Se tem uma coisa complicada de medir é a autoestima. Afinal, muita gente nem sabe se a sua própria é alta ou baixa, como pode ser trabalhada e quando se desenvolve. Tudo isso é muito relativo, varia de pessoa para pessoa e até mesmo entre as fases da vida. Na infância, ela não só precisa ser incentivada, como também estimulada pelos pais e educadores, que são exemplos na vida das crianças. Tudo o que falamos ou deixamos de falar para o nosso filho é decisivo para a vida dele. “Uma boa autoestima é essencial para o desenvolvimento das crianças. É a base para tudo o que vão fazer na vida e como serão como pessoa”, explica Cristiane M. Maluf Martin, mãe de Gabriela, Giovana e João Victor, psicóloga e psicanalista.
É importante ressaltar ainda que elogiar com o intuito de elevar a autoestima de uma criança não envolve falar sobre os seus atributos físicos, como o cabelo, os olhos ou o corpo. Mas consiste em parabenizar atitudes relacionadas ao desenvolvimento motor, cognitivo, emocional e comportamental. Enfim, tudo o que envolve a capacidade de explorar o potencial que ela possui.
De fato, a autoestima vai sendo desenvolvida ao longo de toda a vida, mas ela começa muito antes do que podemos imaginar. “Desde o ventre materno já ocorre uma estimulação intensa, que é percebida e absorvida pela criança. Embora não tenha condições de elaborar cognitivamente o ambiente numa linguagem formal, o bebê capta esse ambiente e todas as suas nuances”, afirma a psicóloga Léia Medrado Ferreira Costa, filha de Ubaldo e Judite.
Sendo assim, os bebês também são capazes de perceber ambientes hostis, onde não são desejados ou acontecem muitas brigas. Esses fatores influenciam diretamente em sua personalidade e no desenvolvimento de sua autoestima, que tenderá a ser mais baixa do que a de outra criança, que nasça em um ambiente equilibrado.
Para baixo
Existem, sim, crianças com baixa autoestima. Não é porque elas são novas, que não podem se sentir inferiores. Essa tendência normalmente se apresenta quando elas não são elogiadas por figuras importantes do seu convívio, como pais, parentes e educadores. Isso faz com que ela sinta que não é capaz de ser amada.
“A capacidade de se perceber como um ser consciente ocorre a partir dos três anos de idade. Se a criança experimentar situações de rejeição afetiva, ela terá enormes chances de ter uma baixa autoestima”, diz Marina Gusmão Caminha, mãe de Vitor e Lucas, psicóloga.
Na hora de dizer algo para uma criança, mesmo que seja para chamar a sua atenção, precisamos ter muito cuidado na maneira como usamos as palavras. Caso você queira reprimir uma atitude dela, deixe claro que o erro está na forma como ela agiu e não na própria criança. “Você é um bagunceiro” e “você faz tudo errado” não são formas adequadas de repreensão, que podem ocasionar em uma baixa autoestima.

“Ajude a criança a distinguir quem ela é de seu comportamento, auxiliando-a a pensar em outras formas positivas de interagir. Estar ao lado da criança em suas falhas, dando o exemplo e incentivando atitudes positivas ajuda a ela sentir-se reconhecida e amada”, completa Mariana Bonsaver, filha de Tullio e Isabel, psicóloga.
É comum que algumas crianças que tenham irmãos sintam-se diminuídas por eles. A competição dentro de casa precisa ser algo saudável e estimulada na medida certa. Os pais têm o papel de ver e perceber que os filhos são indivíduos únicos, com características próprias e, sendo assim, precisam ser tratados de maneiras distintas.
Cada filho precisa se sentir bem consigo mesmo. “É necessário conhecê-los a cada dia, favorecendo os encontros, as conversas e o contato físico. Cada criança é diferente da outra e evitar comparações no sentido de cobrança entre os irmãos é fundamental para que seja respeitado o tempo e o jeito de cada um”, afirma Deborah Moss, mãe de Ariel, Patrick e Alicia, neuropsicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento pela Universidade de São Paulo (USP).
Alto demais
Assim como tudo em excesso, uma autoestima elevada demais também pode ser muito prejudicial para o desenvolvimento saudável e equilibrado da criança. E sim, infelizmente existe a possibilidade de que seu filho passe a acreditar que é o melhor em tudo que faz e, portanto, acabe acreditando que o mundo gira em torno dele. Isso pode acontecer por dois motivos.
