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Mães e o mundo corporativo

Imagem Mães e o mundo corporativo

Publicado em 04/11/2012, às 22h00 por Redação Pais&Filhos


05/11/2012

Graziella Piccoli, mãe de Beatriz.

“Talvez as minhas palavras não se refiram ao drama que envolve uma mãe e sua volta ao trabalho, mas sim da visão do mundo corporativo em relação às mães que retornam às suas atividades profissionais.

Eu e meu marido casamos em 2010, após 3 anos de relacionamento, e cinco meses depois estávamos grávidos e muito felizes. Minha mãe trabalhou por 30 anos e nunca pensei na possibilidade de parar de trabalhar quando estivesse na iminência de me tornar mãe. E assim foi! Tive uma gravidez tranqüila que me obrigou a me afastar do trabalho poucas vezes, por conta de um enjôo mais acentuado, por um sangramento leve ou para realização de exames, sem jamais comprometer minhas atribuições. Sou advogada e durante a gravidez, apenas evitei comparecer a audiências e restringi minhas funções ao escritório, que tinha uma grande equipe e alguns dos colegas me davam o maior apoio, em razão da minha situação digamos ‘peculiar’. Mas teve oportunidades que, mesmo grávida trabalhei até às 21h00 / 22h00, tudo para dar conta dos meus afazeres.

Somente 15 dias antes do nascimento da Bia é que fui definitivamente afastada pela médica, por estar com a placenta relativamente baixa e não poder entrar em trabalho de parto. Muito embora seja praxe do mercado a contratação de advogadas na condição de ‘associadas’, sem vínculo de emprego, o escritório em que trabalhava me concedeu os 4 meses de licença que, somados às férias que eu tinha em aberto, totalizou quase 5 meses de afastamento das minhas funções. Nesse período, por força das atribuições de uma mãe de primeira viagem e por vontade própria mesmo (eu reconheço), desliguei-me completamente de tudo que se relacionava ao meu trabalho e dediquei-me exclusivamente a ‘aprender a ser mãe’. Além das novidades da maternidade, tinha que lidar com o final da minha Pós-Graduação e com a entrega do meu trabalho de conclusão. Enfim, prevendo meu retorno ao trabalho, tratei de contratar uma babá, que começou a trabalhar 15 dias antes do meu retorno ao escritório e, nesse período em que já contava com uma assessoria, aproveitei para adiantar meus trabalhos de fim de curso e me acostumar com a ideia de uma nova rotina.

Voltei ao trabalho numa sexta-feira, para por e-mails em dia, retomar meu posto, reencontrar minha equipe, tudo em um dia mais tranqüilo.
De cara, eu encontrei alguém mais novo, fazendo exatamente as minhas funções. Até aí, tudo bem, pois tinham saído 3 pessoas da equipe e eu sabia que haveria novas contratações. O que eu estranhei foi o fato de que a pessoa ‘nova’ estava no meu lugar desde o nascimento da minha filha, indicando que tinha sido contratada justamente para me substituir. Na segunda-feira, acreditava que minhas funções retornariam às minhas mãos, o que não ocorreu. Na terça-feira, antes do meu chefe sair de férias (e para evitar o prolongamento de uma angústia!), fui interpelá-lo, questionando sobre o meu papel na equipe, sobre a ‘nova’ colega e nova composição da equipe, com o meu retorno, etc.

Foi, então, que fui surpreendida com a resposta de que ele teria sido pressionado a cortar gastos e que não contava mais comigo na equipe, porque eu era uma das melhores remuneradas. Enfim, fui ‘demitida’ três dias após retornar ao trabalho! Ainda que não tenham me pressionado a largar o posto imediatamente (tiveram um pouco de consideração) e que eu tenha trabalhado ainda por cerca de 20 dias, eu tinha a sensação de que não era mais querida ou útil. Lógico que bateu o desespero, pois eu tinha feito uma série de planos (principalmente, tinha contratado uma pessoa maravilhosa pra ficar com a minha filha, reservado um buffet para o aniversário de primeiro ano, etc!) dos quais eu não queria me desfazer, ainda que meu marido tenha um condição profissional confortável, a minha remuneração era imprescindível para mantermos os nossos pequenos luxos. E sabia o quanto seria difícil encontrar um trabalho com remuneração e benefícios equivalentes, mas estava disposta, acima de tudo, a ser uma mãe maravilhosa e nenhum ‘descarte’ profissional me tiraria desse objetivo.

