Eu tenho falado muito. Falo sem parar. Antes mesmo de entender quem fez e porque fez, eu já disparo uma frase de efeito. Até um dia que escutei do serumaninho de três anos: “você pode escutar o que eu tenho pra falar?”.
Ploft.
Eu não fazia isso, afinal o que uma criança de quase três anos tem para falar? Muita coisa, acredite.
(aliás, o meu filho fala muito, muito mesmo!)
Naquele dia, a confusão era porque ele tinha molhado o chão, o irmão escorregou, um colocou a culpa no outro, trocaram acusações e gerou um estresse.
E na minha cabeça é assim: não importa quem começou. Tem de resolver, esclarecer, pedir desculpa e seguir a vida.
Mas ali tinha sido um acidente, uma tentativa de fazer algo bom que deu errado. Acontece.
Fiquei de joelhos, olhei nos olhos de Rafa (que tinha uma garrafa de água nas mãos), puxei Gabi pra perto e passamos a bola pro pequeno: “Mamãe, a planta está com sede. Você viu como ela tá feia? Ela sente sede que nem a gente. E eu quis dar água para ela.”
Era isso: apenas uma tentativa de fazer algo legal de ajudar a plantinha da casa que estava com sede (e estava mesmo).
“Gabi veio correndo e escorregou. Mas não pode correr em casa, não é?”
É, filho, a gente já combinou que não pode.
Eu escutei o meu filho de três anos e, se tivesse feito isso antes, não teria dado aquele esporro desnecessário. Gabriel também entendeu que ele não fez de propósito, não era bagunça. E, na mesma hora, ele achou uma garrafinha com borrifador, colocou água dentro e ofereceu ao irmão para ele molhar as plantinhas da casa.
Os dois me deixaram ali de joelho e partiram para uma aventura de descobrir quais plantas tinham sede. Meus olhos encheram de lágrima, uma culpa se instalou nas minhas costas e eu pensei que preciso ser menos reativa com meus filhos.
Temos dois ouvidos e uma boca para que possamos escutar mais do que falar. O que falta é conseguir por isso em prática. 😉
