Família

Ele lá… Eu cá

Imagem Ele lá… Eu cá

Publicado em 06/03/2014, às 16h28 - Atualizado em 22/08/2021, às 13h00 por Redação Pais&Filhos


Com a sogra, com a avó, com a babá, não importa: dá dor no peito só de pensar em deixar a cria com outra pessoa. Desde o momento em que o bebê vem ao mundo, a gente cria com ele uma relação chamada de simbiótica, como se vocês se “fundissem” em um mesmo ser. Em um primeiro momento, é uma questão de sobrevivência: o bebê é dependente para tudo, não tem jeito. Depois, há a questão biológica mesmo: somos inundadas de oxitocina, o hormônio do amor.

A questão é que, na hora de quebrar essa tal simbiose, ou seja, quando chega o momento da gente se separar e entender que o filho é uma pessoa independente, é comum dar uma travada. “A  ligação entre bebê e mãe nessa fase é a mesma da planta parasita e de sua hospedeira, que fornece a seiva de que a outra precisa. Essa relação vai se rompendo conforme o bebê cresce, mas há mães que têm dificuldade nisso”, explica Elizabeth Monteiro, mãe de Gabriela, Samuel, Tarsila e Francisco, psicóloga, escritora e nossa colunista.

O mais importante é entender que seu filho precisa ir para o mundo, se relacionar com outras pessoas, saber que existem regras diferentes na casa da vovó (sem interferências suas), que as brincadeiras da babá são outras e também deliciosas, que com a madrinha pode comer sorvete no meio da tarde, mesmo que com você não possa… Essas relações são ricas e fundamentais. E o único jeito de ele viver isso é conviver com outras pessoas além de você (e sem você).

“Crianças precisam se preparar para um mundo social e ver que as pessoas não são iguais. Elas aprendem a lidar com frustrações, a esperar a mãe chegar, a adquirir noção de tempo, a dividir os brinquedos, a se preparar para um mundo que não é perfeito e entender que os desejos delas não são sempre satisfeitos. Em resumo, se preparar para as regras da vida”, diz Elizabeth.

Fora que, convenhamos, você também precisa de um tempinho seu: seja para fazer a unha, andar de bicicleta, trabalhar… A gente sempre diz aqui: a mãe feliz é uma mãe melhor. Ou seja, quanto mais você conseguir praticar seus hobbies, fazer aquilo que te dá prazer, mais inteira você estará para o seu filho quando chegar em casa.

Mãe culpada, filho inseguro

Não é regra, mas acontece. Se você sente culpa ao deixar seu filho com outra pessoa, ele vai sentir e não vai querer se separar. Essa ansiedade é passada através do seu corpo para a criança. Quer um exemplo clássico? A volta ao trabalho depois da licença-maternidade. A criança incorpora o desespero da mãe ao deixá-la na escola ou com alguém, e pode ficar também mais ansiosa e insegura com a situação.

Segundo a psicóloga Adriana Cândido da Silva, filha de Eliana e Teófilo, a mãe culpada em geral tem um ideal de maternidade inalcançável e acaba exercendo uma supervigilância como forma de compensar a culpa de não o atingir. “Assim como a falta, o excesso de zelo é prejudicial”, diz.

Elizabeth orienta a fazer o seguinte raciocínio: “Se a mulher não pode ficar em casa por questões financeiras, ou quer trabalhar por realização pessoal, isso já é uma solução. É melhor que a mãe tenha consciência de que o trabalho dela é importante para a família do que ficar em casa infeliz, nervosa, frustrada e preocupada com a falta de dinheiro”, diz.

Tá, mas como faz?

Escolha o local mais adequado para deixar a criança. Se for em um berçário, o recomendado é fazer visitas, para conhecer a infraestrutura e os profissionais. Se for com alguém da família – o que vale para qualquer situação de ausência dos pais, até viagens a dois –, deixe as quedas de braço de lado e coloque na balança os prós e contras. Adriana recomenda que, nos casos em que não há consenso entre o casal (cada um quer deixar com a própria mãe, por exemplo), o melhor é fazer experiências, deixando o filho em dias intercalados com pessoas de confiança, e depois observando onde ele ficou mais à vontade. Mas atenção: sempre pensando no bem-estar da criança, e não na comodidade dos pais.

O mesmo vale para a separação com o bebê, sem mudanças drásticas. Elizabeth sugere que, desde os primeiros meses, a mãe vá lhe dando as “coordenadas”. “Frases como ‘a mamãe vai sair, mas você não está sozinho’ e ‘a mamãe te ama e volta jajá’, quando cumpridas, vão sendo assimiladas pelo inconsciente do bebê”, explica.

E Adriana complementa: “Se a mãe está se preparando para ficar longe da criança, ela pode deixá-la uma hora com a avó em um dia, uma hora com o pai em outro, e assim por diante. O importante é ter um substituto do apego”.

Cuidado com as intolerâncias. A não ser que a criança tenha restrições muito específicas de alimentos e horários, você não deve impor os seus padrões na casa dos outros. “O filho deve ser avisado pelos pais de que cada casa é diferente”, acredita Elizabeth.

