A história contada por uma mãe que é formada em Pedagogia com Habilitação em Educação Especial, e tinha o desejo de trabalhar com crianças com deficiência não imaginava que criaria a Associação Brasileira Intersexo a partir do nascimento do próprio filho.
Thais Emília de Campos dos Santos, deu à luz Jacob que aos sete meses de gestação, por meio de exames foi identificada a ambiguidade sexual do bebê: “Eu não me importei com o sexo, entendia a condição como um corpo não binário, apenas isso. As leituras no mestrado me fizeram uma pessoa livre de pensar a sexualidade em caixinhas”, explicou a pedagoga.
As pessoas que nascem com alguma variação nas características que definem o sexo (binário), ou seja, genitálias, gônadas, cromossomos e resposta hormonal são consideradas pessoas intersexo.
Além de ser um bebê intersexo, Jacob, nasceu com microcefalia e também com uma cardiopatia considerada grave e isso era o que mais preocupava Thais: “Esses, sim, eram meus maiores medos e problemas. Contudo, o órgão genital de Jacob foi a maior preocupação das equipes médicas do hospital que o submeteram a diversos exames e ultrassons, pretendendo definir seu sexo. Depois de muito tempo, os médicos recomendaram uma cirurgia de designação sexual, que recusamos”, explica Thais Emília.
Pela falta de definição sobre o sexo do bebê, o hospital em que ele nasceu, não quis emitir a Declaração de Nascido Vido (DNV) que é necessária para que a família registre o bebê e tenha a Certidão de Nascimento: “Durante dois meses, não consegui ter acesso à licença-maternidade, nem Jacob ao SUS e ao Convênio de Saúde, até ele ser registrado com o sexo masculino e ter o documento”, contou Thais.
Infelizmente Jacob faleceu um ano e meio depois de ter nascido, mas isso não impediu que os pais dele batalhassem por direitos . Após o ocorrido a mãe de Jacob descobriu um ano e meio depois do nascimento do filho que desde o ano de 2012 é possível registrar bebês sem um sexo definido, ficaria registrado como sexo ignorado que é o que ocorre em casos como o do Jacob que nasceu como bebê intersexo: “Um ano e meio depois de nascer, esse pequeno anjo, símbolo de toda a luta Intersexo, deixou-nos, por um problema cardíaco, mas tudo o que passei me motivou ainda mais a continuar. Finalizar a escrita da minha tese sobre educação de crianças e de adolescentes intersexo não foi fácil. Acho que se existe um plano superior, Jacob está lá e cuidava e cuida de mim”, explicou ela.
No ano de 2018, diversas mães começaram um processo para que a Associação Brasileira Intersexo (ABRAI) fosse regulamentada, e em 2019, a pedagoga Thais, assumiu a presidência que teve o regulamento concluido em 2020.
A luta de Thais continuou, agora em 2022 no mês de julho ela lançou o livro que leva o nome do bebê, “Jacob (y), ‘entre os sexos’ e cardiopatias, o que o fez Anjo”, em que conta a própria história e as experiências que viveu e a causa da luta. A pedagoga e o marido, Elisberto Campos, tem três filhos juntos, ela atualmente também embaixadora Avon na luta contra violência de gênero: “Minha principal luta é para que haja maior conscientização do que é uma pessoa intersexo e que essa comunidade tenha tratamento digno. Isso inclui a saúde e políticas integrais e qualificadas, que não sejam normatizadoras dos corpos e que compreendam a importância do indivíduo poder de decidir pelo próprio corpo e documentação. Colocar uma criança numa ‘caixinha de sexo ignorado’ no registro civil é uma outra maneira de ‘secundarizar’ essa existência”, disse Thais.
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