Húngaros sobreviventes do Holocausto, seu Miklos e dona Elisabeth Frank imigraram para o Brasil em 1949 com o filho único, André, então com 32 anos, que juntou-se aos pais em 1953 para abrir a loja de calçados que até hoje mantém as características e o estilo de 60 anos atrás. Em uma casa com 300 metros quadrados na Rua Augusta, seu André, hoje com 91 anos, até pouco tempo atrás ainda trabalhava todos os dias com a mesma gravata de quando começou o negócio.
A Casa Tody é uma das mais tradicionais lojas de calçados infantis de São Paulo. Apesar de vender tênis, sandálias, chinelos, sapatilhas, a especialidade sempre foi o sapato de couro para festas. Quem procura calçados para batizados ou para pajens e damas de honra vai direto à Casa Tody. A loja é conhecida pelas caixas de sapato empilhadas por todas as paredes. O carpete verde e a escada redonda ao fundo também são marcas registradas do local. Um dos atrativos para os pequenos é o famoso medidor de numeração dos calçados. “Não há criança que entre aqui e não vá correndo ver se os pés já cresceram”, conta Katy Borger, filha de seu André.
Empresa familiar que já está na quarta geração, hoje a loja tem uma representante da terceira geração no comando. Katy Borger atribui o sucesso do negócio ao conservadorismo de seu André. “Meu pai nunca quis vender um sapato de moda. A nossa especialidade é sapato de couro. Social, colegial. Quando eu estudava no colégio Dante Alighieri, era obrigatório sapato de couro. O das meninas tinha uma fivela de couro e o dos meninos era amarrado. E era na Casa Tody que todo mundo comprava.”A loja tem à venda 40 mil pares de sapatos. Com um atendimento diferenciado, funcionários – que já são praticamente da família Casa Tody – atendem os mesmos clientes há 15, 20, 30 anos. Israel Pereira Lessa, gerente que começou como vendedor, completa este ano 36 anos de casa.
E, para comemorar os 60 anos do empreendimento, várias novidades estão sendo preparadas. Um ano festivo para marcar o término de um ciclo e o início de outro. Pois se depender da disposição e dedicação dos que fazem a Casa Tody, os próximos 60 anos serão comemorados assim como os primeiros: acompanhando as novidades, mas sempre conservando o estilo que é a marca da loja.
“A Rua Augusta sempre foi o maior referencial de sapatos, roupas e tecidos. Minha avó fazia compras lá. Minha mãe sempre fez compras lá, pois no interior não tinha opções. Já comprei muitos tênis e sapatinhos para minha filha Dudi lá. É uma loja completa, ótimo atendimento, ampla e com bom preço!” Karina Magnusson Maschietto, empresária, mãe de Dudi
“Lembro que a dona Maricy Trussardi vinha grávida comprar sapatinhos para todos os filhos. Meu avô – que era muito galanteador – andava de camisa de manga curta e gravata-borboleta. Ele beijava a mão dela e falava: ‘Agora a senhora vai ter um menino.’ E vinha um menino. Ele era muito amigo dos clientes.” Katy Borger, filha de seu André
“Era meu programa preferido escolher meus sapatos na Casa Tody, e hoje não é diferente. Levo minha filha Antônia e quase sempre a vovó Ligia Lowndes Valot está junto! A tradição que atravessa gerações.”Renata Lowndes Kowarick, assessora de comunicação, mãe de Antônia
“Em 1968 eu comprei esta loja do seu André, onde estou até hoje. Antes de mudarem para a casa da frente, era aqui que ficava a Casa Tody. Há mais de 40 anos nos encontramos quase que diariamente e somos muito amigos, como irmãos. Sempre chego às 7 horas da manhã para trabalhar e encontro seu André chegando também. Se um ou dois dias eu não apareço na loja, seu André já vem aqui perguntar o que aconteceu. Eu faço o mesmo com ele. Sou libanês e eles são judeus. Somos todos filhos de Deus. A gente tem que respeitar os outros para ser respeitados. Política nunca entra nas nossas conversas.” Osman Ali El Ghazzaoui, pai de Rhanda, Rhima, Rhamis e Tarhek, é libanês e dono de uma loja de tecidos que fica em frente à Casa Tody
