Muitos alunos ao redor do Brasil (e do mundo) não estão conseguindo acompanhar as aulas online devido à falta de recursos como internet e computadores. Para ajudar esses alunos, diversos professores estão se reinventando e fazendo o que podem para conseguir fazer com que o ensino chegue até eles. Vera Lúcia Lisboa é uma dessas professoras. Ela encontrou uma forma simples e barata de fazer com que as crianças sem acesso à internet aprendessem durante esse período de ensino remoto.
Para isso, Vera, que leciona há 40 anos, se renovou e criou um varal onde literalmente estende as atividades para que os alunos consigam pegar e levar para casa. “Na escola foi criada uma página no Facebook e um blog, em que os alunos pudessem fazer pesquisa e pegar as atividades. Mas percebi que depois de uns dias em que disponibilizei as atividades, nenhum dos meus alunos tinha acessado. Percebi então, que os meus alunos não estavam dentro daquele esquema, que a internet não estava ao alcance deles”, contou ela, que leciona em uma escola em Vacaria (RS), ao jornal local RBS.
A partir dessa percepção, veio o desafio: como conseguir se reinventar depois de tantos anos lecionando e ensinar de forma remota para crianças que não tinham internet? “Muitos dos pais dos meus alunos trabalham em pomares, então eles não têm muito tempo para ficar organizando o material para os filhos. Quando chegam em casa, precisam jantar e dormir para descansar. Não é algo simples para os meus alunos“, desabafou ela.
Para resolver o problema, Vera, que dá aulas para o segundo ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Henrique Gelain, pensou em algo super simples, mas que funcionou muito bem. “Pensando em sua aprendizagem e no nosso distanciamento devido ao coronavírus, peço que alguém responsável por você, dirija-se até a minha casa, localizada na rua Nova Vacaria, 367, bairro São José, perto da nossa escola. Chegando em minha casa, você responsável, encontrará no portão, um varal, nele estará pendurado um saco de plástico, com identificação, contendo o nome do aluno ou da aluna, você, responsável, pegue e leve para casa”, escreveu ela em uma carta que enviou a cada aluno para explicar a iniciativa.
“A questão da internet é bem séria, nossos alunos não têm acesso. A nossa escola fica em um bairro da periferia, onde os pais estão lutando para comprar comida e para se virar financeiramente. Então, eu quis pensar em uma maneira de incluir essas crianças, mesmo que de uma forma simples e até rudimentar, sem tecnologia”, explicou ela, que acrescentou que os pais logo toparam a forma criada por ela e amaram a ideia.
Aos poucos, o ‘varal de lições’, acabou se tornando muito mais que uma forma de enviar as atividades para as crianças, mas sim uma possibilidade de ligação entre elas e a professora nesse ambiente de isolamento social. “Tenho comprometimento com a questão da alfabetização, que para mim, é coisa séria. É difícil dizer que tu vais alfabetizar as crianças dessa forma, sem a socialização e o contato com eles. Mas estou elaborando atividades para reforçar o que já vimos em sala de aula. Porque me preocupo muito em manter esse vínculo, para que, quando pudermos voltar à sala de aula, nós tenhamos esse contato restabelecido”, finaliza ela.
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