Se você mora na cidade de São Paulo, provavelmente já viu alguns murais de arte de rua que destoam da atmosfera corrida da metrópole. Em meio a tantas construções cinza, ganham vida as explosões de cores. O responsável por muitos desses pontinhos coloridos é o artista MENA, nome artístico de Gabriel Menezes.
O trabalho do pintor é muito versátil, ultrapassando os muros e chegando também em telas, esculturas e outros suportes.Mas para além de simplesmente colocar sua profissão em prática, MENA entende a força de transmitir seus conhecimentos artísticos para a próxima geração.
Afinal, nunca se sabe se uma criança com um pincel na mão se tornará uma grande artista daqui a alguns anos. Mas mesmo que ela não escolha esse caminho profissionalmente, a expressão por meio das artes visuais é uma ótima forma de desenvolvimento pessoal, físico e mental.
A seguir, você confere algumas das visões de MENA sobre o papel da arte na vida das crianças e como elas impactam seu processo criativo.
Jornada artística
MENA conta que, desde pequeno, seus pais o estimularam a criar de forma artística. De acordo com ele, esse apoio fez toda a diferença para chegar aonde está hoje.
“Minha mãe é psicóloga infantil e pedagoga. Ela me incentivou bastante quando criança. Ela sempre proporcionava experiências diferentes, desde mexer com argila e pintura até oficina de pulseirinhas de miçanga”, relembra.
Já adulto, formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Belas Artes e iniciou sua trajetória na área. Mas, logo, também começou a fazer trabalhos artísticos remunerados. Ao tentar equilibrar as duas funções, passou por um período difícil de burnout.
Foi nesse momento que ele entendeu que precisava colocar seus esforços 100% na arte. O risco de optar pelo caminho menos trilhado valeu a pena — hoje, MENA é um dos maiores artistas do Brasil, com mais de 40 prédios pintados e obras que se espalham por mais de 10 países.
Oficinas com crianças
MENA também se destaca por oferecer oficinas de arte para as crianças. O objetivo dos encontros é que elas realmente se soltem e direcionem toda a sua criatividade por meio da expressão artística.
É também uma forma que o artista encontrou de tirar as crianças do “modo automático” da tecnologia, mesmo que por um breve período. “A criança sai da tela do celular e vai para a tela da pintura”, diz.
As oficinas começam com uma meditação ativa, ou seja, uma forma de as crianças entrarem no fluxo criativo juntas e interagirem umas com as outras. MENA conta que a euforia é o sentimento predominante nesses encontros, então é necessário canalizar essa energia para a criatividade surgir.
Nesse ambiente totalmente propício à criação artística, não é de se espantar que aconteçam lampejos de inspiração. “Têm crianças que saem inspiradíssimas e pedem para os pais para fazerem cursos de arte, pintura e desenho”, revela.
Para o artista, os encontros corroboram sua crença de que a criatividade é parte inerente de todos na infância: “Acredito que todas as crianças são artistas. Depois, elas só vão sendo ‘adultizadas’ e se afastando um pouco dessa essência da expressão”.
A arte nas escolas
Quando perguntado sobre a forma como a arte é introduzida para as crianças na escola, MENA explica que as restrições do ambiente escolar podem frustrar um pouco as expectativas dos alunos. Ele mesmo admite que a tendência dos estudantes é não dar à arte a mesma importância de outras matérias no currículo escolar.
“Eu sempre vi as aulas de artes como aulas para relaxar, para descontrair. Mas eu não levava a sério o que estava sendo feito ali. A educação artística precisa de mais atenção, mais respeito e, talvez, de um novo direcionamento”, reflete.
O artista defende que a arte é a expressão pura da identidade da criança, e nem sempre isso é incentivado na escola. Além disso, ele fala sobre como as aulas de educação artística não eram tão entusiasmantes e contrasta essa observação com o comportamento das crianças em suas oficinas.
“Vejo que nas oficinas que ofereço, é muito diferente. Gostaria muito que as aulas de educação artística fossem nesse contexto, que as crianças pudessem realmente se jogar dentro da experiência de fazer uma aula de artes”, propõe.
As crianças inspiram
Se nas oficinas, as crianças aprendem com MENA, o contrário também é válido. O artista comentou sobre como também consegue extrair lições quando observa o comportamento do público infantil.
“Todas as oficinas trazem uma coisa em comum. Eu ganho força e coragem para poder ser quem eu sou, sem medo do julgamento do outro. Claro que um adulto tem responsabilidades, mas eu me inspiro muito nesse lugar de ser eu. Isso muda muita coisa dentro de mim”, revela.
Inclusive, MENA conta que as crianças sentem as obras de arte de forma diferente em relação a quem já é mais maduro. “A criança está se descobrindo e descobrindo o mundo ao seu redor, então ela é muito conectada com a pureza. O olhar das crianças, menos enrijecido, fala sobre o sentir, e é esse lugar que quero atingir na arte”.
E essa inspiração até já se refletiu na própria arte de MENA, especialmente quando é aliada a um senso de causas sociais. Ele conta como estava à procura de uma criança modelo para suas obras, até que encontrou um menino em situação de rua chamado Miguel.
Com a autorização da mãe da criança, o artista tirou uma foto e transformou a figura do menino em obra de arte. Hoje, o desenho de Miguel está estampado em vários prédios, quadros e esculturas, até mesmo fora do país.
A paternidade e a arte
MENA tem duas filhas e faz questão de apresentá-las à arte, seguindo o exemplo de seus pais. “Sempre que eu posso trazer alguma visão artística, eu trago. É muito divertido para mim, porque uso da minha criatividade e da minha manualidade e entro na brincadeira junto com elas”, revela.
Castelos e cozinhas de papelão são só algumas das invenções junto às meninas. Mas nem tudo é só brincadeira. Ele faz questão de ensinar às filhas que a arte tem significado e transmite uma mensagem ao mundo.
Por isso mesmo, MENA conta que sente muito mais responsabilidade em seu trabalho depois de se tornar pai. “Agora eu preciso ter mais disciplina no lugar da produção. Preciso me reinventar cada vez mais. Ser pai mudou tudo”.
Ele também fala sobre como a arte é uma ótima forma de criar vínculos entre pais e filhos, especialmente em uma geração hiperconectada.
O artista aponta: “A arte é uma grande ferramenta de união com a família. O que cabe é a atenção, a dedicação, que é justamente do que as crianças precisam. Elas não precisam de mais coisas, elas precisam de mais presença“.
Olhar para o futuro
MENA vê o futuro do mercado da arte com bons olhos. Afinal, com a popularização da inteligência artificial, é natural que o olhar humano seja mais valorizado.
“Faço isso com todo o meu carinho para que, no futuro, as crianças possam conhecer novas oportunidades de realidade. Com tanta tecnologia que a gente tem atingido, acredito que o que só nós humanos conseguimos fazer vai ser muito valorizado”, explica.
Ele também deixa um conselho específico para as crianças que sonham em serem artistas: “Eu sempre as encorajo a acreditarem nos seus sonhos. Para serem aquilo que elas sentem ser. O sonho é um norte que a gente tem para poder caminhar. E eu sempre digo para elas pintarem muito!”, completa.
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