Mesmo em países que estão anos luz à frente na garantia de direitos iguais para pais e mães, as mulheres carregam constantemente um sentimento de culpa, e acham que estão falhando, tanto na maternidade quanto no trabalho. Estamos nos cobrando demais. E assim vamos nos desgastando, ficando sem paciência, sem energia para cuidar de nós mesmas.
Mesmo quando alguém se dispõe a compartilhar o desafio que é educar um filho, temos a tendência de puxar o mais pesado para nós, mães. Ou ficamos tentando gerenciar cada passo da pessoa que vai cuidar do nosso filho. Pior, ainda vamos depois investigar como foi, ao invés de simplesmente seguir adiante.
Você não precisa definir tudo o que seu filho vai fazer no tempo livre. Nem precisa garantir que ele sempre terá um adulto planejando, montando, desmontando cada brincadeira. Brincar com seu filho é importante. Talvez a brincadeira esteja entre os momentos que mais deixarão marcas positivas para sempre, ajudando a tornar o alicerce emocional e cognitivo sólido para suportar o que vier depois.
O que geralmente um pai faz ao ler isso? Brinca mais com o filho, sempre que possível. O que uma mãe faz quando lê isso? Deixa toda a vida dela em segundo plano e tenta encaixar absolutamente todas as outras atividades nos momentos de sono do filho, porque enquanto ele estiver acordado, “ela tem que brincar com ele!”. Somos intensas demais.

Passou da hora de assimilar que não somos, e não devemos sonhar em ser, as pernas, os braços, os pensamentos dos nossos filhos. Adivinhar o que seu filho quer ou precisa quando ele é um bebê, ótimo. Antecipar o que ele já pode pedir quando aprende a falar, não faz bem a ninguém. Fazer por ele o que ele já tem capacidade para tentar realizar, ainda que não saia perfeito e exija esforço, isso traz prejuízo a todos. E não só porque você vai ficar esgotada, não só porque você vai impedir que seu filho se desenvolva, não só porque você vai tornar pai e filho distantes: por tudo isso e também porque seu filho vai se tornar exigente, carente, inseguro, incapaz de enfrentar as batalhas que são dele.
E, acima de tudo, vai querer voar quando as asas ainda não estiverem prontas, porque vai sentir buscar um ambiente no qual ele possa sentir que é capaz, que alguém aceita que ele tente quantas vezes forem necessárias até aprender. Super herói seu filho quer ver nos livros ou nas telas. Dentro de casa, nossos filhos querem é mãe mesmo. Mãe que assume “hoje não consigo”. Mãe que pede ajuda. Mãe que diz “vai lá e toma banho direitinho que a mamãe espera aqui no sofá para ver que pijama você escolheu hoje”.
E aproveita para esticar as pernas, tranquila como quem confia que o filho é capaz, porque tem uma mãe que é só mãe, sem nenhum “super” atrelado a essa palavra já tão suficiente sozinha mesmo.