Hoje, na minha sessão de terapia, pedi um tempo para o meu analista. Não deitei no sofá, fiquei sentada na poltrona, de frente pra ele, com o celular na mão. Eu estava terminando de escrever um texto, tinha tido uma ideia e não queria perdê-la. Ele esperou. Serenamente. Tomou um gole de água, me olhou e falou: “Você não precisa fazer com pressa, pode fazer com calma, como uma criança quando brinca.” Fiquei em silêncio, ele completou: “É como a mãe com o bebê. Ela está por perto, mas deixa o bebê ficar sozinho com as próprias coisas.”
Naquele instante, larguei o celular. Eu não tinha me dado conta de que, quando escrevo, sinto tanto prazer que parece que estou brincando. “Sim”, ele disse, “esse é também um jeito de crescer, se tornar adulto e seguir brincando.” Percebi que escrever, para mim, é um lugar muito prazeroso — um espaço onde posso estar só, mas acompanhada de mim mesma.
Depois, ele mencionou um texto do pediatra e psicanalista Donald Winnicott, que se chama “A capacidade de estar só.” À noite, fui atrás do texto — Winnicott dizia que essa capacidade nasce quando a criança experimenta, desde cedo, a presença da mãe. Aquela presença que dá segurança para brincar, imaginar, criar, uma presença suficiente. Quando isso acontece, o bebê sente que pode ficar só — porque a mãe continua dentro dele.

Fiquei pensando na minha própria angústia quando fico sozinha, nem sempre, mas, às vezes, ela me pega. Talvez minha mãe não tenha sido suficiente naquela fase para mim. Então perguntei ao meu analista: “Quem não teve isso, é possível reparar?” Ele me disse que sim, assim como estava fazendo comigo nessa sessão.
Fora do contexto analítico, que, infelizmente não é uma realidade para todos, o texto do Winnicott me fez pensar que sim — essa é uma conquista possível, um aprendizado que vem das relações de confiança, das amizades, das professoras, das redes de afeto que nos acolhem.
Aprender a desenvolver a capacidade de estar só é também aprender a escolher a companhia de quem se quer por perto. Talvez seja esse um dos aprendizados mais importantes que possamos nos dar nessa vida, afinal, segundo Winnicott, esse é um sinal importante de amadurecimento do desenvolvimento emocional. Estarei ficando madura?








