Frequentemente, ouvimos determinadas expressões espalhadas por aí, seja em reality shows, novelas ou redes sociais: “Vire homem”. “Seja macho”. Para além das mídias, se você é homem, é provável que tenha ouvido isso bastante na sua infância e adolescência. Mais provável ainda que, se você teve um pai minimamente presente, tenha ouvido isso de seu próprio pai. E, claro, é quase certo que você mesmo tenha falado isso para os seus amigos ou, se você tem filho, que você já tenha falado isso para o seu filho.
Essas expressões são tão naturalizadas que poucas pessoas pensam sobre o que elas realmente querem dizer. Nós, meninos, escutamos isso durante toda a nossa infância, normalmente, como uma forma de reforçar os comportamentos e atributos esperados dos meninos. Ou melhor, comportamentos e atributos que a sociedade espera de um “típico menino”.
E que atributos são esses? O que tem por trás de um “vire homem”? O que um menino faz para ouvir algo assim? Se você parar para pensar um pouco, lembrará rapidamente que os meninos que choram, se descontrolam emocionalmente, mentem, demonstram medo ou vulnerabilidade são os que mais urgentemente precisam “virar homem”. Em outras palavras, são características que denotam o oposto ao estereótipo de gênero masculino em nossa sociedade, porque todos esperam que os meninos não chorem, que sejam controlados, honestos, destemidos e fortalezas impenetráveis.
Contudo, o que mais assusta é como que também entra como uma oposição a todos os comportamentos que são considerados pela sociedade como “femininos”. Por isso que um “vire homem” normalmente está acompanhado de “isso é coisa de mulherzinha” e “deixe de ser gay”. Mas talvez você esteja pensando: “Ah, não é bem assim, quando se fala para um menino virar homem é mais no sentido de crescer e deixar de ser criança”. Por mais que esse pensamento tenha seus problemas, porque envolve a noção de que crianças sendo crianças é algo inerentemente indesejável, eu preciso discordar de você, porque ninguém fala para uma menina que está chorando: “Vire mulher”.
Sabe por que ninguém diz isso? Porque ao passo que “virar homem” tem uma conotação nobre e de amadurecimento, “virar mulher” sempre traz consigo uma ideia de sexualização em nossa sociedade. O machismo está nas pequenas expressões do cotidiano, e precisamos lutar contra ele. Que nenhum outro menino precise ouvir “seja homem” de novo. Que eles possam ouvir: “Pode chorar quando precisar!”, “Quer um abraço?”, “O que você está sentindo?”, “Você é muito amado”.