Para alguém que construiu seu senso de identidade com base no seu papel profissional (como eu), a maternidade pode ser AVASSALADORA.
Eu fui atropelada pelo bebê que berrava desesperado por disponibilidade e conexão. Vi minha agenda ser demolida por otites, refluxos, bronquiolites e febres, muitas febres. Vi minha autonomia escorrer pelo ralo enquanto precisava da ajuda de vizinhos, creches, babás e muitas pessoas estranhas que passei a amar e a depender.
Doeu. Doeu muito! Consigo entender frases como: “amo meu filho mas odeio ser mãe” ou “caí no esquema da maternidade compulsória e sou uma mãe arrependida”.
Entendo quem sente assim e agradeço por poder dizer que NÃO É o meu caso. Mas quase foi. Só não foi porque consegui atravessar o portal.
Sabe o portal?
Aquele que nos convida a olhar pra gente mesmo, pra nossa história, pra nossa infância, pra forma como a gente se tornou pessoa e repassar tudo, ponto a ponto.
A maternidade é a nossa segunda chance dada por Deus. Para mim Ele olhou e disse: “Você acha que você é o que você faz? Não, filha minha, você é maior do que isso na essência e a tua entrega é, na verdade, uma parte pequena da Minha obra que é gigante e CONTA com você mas não DEPENDE de você! VOCÊ PODE PARAR PARA SER MÃE.”
O portal da maternidade me levou a me conhecer de outras formas, me tirou do piloto-automático do modo FAZER-HUMANO e me fez voltar a SER-HUMANO e, assim, fortalecer minha conexão com o Divino. Uau!
Fiquei muito melhor depois que fui mãe. E ficar melhor dói pra caramba!
E fiquei mais humilde também com a consciência de que sou importante mas nem tanto. Entende? É complexo mesmo.
Mas depois de levantar perguntando se alguém anotou a placa daquele veículo de 3kg que me atropelou e quase me detonou, consegui ver sentido em todo o sofrimento. Eu precisava viver tudo aquilo pra chegar até aqui. Ele precisava viver tudo aquilo e por isso me escolheu como mãe.
E, mesmo não desejando os 3 primeiros anos da minha maternidade para ninguém, eu sou muito grata por ter vivido tudo exatamente como foi.
Hoje, aos 12 anos do meu filho, me preparo para voltar a alçar voos maiores na carreira, e me sinto mais consciente e preparada do que nunca exatamente por ter conseguido atravessar o portal de dor, sofrimento e aprendizado que a maternidade trouxe. Não é fácil ser mãe.
Se você fez sua identidade baseada no seu papel profissional, multiplique a frase anterior por 10. E acredite: possivelmente somos nós as que mais precisamos ser salvas de nós mesmas pela maternidade!
MEU FILHO ME SALVOU DE MIM!
Mas nem vem perguntar: “Quando vem o segundo, já que foi tão potente assim?” Não vem!Só se Deus quiser, né… Fora isso, por mim, chega!