Criança

Dermatite atópica: saiba o que é, as causas e o impacto psicológico por trás das crises nas crianças

Shutterstock

Publicado em 21/09/2020, às 13h03 - Atualizado em 29/03/2021, às 15h53 por Cinthia Jardim


Compartilhe:


A dermatite atópica é uma condição que deixa a pele seca e inflamada e geralmente aparece nos primeiros anos de vida da criança. Com a chegada do isolamento social e as famílias passando mais tempo em casa, os quadros da doença podem se agravar, indo além do físico. O estresse por ficar muito tempo em casa por conta da pandemia, a ausência da interação social e até a tensão de presenciar discussões em casa – tudo isso pode afetar a criança e se manifestar pela pele.

Neste momento, o apoio da família é essencial, além de se saber a hora certa para buscar um especialista e trazer de volta o bem-estar do seu filho. Para te ajudar a cuidar dessa condição, tanto na parte física quanto na emocional, conversamos com o Dr. Roberto Takaoka, dermatologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e presidente da Associação de Apoio à Dermatite Atópica (AADA), filho de Ruth e Kentaro, e a Dra. Tarcila Cicchinni, psicóloga e membro Comissão Científica da Associação de Apoio à Dermatite Atópica (AADA), mãe de Bruna, Gustavo e Gabriel.

O que é dermatite atópica?

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a condição é considerada uma doença crônica e não contagiosa, que deixa a pele seca e inflamada. Como principal sintoma, é possível notar a coceira. A dermatite atópica geralmente aparece nos primeiros anos de vida da criança, e com maior frequência naquelas que os pais possuem asma, rinite, ou a própria doença. Também é comum que a própria criança com dermatite atópica tenha outras doenças alérgicas.

Quais são as causas?

As reais causas da D.A. envolvem herança genética, alterações estruturais e funcionais da pele e do sistema imunológico, além de fatores ambientais e psicológicos. Já os fatores que levam às crises incluem sudorese, tempo seco e frio, excesso de estresse e ansiedade, e agentes irritantes de produtos de limpeza, como sabonetes perfumados ou amaciantes de roupas.

Na maioria dos casos, a criança apresenta coceira na pele. Existem outros sintomas ligados à doença?

A coceira é o sintoma mais frequente na dermatite atópica e geralmente é mais intenso à noite e durante períodos de estresse. Pode ocorrer também o aumento da irritabilidade. O controle da coceira é muito importante. Os pais devem evitar os fatores desencadeantes e evitar passar mais ansiedade para seus filhos, pois isso pode piorar o sintoma da coceira.

As principais queixas acontecem apenas na infância, ou é possível desenvolver o problema na fase adulta?

Na maioria dos casos, os primeiros sinais e sintomas da dermatite atópica aparecem no primeiro ano de vida. Em alguns casos, a dermatite atópica pode aparecer mais tardiamente, mas não é o mais comum. O comum é que o problema dê as caras logo no começo da vida do seu filho.

Existem crianças que têm predisposição em desenvolvê-la?

Sim. Se existem casos de pessoas com outras doenças atópicas na família (dermatite atópica, asma e rinite alérgica), a genética acaba falando mais alto e, por isso, existe maior predisposição de desenvolver a dermatite atópica – além de todos os outros fatores que aumentam as chances da criança ter o problema, como estresse.

Como a dermatite atópica pode afetar a autoestima da criança?

A dermatite atópica é uma doença dermatológica e que portanto fica muito fácil para as pessoas notarem uma pele diferente, ressecada, descamando, avermelhada e muitas vezes com lesões. Essas observações geram reações diferentes entre as pessoas, que geralmente não conhecem a doença e podem sentir medo de que seja contagiosa e aversão pela aparência. O resultado dessas reações para a criança pode fazê-la se recusar a ter contatos sociais, para se preservar de olhares críticos, comentários e perguntas frequentes desagradáveis. Por fim, emocionalmente essa criança em suas vivências sentirá que não é bem vista e bem quista, suscitando uma baixa autoestima. Porém com um suporte emocional adequado, essa criança poderá superar as interferências do meio social e melhorar a sua autoestima.

