Os opioides são medicamentos potentes e essenciais no manejo da dor, especialmente em casos de dor crônica que não respondem a outros tratamentos. No entanto, apesar de sua importância terapêutica, é fundamental entender os riscos associados ao seu uso, bem como a diferença significativa entre o cenário de uso nos Estados Unidos e no Brasil.
A crise dos opioides nos EUA e o contexto brasileiro
Nos Estados Unidos, a prescrição e o uso indevido de opioides desencadearam uma crise de saúde pública conhecida como a “epidemia de opioides”. Entre 2007 e 2012, o uso per capita de opioides aumentou 7,3%, levando a um aumento alarmante de mortes por overdose. Em resposta, diretrizes rígidas foram implementadas, incluindo a necessidade de treinamentos específicos para médicos e a publicação de diretrizes de prescrição pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) para reduzir o uso e o abuso de opioides.
Em contraste, no Brasil, há um cenário de subutilização de opioides para o manejo da dor, devido, em parte, ao medo de dependência e à falta de conhecimento sobre o uso seguro e adequado desses medicamentos. Embora os opioides sejam subutilizados no tratamento da dor crônica e cancerígena, o seu uso, quando bem indicado e monitorado, é crucial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Uso seguro e sob prescrição médica
Os opioides devem ser utilizados sempre sob prescrição médica e com um acompanhamento rigoroso. Seu mecanismo de ação envolve a ligação a receptores específicos no cérebro e na medula espinhal, reduzindo a percepção da dor. Existem diferentes tipos de opioides, desde formulações de liberação imediata para alívio rápido, até as de liberação prolongada, indicadas para dores crônicas persistentes.

Antes de iniciar um tratamento com opioides, é essencial que o médico avalie cuidadosamente os riscos de uso indevido e overdose. Ferramentas de avaliação de risco, como o Opioid Risk Tool, podem ser utilizadas para identificar pacientes com maior probabilidade de desenvolver problemas relacionados aos opioides. Além disso, é importante discutir com o paciente os potenciais benefícios e riscos, estabelecendo metas de tratamento claras e mensuráveis.
Estratégias para minimizar riscos
Para reduzir os riscos associados ao uso de opioides, algumas estratégias incluem o uso concomitante de terapias não opioides, acompanhamento contínuo da eficácia e dos efeitos adversos, e o uso de sistemas de monitoramento de prescrição de medicamentos para evitar múltiplas prescrições. É recomendado evitar o uso de opioides em combinação com outras substâncias depressoras do sistema nervoso central, como benzodiazepínicos e álcool, devido ao risco aumentado de depressão respiratória e morte.
Além disso, a co-prescrição de naloxona, um antídoto para overdoses de opioides, pode ser considerada para pacientes em risco elevado de overdose, como aqueles que utilizam doses altas de opioides ou que têm um histórico de uso concomitante de benzodiazepínicos.
Os opioides desempenham um papel vital no manejo da dor crônica e severa, mas seu uso deve ser sempre pautado pela segurança e controle rigoroso. No Brasil, é necessário um equilíbrio cuidadoso para garantir que os pacientes tenham acesso a esses medicamentos quando necessário, sem cair nos mesmos erros que levaram à crise nos Estados Unidos. A prescrição consciente, o acompanhamento regular e a educação dos pacientes sobre os riscos e benefícios são essenciais para maximizar os benefícios dos opioides no tratamento da dor, minimizando os riscos associados ao seu uso.