A relação entre saúde mental e fertilidade tem sido cada vez mais estudada, e uma nova pesquisa reforça essa conexão. Um estudo revelou que mulheres diagnosticadas com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e ansiedade apresentam menores níveis do hormônio antimülleriano (AMH), um marcador essencial para avaliar a reserva ovariana. Publicada no Journal of Women’s Health no final de 2024, a pesquisa destaca os possíveis efeitos negativos das condições psicológicas na saúde reprodutiva.
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Como o estresse afeta a fertilidade?
O hormônio antimülleriano é um indicador da quantidade de óvulos disponíveis nos ovários. Quanto menor seu nível, menores as chances de gravidez natural. “A reserva ovariana é o número de óvulos saudáveis nos ovários que podem ser potencialmente fertilizados. É uma medida da fertilidade e da capacidade de engravidar”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, pai de Giovanna e Rafael, colunista da Pais&Filhos, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime.
Segundo o estudo, mulheres que sofrem com TEPT apresentaram uma redução de 66% nos níveis de AMH, enquanto aquelas com ansiedade associada ao transtorno tiveram uma redução de 33%. Esses achados sugerem que o impacto do estresse crônico na fertilidade pode estar relacionado a mecanismos inflamatórios e hormonais.
Por que o estudo analisou mulheres bombeiras?
A pesquisa se concentrou em mulheres bombeiras porque elas estão frequentemente expostas a situações de alto estresse, traumas e exposições químicas, fatores que podem aumentar a incidência de TEPT. “Pesquisas anteriores mostraram que as mulheres bombeiras têm níveis mais baixos de hormônio antimülleriano em comparação com mulheres que não atuam na profissão; no entanto, o motivo era desconhecido”, explica o Dr. Rodrigo.
Os pesquisadores buscaram determinar se transtornos psicológicos como ansiedade, depressão e TEPT estavam associados aos baixos níveis de AMH. “Quando os indivíduos com TEPT foram excluídos da análise, a associação entre ansiedade e baixa reserva ovariana deixou de ser estatisticamente significativa”, completa o especialista.
Inflamação crônica e o impacto na ovulação
Uma das hipóteses levantadas pelos autores do estudo é que a inflamação crônica provocada pelo TEPT pode ser um dos fatores que explicam essa relação. “Estudos anteriores já associaram TEPT e ansiedade à inflamação crônica, e essa inflamação também foi relacionada a níveis reduzidos de hormônio antimülleriano”, destaca o Dr. Rodrigo.
O estresse também pode interferir na ovulação ao reduzir a liberação do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), levando à diminuição dos hormônios LH e FSH, que são essenciais para o ciclo ovulatório.
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O que fazer diante da baixa reserva ovariana?
Mulheres com baixa reserva ovariana não necessariamente precisarão de um tratamento de reprodução assistida para engravidar, mas o tempo é um fator importante. “Se ela tem menos de 40 anos e está tentando engravidar há seis meses a um ano sem sucesso, é uma boa ideia buscar orientação médica. Já para mulheres acima dos 40 anos, a reprodução assistida pode ser um caminho mais indicado”, recomenda o Dr. Rodrigo.
Além disso, o tratamento da saúde mental deve ser considerado como parte essencial do cuidado com a fertilidade. Buscar apoio psicológico e psiquiátrico pode ajudar a reduzir os impactos do estresse crônico na saúde reprodutiva.