Há encontros que acontecem quase sem querer, mas acontecem. Foi assim com a Simone Siebra, que aconteceu em Lisboa. Ela é gaúcha como eu, mãe, madura, dessas mulheres que descobriram — às vezes pela dor, às vezes pela exaustão — que nenhum cargo vale a saúde física e mental. Simone contou sua história com emoção e brilho nos olhos. Falou do corpo que pede pausa, da mente que dá sinais, das escolhas que fez quando entendeu que sucesso não pode ser sinônimo de adoecimento.
A sala do encontro ficava num cantinho discreto, em um dos imensos espaços ocupados pela Web Summit, um lugar pequeno chamado Community. Havia algo ali que puxava a gente. Quando cheguei, encontrei um grupo de mulheres de muitos lugares, muitos caminhos, muitas histórias. Todas, de algum modo, buscávamos a mesma coisa: pertencimento, respiro, verdade.
Entre nós, estava uma mãe com seu bebê dormindo no carrinho. A cena me tocou. Há alguns anos, talvez ela tivesse sido olhada de lado. Hoje não, felizmente. Hoje abrimos espaços, acolhemos, entendemos. Sabemos o quanto pode ser precioso para uma mãe sentar, respirar e escutar outra mulher dizendo, com todas as letras, que cuidar de si não é luxo — é sobrevivência.

Enquanto Simone falava sobre reencontrar o próprio corpo, reorganizar prioridades e reconstruir a vida a partir de outras escolhas, senti que todas nós estávamos sendo tocadas. Não por fórmulas de produtividade, mas pela coragem de admitir fragilidades. Ali, naquela pequena sala perdida no meio do mundo, fomos lembradas de algo simples e, ao mesmo tempo, essencial: não há potência possível sem cuidado. Não há brilho profissional se o corpo está gritando. Não há sucesso que compense a desconexão de si mesma.
Saí dali com a sensação de que a fala dela não foi apenas uma palestra — foi um abraço coletivo entre mulheres que, de um jeito ou de outro, seguem tentando equilibrar trabalho, maternidade, vida e sanidade. E, no fundo, buscando aquilo que Simone encontrou: um caminho mais leve, mas não menos verdadeiro. Um caminho para si.
Na saída, conversamos, trocamos contatos, nos abraçamos. Minutos depois, me dei conta de que tinha esquecido a minha bolsinha, que costumo não largar nem por um minuto, ainda mais em viagem internacional, pois nela guardo meu passaporte. Fiquei assustada e perdida quando percebi o que tinha acontecido, então pedi ajuda a uma jovem que estava trabalhando no evento, e ela prontamente me levou até o local da palestra. Chegando lá, minha bolsinha tinha sido guardada por outra mulher que estava na sala.
Nos olhamos e sorrimos, aliviadas.
Sim, juntas somos mais fortes — em qualquer lugar.










