uma grávida e diz: “Seu trabalho é uma merda, eu vou te demitir assim que você der à luz”. Como é que vai ficar a placenta dela? Sem sangue.
Que tipo de problema isso pode causar para o bebê?
Restrição de nutrição, o que dificulta a formação neurológica, cerebral, afeta o peso. Pode levar ao parto prematuro. Você pode entrar numa síndrome de restrição do crescimento intrauterino, em que muitas vezes tem que tirar o feto porque ele não cresce e vai morrer. É bem comum em gestantes de idade avançada, nas tabagistas, nas hipertensas, nas diabéticas e nas pacientes que tem insuficiência placentária em várias outras causas.
Na ponta do lápis
Quanto custa fazer o armazenamento das células-tronco de cordão umbilical?
Cerca de R$2.800 no primeiro momento, o que inclui a coleta, o transporte, o armazenamento e a primeira anuidade. Depois, cerca de R$600 por ano.
Perguntas Pais e Filhos
Família é tudo. Concorda?
Indiscutivelmente. Quando falamos de célula-tronco estamos falando da unidade celular do universo. A família é a unidade social e psíquica da sociedade. A família é a unidade celular. Se a célula vai bem, os tecidos, os órgãos irão bem.
A infância passa muito rápido. O que fazer para aproveitá-la melhor?
O ser humano está passando por um momento de ansiedade que eu considero patológico. Estamos ensinando essas crianças que não há tempo mais, e que o planeta está andando rápido. Temos que aprender a saborear mais todos os momentos. Se cada um de nós tivermos muita pressa de viver, estaremos criando crianças ansiosas e estaremos perdendo esse momento de convívio com elas.

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