Nos últimos dias, o céu brasileiro tem testemunhado um espetáculo visual incomum: o sol aparece com uma tonalidade avermelhada. Embora essa mudança possa inicialmente parecer um fenômeno natural bonito, ela está longe de ser meramente estética. Especialistas alertam que a cor alterada do sol é um sintoma de um problema ambiental mais grave. Guilherme Borges, meteorologista da Climatempo, explica que essa coloração vermelha é resultado da combinação entre a poluição atmosférica causada por queimadas e a inclinação dos raios solares.
A alteração na cor do sol é especialmente visível em áreas como o Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Borges esclarece que a presença de grandes quantidades de fumaça no ar afeta a visibilidade e altera a forma como percebemos a cor do sol. “Estamos enfrentando uma quantidade significativa de fumaça espalhada por vastas regiões, o que é prejudicial tanto para a saúde quanto para a visibilidade. A fumaça dispersa pelo céu faz com que ele adquira um tom mais cinza, o que também influencia a coloração do sol”, afirma o meteorologista.
Esse fenômeno é mais pronunciado nas primeiras horas da manhã e no final da tarde, quando a inclinação dos raios solares é mais acentuada e sua interação com a camada de poluição é maximizada. “Esses períodos favorecem a aparição do sol com uma tonalidade vermelha a olho nu. Com a atual densidade de fumaça, observamos esse efeito em diversos estados, incluindo os três do Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste”, detalha Borges.
Por que o sol parece vermelho?
A cor natural do sol é, na verdade, branca. No entanto, o que percebemos visualmente como amarelo é o resultado da dispersão da luz solar na atmosfera. Borges explica: “Quando a luz solar atravessa a atmosfera, ela se dispersa e o que vemos é o comprimento de onda que o olho humano percebe como amarelo. No entanto, devido à poluição atmosférica atual, é comum ver o sol em tons vermelhos ou alaranjados.”

Embora a cor vermelha do sol seja uma mudança notável, não há evidências de que isso aumente a quantidade de radiação que ele emite. “Ainda é cedo para determinar qualquer impacto direto na radiação. O que sabemos é que a poluição pode atenuar a quantidade de radiação solar que chega à superfície, o que pode contribuir para o efeito estufa”, comenta o meteorologista. Ele acrescenta que estudos mais aprofundados serão necessários para avaliar o impacto real dessas partículas na radiação solar.
O efeito das queimadas e onda de calor
Além da poluição, a onda de calor que o Brasil está enfrentando também desempenha um papel significativo no fenômeno do sol vermelho. A ausência de chuvas e o calor intenso contribuem para a manutenção e intensificação dos incêndios. Borges explica que o clima seco e quente cria um ambiente propício para queimadas, exacerbando a poluição atmosférica.
“O inverno é tradicionalmente uma estação de queimadas, mas a atual onda de calor tem prolongado esse período e reduzido as chuvas. O outono, que deveria servir como uma transição para a estação chuvosa, foi extremamente seco. Com isso, o ambiente se tornou ainda mais inflamável devido à baixa umidade, o que favorece os incêndios e, consequentemente, a poluição atmosférica”, detalha o especialista.
Impacto das queimadas no Brasil
Os incêndios têm afetado severamente os principais biomas do Brasil. Em agosto, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 68 mil focos de incêndio, o maior número desde 2010. A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) relatou que, dos 4,4 milhões de brasileiros impactados pelos incêndios este ano, 90% sentiram os efeitos em agosto.
Em São Paulo, os incêndios causaram prejuízos significativos ao agronegócio, estimados em mais de R$ 2 bilhões, principalmente no setor sucroenergético devido às queimadas em lavouras de cana-de-açúcar. Além disso, os incêndios também afetaram áreas de grãos e a pecuária.