Fui, então, em busca de trabalho, fiz contatos, recebi conselhos, tive ofertas, mas sabia que se optasse por aquelas chances que estavam aparecendo voltaria a trabalhar em condições e em ambientes corporativos que não permitiriam me tornar uma mãe maravilhosa, pois exigiria de mim uma dedicação tamanha que eu não estava mais disposta a ter se isso comprometesse o meu objetivo. Em um desabafo, após a minha demissão, falei para uma ex-colega de trabalho que, por conta do estresse está na maior luta para engravidar, estava disposta a abrir o meu escritório para trabalhar de acordo com os meus novos objetivos de vida e queria muito poder voltar a trabalhar com ela, uma das melhores profissionais com a qual trabalhei.

Passou o final de semana e essa minha grande amiga me ligou falando que estava disposta a trabalhar comigo, em nosso escritório, com o nosso ritmo e com a nossa forma de trabalho. Colocamos nossos planos em prática, abrimos o escritório cerca de 2 meses depois de ser demitida e já estamos com alguns clientes. Não temos ainda a remuneração que tínhamos quando éramos empregadas, mas estamos nos dedicando, sem deixar de ser doces, mulheres e mães (isso mesmo, pois a Alessandra está entrando na fila de adoção. Com esse novo projeto, eu posso seguir o ritmo da minha filha também. Saio de casa depois de deixá-la, tranqüilamente, com a babá, volto pra casa antes de ela dormir (fato inédito para que trabalha em grandes corporações jurídicas) e sigo trabalhando, em casa mesmo, depois de a Bia estar dormindo, sem que seja comprometida a qualidade do trabalho e da minha relação com a ela.

Sou muito mais feliz (mesmo até agora não ganhando um terço do que eu ganhava), por que tenho certeza que ninguém vai me entender melhor do que as minhas sócias (uma já é mãe e outra está em vias de se tornar!) se a Bia estiver doente e eu tiver que ficar em casa, se tiver que sair mais cedo por que tem apresentação na escolinha, se encerrar o expediente mais cedo para acompanhar a consulta no pediatra, sem qualquer espécie de reprovação, ainda que de forma velada, à minha conduta. Sim, por que fui fruto de boatos sobre uma espécie de ‘corpo mole’ no meu retorno ao trabalho (já que estava me adaptando à nova vida – com mamadas noturnas ou mesmo com a nova babá, por exemplo) e descobri que outra advogada saiu do escritório após ser obrigada a responder e-mails durante a licença, o que me levou a crer que talvez quisessem essa postura de mim durante o afastamento. Isso jamais esteve nos meus planos, por que eu tinha (e queria) me dedicar exclusivamente à minha filha, ao meu tesouro, à minha razão de viver.

Por isso, no início desse relato eu deixei claro que talvez minha história não se refira aos dilemas de uma mãe que fica dividida entre o trabalho e os filhos, mas se referiria a como a sociedade e os próprios colegas de trabalho lidam com uma colega gestante ou mãe, sem jamais se colocar em seu lugar. Nunca quis explorar ninguém, nem passar a sensação de que meus colegas ou funcionários seriam ‘descartáveis’, pois há momentos na vida das pessoas que estamos mais vulneráveis e que precisamos de suporte e não de uma demissão!
Nunca pensei em não voltar a trabalhar, até por que quero que isso sirva de exemplo pra Beatriz (assim como minha mãe fez comigo), mas quero que ela também tenha a referência de que até a melhor profissional do mundo não pode perder a doçura e o senso de valor à família. Quero poder estar presente na vida dela, que passa tão rápido, sem que ninguém me recrimine por isso. E é essa visão que estou pregando no meu ‘novo empreendimento’ e vai valer para nós, as três sócias-mães, mas também para todas as mulheres que vierem a trabalhar conosco”.


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