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Pai, me ajuda a olhar?*

Imagem Pai, me ajuda a olhar?*

Publicado em 02/08/2012, às 21h00 - Atualizado em 18/07/2021, às 16h31 por Redação Pais&Filhos


Eu adoraria que meu pai estivesse ao meu lado fisicamente, nas vezes em que o “tamanho das coisas”, a incompreensão ou as dificuldades me fizeram desejar a mão forte dele segurando a minha.

Meu pai é perfeccionista e trabalhador ao extremo. Detesta férias e não suporta ver alguém sem fazer nada. Uma vez flagrei um namorado meu que tinha acabado de ser apresentado à família com uma vassoura na mão ajudando-o a limpar vidraças na maior, sem cerimônia.

Seu Miguel é franco, direto e sem frescuras. É um típico gaúcho “faca na bota”, como dizem os gaudérios. Combina tanto com a vida rural, montado num cavalo, quanto exercendo as profissões das duas faculdades que cursou. Pra ele, trabalho é quase divertimento e ele só sossega quando dorme. Meu pai é uma mistura eficaz do rústico com o erudito. Ele é do tipo sisudo, mas quando gargalha o mundo fica incrível. Seu Miguel é um sujeito apressado, impaciente e engraçado. E não é que sou igualzinha?!

Algumas atitudes inesperadas faziam de meu pai o meu herói! Após tentativas fracassadas de arrumar a nitidez da tela, arremessou uma cuia de chimarrão na TV preto e branco! Lembro que conhecemos o litoral paulista e catarinense numa espécie de rally a bordo de um fusca marrom, que ele veio comprar mais barato em São Paulo. Neste percurso ensandecido, tive orgulho de ver suas mãos ligeiras tanto na direção domando a estrada enlameada, quanto resgatando um acidentado no meio da noite de lua cheia, barranco acima.

No meu banco de imagens de infância, feliz lá estou de mãos dadas entrando num imenso estádio, pra ver um gre-nal ou no cinema assistindo um far west! Risadas, comentários e pipocas com papai!

Nascido em família pobre, cheia de gente e de garra, meu pai passou fome, vendeu jornal, engraxou sapatos. Aquele era um tempo em que trabalho não tinha idade nem vaidade.

Já adulto, não conseguiu nem ser médico, nem pai de filho homem. Descontou a última das frustrações nas duas únicas filhas que teve. No final do delicioso churrasco que ele assava nos finais de semana, tínhamos que ficar como goleiras, defendendo as ”bombas” que ele chutava! O programa dominical só terminava quando assistíamos as lutas pela TV. E o sofá da sala transformava-se num ringue, para desespero da minha mãe e nocaute de uma das filhas.

Numa volta da escola, fui obrigada a retornar ao campo de batalha onde tinha apanhado de uma menina da vizinhança sem revidar. Fui lá, morrendo de medo, e soquei a guria. “Filha minha não apanha sem lutar”, sentenciou seu Miguel.

Minha mãe havia me matriculado nos cursos de teatro, pintura, piano e ballet. Meu pai insistiu para que eu fizesse, também, capoeira ou kung fu. Mas não conseguiu domar a minha distração de artista nos tabuleiros de xadrez que ele adorava jogar.

Segundo cânones da época, as mães eram mais atuantes na educação dos filhos. Mas quando o bicho pegava sempre senti a mão firme do meu pai me ajudando a solucionar problemas. A mesma mão que trocou milhões de fraldas também me salvou de um afogamento na praia, me ajudou a subir num cavalo, numa árvore e no trampolim da piscina.

E foi a mão do meu pai que apertou forte a minha mão minutos antes de soltá-la e dizer: “Vai! Quando precisar o pai tá aqui!”. Quando decidi mudar para São Paulo, vi meu pai chorar e meu mundo desabou! Mas a ambição que herdei dele, me fez não olhar pra trás e arrumar as malas.

Dizem que os pais vão até onde os filhos chegam. Eu adoraria chegar muito longe como forma de homenagear todo esforço que tanto meu pai quanto minha mãe fizeram por mim e pela minha irmã.

Longe de casa encontrei pessoas que me deram a mão. A confiança e o amor que tenho nos seres humanos, a fé e a coragem que tenho na vida aprendi na convivência familiar. Nossa família cultiva este tipo de amor que preza a liberdade e respeita as escolhas individuais.
Graças ao meu pai tenho o privilégio de trabalhar no que gosto.

Obrigada, Seu Miguel. Te amo muito.

Ângela Dip, filha de Miguel e Aida, é atriz e autora. Atualmente está em cartaz com Sabor a Freud, uma comédia musical. Entre seus trabalhos está o Castelo Ra-tim- bum.


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