A rotina de sono dos bebês sempre levanta muitas dúvidas entre os pais. Afinal, quem nunca passou noites tentando fazer o filho dormir e, no final, viu a criança cheia de energia às 22h? Mas, segundo o Dr. Fabiano de Abreu Agrela, pós-PhD em neurociências e especialista em neurociências da educação, esse hábito pode trazer consequências sérias para o desenvolvimento do cérebro e até para a saúde mental na vida adulta. O especialista explicou por que esse assunto merece atenção, e deu dicas práticas de como ajudar o bebê a ter um sono mais saudável e reparador.
O papel do sono no cérebro dos bebês
Dormir não é só recarregar as energias para o dia seguinte. Para os bebês, o sono tem um papel essencial na formação e desenvolvimento do cérebro. Durante o sono, acontece uma verdadeira “organização interna”: o cérebro arruma as memórias, fortalece as conexões entre os neurônios e libera hormônios fundamentais, como a melatonina.
“A melatonina é como um sinal que o corpo dá para dizer ao cérebro que é hora de descansar. Ela ajuda a regular o sono e protege o cérebro, promovendo seu desenvolvimento saudável”, explica o Dr. Fabiano de Abreu Agrela.
O problema é que, quando os bebês vão dormir muito tarde, essa engrenagem toda fica bagunçada. “Se a criança burla o horário natural de liberação da melatonina, que geralmente começa ao anoitecer, o cérebro fica em um estado de alerta por mais tempo do que deveria. Isso pode desregular o ritmo biológico e causar estresse no sistema nervoso”, completa o neurocientista.
Por que bebês que dormem tarde ficam mais irritados?
Outro ponto que costuma deixar os pais preocupados: aquele bebê que, no dia seguinte, acorda choroso, impaciente e se irrita com qualquer coisa. Isso também tem explicação na neurociência. “Quando o bebê dorme tarde, o cérebro não tem tempo suficiente para processar as emoções do dia. É como se ele ficasse sobrecarregado, o que leva a maior irritabilidade, choro e dificuldade para se acalmar”, afirma o Dr. Fabiano.
Esse quadro de irritação constante pode ir além de um problema passageiro. “O cérebro de um bebê está em formação, e o sono é crucial para criar conexões saudáveis entre os neurônios. Se esse processo é constantemente interrompido, pode haver impactos a longo prazo”, alerta o especialista.

Como o sono tardio pode afetar a saúde mental no futuro
Talvez a parte mais preocupante do alerta do Dr. Fabiano esteja na relação entre sono irregular na infância e problemas emocionais na vida adulta. “Bebês que dormem muito tarde, mesmo que compensem acordando mais tarde, podem ter maior probabilidade de desenvolver problemas como ansiedade, depressão ou outros transtornos mentais no futuro. Isso acontece porque o cérebro, quando jovem, precisa de rotinas estáveis para se desenvolver de forma equilibrada”, explica.
Tudo isso está diretamente ligado à produção de neurotransmissores, como serotonina e dopamina, substâncias fundamentais para regular o humor e o bem-estar. “Quando esses neurotransmissores ficam desregulados na infância, o cérebro pode se acostumar a funcionar de maneira menos equilibrada, o que aumenta o risco de problemas emocionais mais tarde”, completa o neurocientista.
Mas nem todo bebê que dorme tarde terá problemas
Antes de criar alarde, o Dr. Fabiano faz uma ressalva importante. Nem todo bebê que dorme tarde está condenado a problemas futuros. “Alguns bebês, especialmente aqueles com sinais de altas capacidades intelectuais, como superdotação, podem precisar de menos horas de sono. Isso é natural e não prejudica o desenvolvimento, desde que seja acompanhado por um pediatra ou especialista”, explica.
O segredo está em observar os sinais. “Se o bebê está irritado, agitado ou mostra sinais de desconforto, é hora de avaliar a rotina de sono”, reforça o especialista.
O que fazer para ajudar o bebê a dormir melhor
O neurocientista também compartilhou dicas práticas para ajudar a criar uma rotina mais saudável:
- Crie uma rotina fixa: Sempre que possível, tente colocar o bebê para dormir no mesmo horário, de preferência antes das 21h. Esse é o período em que o corpo naturalmente começa a produzir mais melatonina.
- Cuidado com as telas: Televisão, celular e tablet antes de dormir? Melhor evitar. “A luz azul das telas engana o cérebro, fazendo-o pensar que ainda é dia. Mesmo televisão, apague-a 20h no máximo”, alerta Dr. Fabiano.
- Prepare o ambiente: Um quarto escuro, silencioso e com temperatura agradável ajuda o bebê a relaxar e pegar no sono com mais facilidade.
- Esteja atento aos sinais: Se o bebê estiver muito agitado ou tiver dificuldades frequentes para dormir, o ideal é buscar orientação de um pediatra.
“Os pais não devem se desesperar, mas precisam entender que o sono é uma peça-chave para o desenvolvimento do cérebro. Pequenas mudanças na rotina podem fazer uma grande diferença”, orienta o especialista.
Cuidado com o uso de melatonina
Por fim, um aviso importante: nada de recorrer por conta própria a suplementos de melatonina para resolver o problema. “Dar suplementos de melatonina sem orientação médica pode atrapalhar o desenvolvimento natural do bebê. Cada criança é única, e o uso de qualquer suplemento deve ser avaliado por um profissional com base no histórico dela”, afirma o Dr. Fabiano.
O melhor caminho sempre será apostar em hábitos saudáveis desde cedo. “O cérebro do bebê é como uma esponja, absorvendo tudo. Uma rotina de sono bem estruturada é um presente para a saúde mental dele no futuro”, finaliza o especialista.
Com mais de 300 estudos publicados e uma carreira consolidada na neurociência, o Dr. Fabiano de Abreu Agrela reforça um ponto essencial: o sono dos bebês vai muito além de descanso, é um investimento no futuro.