A gente sabe que, para construir um futuro melhor para nossos filhos e filhas, é fundamental ensinar valores de respeito, igualdade e inclusão desde cedo. E, para dar um passo importante nessa direção, o Brasil vem se movimentando para fortalecer o combate ao racismo e valorizar a diversidade cultural. Desde 2023, o governo brasileiro criou a Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS), e uma das metas é implementar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 18 sobre Igualdade Étnico-Racial até 2030. A novidade foi apresentada pelo governo federal em 2024, durante a abertura da Assembleia Geral da ONU.
“O ODS 18 é uma iniciativa de suma importância para o enfrentamento do racismo no país e para a promoção de uma sociedade mais justa e igualitária, no que tange a busca por meios concretos para diminuir as desigualdades sociais. O enfrentamento ao racismo é de responsabilidade de todos: estados, empresas e cidadãos, sejam eles brancos, indígenas, pardos e pretos”, afirma Raimunda Caldas, coordenadora da Qualidade Social da Educação do Marista Brasil.
Mas o que isso tem a ver com a educação das crianças? Tudo! Afinal, é na infância e juventude que aprendemos valores que levamos para a vida. Por isso, reunimos 5 dicas práticas de especialistas para ajudar famílias a tratarem esse assunto de maneira respeitosa e transformadora.
Explique que o racismo é estrutural
Para começar, é essencial mostrar que o racismo não é algo pontual: ele faz parte da estrutura da sociedade e está presente em pequenas atitudes, expressões e até no que assistimos e lemos. Ensinar desde cedo que esse comportamento precisa ser combatido é o primeiro passo para uma educação mais inclusiva.
“Ninguém nasce odiando a outra pessoa pela cor da sua pele, pela sua origem ou ainda pela sua religião. Assim como as pessoas aprendem a odiar, elas também podem ser ensinadas a amar. É preciso amar a todos igualmente”, explica o Ir. José Aderlan Brandão Nascimento, coordenador de Identidade, Missão e Vocação da União Marista do Brasil.
Contar histórias reais, falar sobre a formação do Brasil e sobre o impacto da escravidão na história do país são maneiras importantes de ajudar crianças e adolescentes a entenderem as raízes do problema e, principalmente, o caminho para mudar.
Valorize as diferenças todos os dias
A diversidade cultural do Brasil é imensa. Nosso país foi formado por povos africanos, indígenas, europeus e asiáticos, e cada um deixou sua marca na nossa música, na comida, na língua e nas tradições. Mostrar essa riqueza para as crianças é essencial.
Raimunda dá uma dica prática: “Levar seus filhos e filhas para conhecerem um museu das culturas indígenas e da cultura afro-brasileira na sua cidade”. E não é só fazer o passeio, é importante aproveitar o momento para refletir com as crianças sobre a importância de valorizar essas culturas.

Reconheça a dívida histórica
Outro ponto fundamental é reconhecer a dívida histórica que o Brasil tem com a população negra e indígena. Mas, como explica Raimunda, isso precisa ir além das palavras: “Esse gesto precisa se traduzir na implementação efetiva de políticas públicas que enfrentem as desigualdades sociais entre brancos, negros e indígenas”. É importante passar essa mensagem também para as crianças: o combate ao racismo precisa ser constante e prático.
Incentive leituras e releituras do mundo
Livros, filmes e séries são grandes aliados para ensinar sobre diversidade e inclusão. Durante um passeio pela cidade, proponha reflexões com perguntas simples: quem são as figuras representadas nas estátuas e nomes de ruas? Quantos deles são negros, indígenas ou mulheres?
Incentivar as crianças a consumirem obras que trazem diversidade de personagens e histórias fortalece o olhar crítico e constrói um senso de justiça. Um bom exemplo disso é o livro “O Pequeno Príncipe Preto”, de Rodrigo França.
Converse sempre com a escola
Não dá para esquecer que a escola tem um papel fundamental na formação das crianças. E os números mostram isso: uma pesquisa realizada em 2023 pelo Ipec revelou que 64% dos jovens entre 16 e 24 anos apontaram o ambiente escolar como o lugar onde mais sofreram racismo.
“As escolas têm um papel fundamental para atingirmos a meta de número 8b do ODS 18, que aponta que as escolas devem assegurar a inclusão obrigatória de ações de educação antirracista e sobre as culturas e histórias dos povos indígenas e afrodescendentes nos currículos”, reforça Raimunda.
Vale lembrar também das leis já existentes, como a Lei 10.639/2003 e a Lei 11.645/2008, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas. Ou seja, a parceria entre família e escola é essencial para criar uma geração mais consciente, justa e respeitosa.