O primeiro é que esse fator pode ser uma compensação pela baixa autoestima, como uma forma de proteção. “O muito corajoso, por exemplo, precisa provar algo para o outro para não descobrirem quem ele é. Assim, ele é visto como o forte, muitas vezes até agressivo, porém, é isto que o sustenta. Se tirarem isso dele, será visto com autoestima baixa. São dois opostos”, explica Regiane Silva, mãe de Rafaela e Luana, coach e especialista em Programação Neurolinguística.
Já a segunda explicação é de que essa criança recebe elogios demais e realmente se sinta melhor que os outros. Novamente, isso tem a ver com a forma como os pais lidam com o filho. Se ele receber expectativas altas demais, pode acabar se frustrando. “Isso pode gerar ansiedade na criança e dificuldade de lidar com frustrações em momentos que se depare com erros e dificuldades”, diz Melina Amarins, filha de Maria e Hamilton, psicóloga.
No ponto
Para estimular a autoestima da criança sem exagero, a fim de suprir as necessidades do desenvolvimento dela, é preciso elogiar as suas atitudes positivas quando for o caso. Por exemplo, quando ela guardar os brinquedos corretamente, tirar uma nota alta, ajudar alguém ou preparar a mesa para o jantar.
Lembre-se sempre de que tudo em excesso pode ser prejudicial. “Elogiar demais também soa falso, e pode banalizar a ação”, afirma Aurélio Melo, pai de Alexandre e Gabriel, professor de psicologia.
Por meio desse reforço positivo, a criança adquire a autoconfiança e a capacidade para realizar as tarefas que competem à sua idade. Quando seu filho errar, não exagere na bronca. “Um fator importante é não colocar a criança para baixo. Converse com ele e ensine a forma correta, não apenas julgue”, recomenda o psicólogo Yuri Busin, filho de Walnei e Tales.
Não se esqueça também de si mesmo! Os pais são os modelos das crianças e é o exemplo que ensina. Quando uma mãe, por exemplo, sente-se com a autoestima abalada, não conseguirá passar para o seu filho essa confiança. E não adianta somente falar, conforme explica Regiane Silva. “70% da nossa comunicação é não verbal. As atitudes também contam e os pais são sempre os maiores modelos”, conclui.

Como identificar autoestima baixa
- Pessimismo constante
- Retração
- Timidez em excesso
- Não querer estar em grupo
- Falar pouco
- Isolamento
- Evitação
- Medo de críticas
- Medo de errar
- Frustração
- Agressividade
- Desânimo
- Sentimento de incapacidade
O que não fazer
- Discutir as frustrações do dia a dia na frente das crianças
- Deixar de valorizar os pequenos êxitos
- Relembrar os erros da criança o tempo todo
- Comparar seu filho com os irmãos, primos ou amigos
- Prometer e não cumprir
- Cobrar mais do que seu filho pode dar
- Fazer tudo pela criança por achar que ela é incapaz
- Humilhar
- Usar barganha
O que fazer
- Entender, corrigir e acolher
- Dar responsabilidade de acordo com a idade
- Motivar a criança
- Ser exemplo
- Valorizar os acertos
- Elogiar atitudes no momento adequado
- Reconhecer seus acertos na frente de outras pessoas
- Tratar como indivíduo
15 passos para ajudar o seu filho a construir uma boa autoestima
- 1. Abrace-o todos os dias
- 2. Diga que o ama diariamente
- 3. Respeite seus sonhos para o futuro, mesmo que eles pareçam impossíveis
- 4. Reforce e realce as qualidades. Não enfatize demais os pontos fracos
- 5. Aceite-o como ele é (e isso pode ser muito difícil)
- 6. Tenha certeza de que ele sabe que pode contar com você
- 7. Ajude a quebrar estereótipos, como o da mulher delicada e o homem forte
- 8. Ouça o que ele tem a dizer
- 9. Esteja disponível para brincar e passar tempo com ele
- 10. Seja o exemplo de como você quer que ele aja. Isso vale para todos os aspectos
- 11. Dê liberdade para que ele tome decisões (mesmo que seja sobre o sabor do suco)
- 12. Ensine-o que ele pode fazer tudo, desde que se dedique
- 13. Mostre que a opinião dos outros não importa
- 14. Não brinque com seus defeitos
- 15. Faça com que ele dê asas à própria imaginação
Matéria publicada originalmente na edição 560 da revista Pais&Filhos