No último dia 9 de janeiro, a cidade de Ubatuba, no litoral paulista, foi palco de um trágico acidente aéreo. Um avião particular, que transportava cinco pessoas, se acidentou enquanto tentava pousar, atravessando uma avenida, colidindo com uma praça e finalmente se estilhaçando na praia. O impacto gerou uma coluna de fogo e fumaça, mas, surpreendentemente, quatro dos ocupantes, incluindo duas crianças, sobreviveram. O piloto, infelizmente, não resistiu aos ferimentos. Mas o que teria tornado possível essa sobrevivência, em meio a uma explosão tão devastadora?
Especialistas explicaram ao G1 que, embora o acidente tenha sido grave, uma série de fatores contribuíram para a sobrevivência dos passageiros, incluindo a presença de pequenos obstáculos que diminuíram a força do impacto, a atuação da água do mar no controle das chamas e o fato de um dos passageiros ter permanecido consciente e ajudado no resgate. A combinação desses elementos foi essencial para garantir que a tragédia não resultasse em mais vítimas fatais.
De acordo com o especialista em gerenciamento de riscos, Gerardo Portela, cada obstáculo que a aeronave encontra ao longo de seu trajeto pode ter o efeito de dissipar um pouco da energia e da força do avião. No caso desse acidente, a aeronave passou por uma série de barreiras que reduziram a intensidade da queda e da explosão. Entre elas, estavam o gramado, o gradil do aeródromo, equipamentos de uma praça de skate, uma mureta, areia e, por fim, o mar.
Embora os obstáculos não tenham sido grandes o suficiente para causar uma parada imediata da aeronave, eles desempenharam um papel importante em diminuir a velocidade e a força do impacto. O momento crítico ocorreu quando o avião se chocou com a praça de skate. O tanque de combustível localizado na asa foi rompido e, em seguida, explodiu. A asa se separou do corpo principal da aeronave, mas o combustível restante foi consumido rapidamente na explosão inicial.
A sequência de eventos é essencial para entender como as chamas não tomaram conta da aeronave de forma irreversível. Após a ruptura do tanque de combustível, o fogo foi parcialmente interrompido pelo contato da fuselagem com a água do mar. Quando a aeronave chegou à praia e o nariz do avião tocou a areia, o impacto fez com que a fuselagem capotasse, absorvendo a energia remanescente do movimento. Esse processo foi crucial para diminuir a propagação do fogo, ajudando a preservar a vida dos ocupantes.
O especialista Miguel Angelo, diretor de segurança operacional da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves, ressalta que o fogo, que poderia ter sido devastador, foi controlado, em parte, pelo fato de a fuselagem ter tocado a água. “O contato com o mar tem um efeito de contenção, reduzindo a intensidade das chamas”, explicou Angelo.
Outro fator decisivo para a sobrevivência da família foi a atuação do pai, que permaneceu consciente após o impacto. Segundo a Capitã Érica Ramalho, que participou do resgate, o pai estava orientado e foi fundamental na retirada das vítimas. “Após retirar as crianças, ele abriu a porta do lado oposto ao que estávamos trabalhando e saiu consciente e orientado”, contou a capitã.
Esse detalhe foi crucial para agilizar o resgate, pois permitiu que os socorristas tivesse acesso mais rápido às vítimas. Além disso, a presença de um passageiro consciente também evitou que os outros familiares ficassem desorientados ou em pânico, facilitando a evacuação do local.
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Embora ainda não se saiba se todos os passageiros estavam utilizando o cinto de segurança no momento do impacto, especialistas apontam que é altamente provável que sim. “Para sair sem lesões aparentes, só com a hipótese de que estavam com os cintos de segurança afivelados”, disse a Capitã Érica Ramalho. O cinto de segurança é um dos itens mais importantes para a segurança dos passageiros em casos de acidentes, ajudando a evitar lesões graves durante os impactos. Caso os passageiros tenham utilizado o cinto, ele pode ter sido um fator vital para a sobrevivência sem lesões mais sérias.
No entanto, o piloto, Paulo Seguetto, não teve a mesma sorte. Preso nas ferragens da aeronave, ele não resistiu aos ferimentos e faleceu antes que pudesse ser socorrido. O piloto era experiente, com mais de 20 anos de atuação na aviação, e sua morte gerou grande comoção entre familiares e colegas.
O que pode parecer um milagre para muitos, na realidade, pode ser explicado por uma combinação de fatores físicos, que, segundo Gerardo Portela, podem ser descritos como “milagres que acontecem com a física e sua combinação de fatores”. De fato, a interação entre o impacto do avião, os obstáculos no caminho, a água do mar e a presença de um passageiro consciente criaram uma série de condições que, juntas, favoreceram a sobrevivência dos ocupantes.
Para Portela, o fato de a aeronave ter conseguido atravessar os obstáculos sem perder completamente sua integridade estrutural foi fundamental para reduzir a gravidade do acidente. A física dos impactos e a dissipação da energia ao longo do caminho ajudaram a minimizar os danos à fuselagem, permitindo que os passageiros sobrevivessem à explosão.