Um artigo publicado no Journal of Human Lactation traz uma nova perspectiva sobre os impactos da amamentação para além da nutrição e da imunidade infantil: segundo os autores, a amamentação pode exercer um papel preventivo importante contra a apneia obstrutiva do sono (AOS), tanto na infância quanto na vida adulta.
A apneia do sono é uma condição caracterizada por interrupções repetidas da respiração durante o sono, podendo causar roncos, cansaço extremo, alterações de comportamento, distúrbios do crescimento em crianças e, nos adultos, doenças graves como hipertensão, diabetes tipo 2, infarto e AVC.
De acordo com os pesquisadores, o uso precoce e prolongado da mamadeira está associado a alterações no desenvolvimento ósseo da face, como a deficiência do crescimento mandibular (queixo para trás) e uma má formação da maxila (osso do palato), levando à respiração bucal e ao estreitamento das vias aéreas superiores. Essas alterações estruturais aumentam significativamente o risco de apneia do sono.
“Estudos mostram que crianças amamentadas por mais de um ano têm taxas muito menores de alterações ortodônticas e respiratórias quando comparadas às que nunca foram amamentadas”, explicam os autores. Em um dos estudos citados, a taxa de mordida cruzada posterior foi de apenas 2,2% entre os que foram amamentados por mais de um ano, contra 31,1% entre os que nunca foram.

Outro dado preocupante apresentado na publicação é que entre 50% e 60% das crianças brasileiras são respiradoras orais, condição considerada uma das complicações mais sérias associadas à ausência de amamentação prolongada. A respiração pela boca está ligada a problemas como otites, sinusites, alterações posturais, ronco, distúrbios de sono e dificuldades de aprendizado.
Em adultos, essas alterações ósseas causadas na infância podem persistir e agravar os quadros de apneia do sono. O artigo aponta que procedimentos ortodônticos como a expansão rápida da maxila (em crianças e adultos) e o avanço mandibular cirúrgico (em adultos) têm mostrado melhora significativa nos sintomas de apneia, o que reforça o papel da anatomia facial na origem do distúrbio.
Os autores reforçam que a pesquisa não busca afirmar que a mamadeira causa diretamente apneia do sono, mas que há evidências suficientes de que o uso da mamadeira pode alterar o crescimento ósseo facial e, por consequência, aumentar o risco da doença. A amamentação, nesse contexto, ganha ainda mais relevância como fator de prevenção de distúrbios respiratórios a longo prazo.
Segundo o estudo, promover o aleitamento exclusivo nos primeiros meses de vida e mantê-lo por tempo prolongado deve ser uma estratégia de saúde pública não apenas por seus efeitos nutricionais e imunológicos, mas também pela sua influência no desenvolvimento anatômico e funcional das vias respiratórias.
Fonte: Vinha, P. P., & de Mello-Filho, F. V. (2017). Evidence of a Preventive Effect of Breastfeeding on Obstructive Sleep Apnea in Children and Adults. Journal of Human Lactation. DOI: 10.1177/0890334416682006