O bruxismo, caracterizado pela pressão exercida entre os dentes como se estivesse mordendo algo, tanto de forma consciente quanto inconsciente, é uma condição comum que afeta especialmente o público infantil. De acordo com Paulo Breinis, neuropediatra, aproximadamente 40% das crianças na segunda infância apresentam essa condição. “Geralmente, o bruxismo é uma patologia que se manifesta na infância, sendo menos comum em adultos”, destaca.
Esse fenômeno tende a ocorrer em momentos específicos do desenvolvimento infantil, principalmente durante as fases de nascimento e troca dos dentes. Alexandre Bussab, cirurgião-dentista da Clínica Brasil Smiles, explica que as crianças começam a exercer pressão nos dentes nesses períodos como uma maneira de ajustá-los. “A primeira troca de dentes ocorre por volta dos 5 ou 6 anos, seguida de uma segunda fase aos 7 ou 8 anos. Geralmente, até os 9 ou 10 anos, todos os dentes permanentes já estão presentes”, esclarece Bussab.
Embora o bruxismo nesta faixa etária não seja motivo para grande preocupação devido à natureza temporária dos dentes de leite, o uso de um aparelho ortodôntico específico pode ser recomendado para amenizar o problema. Diferente das placas tradicionais, não aconselhadas para essa etapa devido à formação dental ainda em andamento, o aparelho de resina é adaptável e acompanha o desenvolvimento da dentição da criança. A manutenção desses dispositivos deve ser realizada regularmente, variando entre 20 dias ou mensalmente.
Apesar de não ser considerado grave, o bruxismo pode levar a complicações como a disfunção da articulação temporomandibular (ATM), um problema decorrente da deformação e desgaste dessa articulação causados pela força constante da mordida. “A prevenção é a melhor abordagem para estabilizar o quadro. Sem medidas preventivas adequadas, pode-se tornar necessário recorrer à cirurgia”, alerta Alexandre.
Para prevenir o bruxismo e suas possíveis consequências, recomenda-se eliminar o uso prolongado de mamadeiras e chupetas que podem alterar a posição dos dentes. Além disso, outros fatores como respiração bucal, desvio de septo, predisposição genética e consumo de alimentos que exigem mastigação intensa também podem contribuir para essa condição.
Segundo especialistas, ainda não está claro qual é o processo fisiológico por trás do bruxismo. No entanto, o excesso de tarefas e responsabilidades pode ser um gatilho para essa condição nas crianças, uma vez que o estresse acaba por incentivá-las a apertar os dentes inconscientemente.