Há muito se sabe que, na fertilização in vitro (FIV), o momento da transferência de embriões é fundamental para as chances de engravidar. Agora, pesquisadores da RMIT University, na Austrália, descobriram uma maneira de identificar melhor o momento em que o útero está pronto para a gravidez, o que contribuirá para o aumento das taxas de sucesso da FIV, que permanecem, em média, abaixo de 50%.
Para isso, os pesquisadores identificaram uma molécula semelhante ao ‘teflon’, que torna a superfície do útero escorregadia e impede que os embriões se implantem. A equipe descobriu que os níveis dessa molécula na superfície do útero diminuem em um determinado ponto do ciclo menstrual. A identificação dessa molécula abre a possibilidade de entender qual a “janela de ouro” para o sucesso da gravidez.
Anteriormente, as pesquisas procuravam algo que ajudasse os embriões a ‘grudar’, mas a parte vital do quebra-cabeça se revelou como uma molécula escorregadia que tem o efeito oposto – impede que eles grudem. O estudo encontrou uma diferença significativa nas taxas de sucesso da FIV quando os embriões foram transferidos enquanto a molécula estava presente ou ausente na superfície do útero.
Espera-se que, com mais desenvolvimento, essa descoberta possa ajudar a identificar precisamente quando cada paciente tem a maior chance de engravidar. O estudo clínico retrospectivo examinou os níveis da molécula anti-implantação, conhecida como podocalixina (PCX), no endométrio de 81 mulheres em tratamento de FIV. A biópsia do útero foi feita na fase lútea média (cerca de sete dias após a ovulação) do ciclo menstrual da mulher, um ciclo completo antes da transferência do embrião congelado.
Enquanto as mulheres com baixos níveis de PCX tiveram uma taxa de sucesso de gravidez de 53%, aquelas mulheres onde a molécula não foi reduzida tiveram uma taxa de sucesso de apenas 18%. Dessa forma, o estudo sugere medir os níveis de PCX na fase lútea média como um teste de triagem.
Essas descobertas oferecem um caminho promissor para melhorarmos as taxas de sucesso da FIV e, potencialmente, tratar uma causa subjacente de infertilidade. A equipe de investigação já começou a trabalhar para compreender melhor o papel do PCX e como é regulado no organismo, com o objetivo de desenvolver tratamentos para a infertilidade.
A análise da molécula poderia ser feita em um laboratório de patologia padrão, tornando-se relativamente econômico para implementar um teste de triagem futuro. A única maneira de testarmos o PCX atualmente é por meio de biópsias de tecido, que não podem ser feitas no momento da transferência dos embriões. Precisamos de mais pesquisas para desenvolver abordagens não invasivas e em tempo real para medir PCX no dia da transferência de embriões.