Viajar sem culpa? Com certeza. Apenas cuidado com períodos maiores de ausência, principalmente até os primeiros 2 anos da criança. “Não é indicado deixar o filho com menos de 2 anos para fazer uma viagem de mais de uma semana. A partir dos 6 meses, viagens de um final de semana estão liberadas, contanto que a criança fique com alguém com quem tenha vínculo”, explica Elizabeth.

Às vezes, a gente fica com ciúmes da relação com os outros: como é que a avó sabe de uma coisa que eu não sei sobre o meu próprio filho? Ou: por que ele contou o que aconteceu na escola para a madrinha, em vez de contar pra mim? Ciúme, que nada, isso é maravilhoso! Ver o filho se relacionando é vê-lo crescer e amadurecer. Ele está aprendendo o papel de cada um na família. Aprenda o seu também.

Mãe x pai

O papel do pai é justamente levar o filho para o mundo, romper a simbiose entre ele e a mãe. Sejam casados ou separados, deixe que o pai exerça essa função. Em caso de guarda compartilhada, cada casa tem suas regras, mas pai e mãe precisam conversar para manter a rotina do filho estável, sem muita confusão e mudança de lá pra cá.

Elas contam como foi a experiência de deixar os filhos com outras pessoas

Paris, eu te amo, mas…

“Surgiu a oportunidade de ir para a França por vinte dias, e levar o bebê seria impossível. Ele tinha 8 meses. Deixei com minha mãe e parti, criticada por muitos. Chorei o voo inteiro, me senti imprudente e egoísta. Se aproveitei a viagem? Muito! Foi a mesma coisa? Não. Mas pensar que ele estava saudável, sorridente, dormindo bem, engatinhando e com minha mãe, me fez entender que ele estava melhor do que eu.”

Maria Fernando Machado, advogada, mãe do Felipe

Devagar e sempre

“O duro mesmo foi quando o Leonardo ficou pela primeira vez com minha sogra, para eu ir a uma loja ao lado da casa dela ver roupas. Fiquei desesperada, com um misto de aflição, preocupação e sentimento de posse. Meus sogros foram o máximo e meu filho nem sentiu minha ausência. Fui treinando gradativamente, até o dia em que ele dormiu sem mim e meu marido, por volta dos 3 anos. Minha dica é: faça aos poucos! O filhote fica bem: somos nós que mais sofremos.”

Beatriz Zogaib, jornalista e blogueira do Mãe da Cabeça aos Pés, mãe do Leonardo

Desmame duplo

“O mais difícil foi quando voltei a trabalhar após a licença-maternidade e precisei colocá-lo na escolinha. Ele tinha 7 meses, ainda totalmente dependente de mim. A primeira crise de culpa foi ao interromper a amamentação. Três meses depois, ele pegou uma infecção intestinal, e tive uma segunda crise por não poder parar de trabalhar para cuidar dele. Minha sogra se prontificou a me ajudar e ele se recuperou bem. Um alívio!”

Ana Paula Balog, publicitária, mãe do Bruno

Cada um de um jeito

“Eu deixava bastante a Luisa com a minha mãe, porque trabalhava. Me sentia péssima, pensando no que poderia acontecer enquanto eu estivesse longe. Mas como ficava pouco tempo fora, a angústia era bem controlada. Com o Antonio Pedro foi pior: eu o deixava em casa para levar a Luisa na escola e na natação, e ele sempre ficava com outra pessoa. Carreguei uma culpa grande durante muito tempo e acabei indo parar na terapia porque achava que tinha sido uma mãe melhor para a Luisa do que para ele. Hoje eu consigo deixar os dois com os avós com mais facilidade, afinal também preciso de um tempo só com meu marido.”

Gabriella Brandão, blogueira do Dicas Pais e Filhos, mãe da Luisa e do Antonio Pedro

Saudade no coração

“Deixei minha filha de 1 ano e 4 meses com os avós para fazer uma viagem de 17 dias com meu marido, e só conseguimos ir porque estávamos convencidos de que era a melhor escolha para todos. Hoje não conseguiria mais ficar tanto tempo longe, e mesmo para pequenas viagens, finais de semana e saídas à noite, dá um aperto no coração de saudade.”

Ana Luiza Masi, blogueira do Look Bebê, mãe da Bruna e da Clara

Segundo cordão umbilical

“Viajei para o Rio de Janeiro só com meu marido, depois de ele me convencer a deixar o Pedro e a Catarina com a avó. Durante a viagem liguei para ela todos os dias, e eles não só não quiseram falar comigo nenhuma vez, como ficaram felizes, se divertiram, dormiram bem e não se sentiram abandonados por mim. Aprendi que eu tenho direito de existir apesar de ser mãe, e que fazer esse segundo corte do cordão umbilical é doloroso, mas fundamental, para as duas partes.”

Loreta Berezutchi, blogueira do Bagagem de Mãe, mãe do Pedro e da Catarina


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