Quando a criança demora a falar, é natural que surjam dúvidas sobre os motivos por trás desse atraso. Para esclarecer essas questões, um estudo recente publicado na revista científica EC PHARMACOLOGY AND TOXICOLOGY, no Reino Unido, analisou as diferenças entre atraso de linguagem e Transtorno do Espectro Autista (TEA), trazendo novas respostas para um diagnóstico mais preciso.
A pesquisa foi realizada pelo Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, pós-PhD em Neurociências e especialista em Genômica, e pelo Dr. Flávio Henrique dos Santos Nascimento, médico psiquiatra pós-graduado em Neurociências. O estudo reforça que, apesar de algumas semelhanças, o atraso de linguagem e o TEA têm diferenças significativas que precisam ser levadas em conta para um tratamento adequado.
Como diferenciar atraso de linguagem e TEA
Nem toda criança que demora a falar tem autismo. De acordo com os pesquisadores, crianças com atraso de linguagem costumam apresentar dificuldades na fala, como trocas de sons previsíveis (“pexe” em vez de “peixe”), que podem indicar condições como Transtorno dos Sons da Fala (TSF) ou apraxia da fala. No entanto, diferente do TEA, essas crianças mantêm interesse ativo por interações sociais e não apresentam padrões repetitivos de comportamento.
Já no TEA, o atraso de linguagem costuma vir acompanhado de outros sinais, como rigidez cognitiva, dificuldade na reciprocidade social e padrões de comportamento repetitivos. “Crianças com autismo tendem a apresentar rigidez cognitiva, dificultando a adaptação da produção da fala a diferentes contextos. Por outro lado, crianças com atraso de linguagem sem TEA geralmente têm maior flexibilidade cognitiva”, explica o Dr. Fabiano de Abreu Agrela.

Possíveis causas do atraso de linguagem
O atraso na fala pode ter diversas origens. O estudo aponta que fatores genéticos e neurológicos, como mutações no gene FOXP2 e alterações em regiões cerebrais como o córtex pré-frontal e a amígdala, podem impactar diretamente a aquisição da linguagem.
Além disso, complicações no nascimento, como falta de oxigenação (hipóxia), prematuridade e infecções congénitas, também podem afetar o desenvolvimento da fala. “Complicações neonatais podem impactar diretamente as áreas cerebrais responsáveis pela linguagem, e muitas vezes os sintomas são confundidos com sinais do TEA”, destaca o Dr. Fabiano.
Diagnóstico correto faz toda a diferença
Identificar corretamente se uma criança tem apenas atraso de linguagem ou se há sinais de TEA é essencial para oferecer o suporte adequado. Crianças com Transtorno dos Sons da Fala podem se beneficiar bastante da terapia fonoaudiológica especializada, enquanto crianças com Transtorno do Espectro Autista precisam de uma abordagem mais ampla, que inclua também estratégias para melhorar a cognição social.
O estudo reforça a importância da intervenção precoce, pois o tratamento adequado pode garantir avanços significativos na comunicação da criança. “Estratégias como treinamento auditivo, práticas articulatórias e exercícios de coordenação motora ajudam na reestruturação da percepção fonológica. No TEA, terapias comportamentais e fonoaudiológicas combinadas são mais eficazes”, explica o Dr. Fabiano.
Um olhar atento é essencial
Se a criança está demorando a falar, buscar uma avaliação especializada é essencial. O estudo conduzido pelos pesquisadores do projeto RG-TEA reforça a necessidade de um diagnóstico cuidadoso, levando em conta aspectos neurológicos, genéticos e comportamentais.
Com informação e acompanhamento adequado, é possível garantir o melhor caminho para o desenvolvimento da linguagem e da comunicação da criança, respeitando sempre suas necessidades individuais.