O comportamento da criança pode mudar?

Muitos sentimentos, como tristeza, raiva, desespero, frustração, ansiedade, vergonha, entre outros, são comuns. O importante é perceber a frequência e intensidade desses sentimentos e como eles interferem no dia a dia da criança, a ponto de prejudicar a qualidade de vida, como no aprendizado, no lazer e relacionamentos sociais. Há crianças que ficam preocupadas com a discriminação dos outros e não conseguem prestar atenção na aula; ou não querem ir para a escola, preferindo se isolar em casa, evitar passeios, excursões, festas para fugir de conflitos. Os pais precisam ficar atentos e procurar um(a) psicólogo(a) para que a criança aprenda a lidar com essas situações. É importante ressaltar que os sentimentos dos pais se misturam com o da criança. E a escola e/ou os médicos que a acompanham acabam observando a necessidade do encaminhamento para o(a) psicólogo(a).

É possível prevenir a dermatite atópica?

Atualmente, todas as diretrizes de tratamento da dermatite atópica apontam a educação do paciente e dos familiares, como medida essencial para o tratamento e prevenção da doença. É importante que o paciente e os pais das crianças com dermatite atópica sejam orientados adequadamente sobre o problema (quais os fatores desencadeantes da doença, tratamentos corretos e controle do estresse). Como é muito difícil a orientação durante a consulta médica devido à limitação de tempo, existem programas e ações educativas como materiais educativos impressos, grupos de apoio para pacientes e familiares, e atualmente ações educativas pela internet. A Associação de Apoio à Dermatite Atópica (AADA) oferece essas opções (www.aada.org.br).

Fatores emocionais e psicológicos podem piorar os quadros da doença?

Sim, as emoções podem trazer repercussões na pele. Quando algumas pessoas sentem vergonha, o rubor pode aparecer no rosto, uma emoção pode fazer a pele arrepiar. Isso tudo acontece porque o sistema nervoso está diretamente conectado à pele que reveste todo o organismo, desde o período embrionário. Sendo assim, a pele pode refletir as nossas emoções. Se uma criança está passando por um período conflitivo, que gere muitas preocupações, tristeza e/ou ansiedades, uma nova crise de D.A. pode ser desencadeada pelas emoções.

A dermatite atópica pode gerar vergonha e ansiedade na criança (Foto: iStock)

A dermatite atópica tem cura ou é necessário um cuidado específico ao longo da vida?

Existe uma expectativa muito grande com relação à cura da doença e isso é compreensível. Mais do que buscar a cura a todo custo, que muitas vezes pode levar a tratamentos não adequados, o importante é controle da doença a longo prazo, através do uso de medicação correta e das medidas de prevenção, como evitar os fatores desencadeantes e hidratação da pele. O importante é salientar que existe uma tendência de melhora da doença com a idade.

Quais são as principais dicas para manter a pele da criança saudável?

As orientações de banho são importantes, como evitar banhos longos e com água quente. O ideal é que eles sejam mais curtos, com água morna, usando apenas sabonetes neutros nas áreas de dobras. É importante enxaguar bem a pele para não deixar resíduos de produtos de limpeza. Deve-se enxugar a criança com uma toalha macia evitando esfregar a pele e logo após usar um hidratante especialmente desenvolvido para a pessoa com dermatite atópica, como o Umiditá AI. Encontrado exclusivamente em farmácias, ele não contém corantes, fragrâncias ou outras substâncias irritantes em sua fórmula. O momento do banho e do uso do hidratante é muito importante na relação de conexão entre os pais e a criança. Esse momento de relaxamento pode contribuir bastante para a melhora da doença.

Em tempos de pandemia e com menor interação entre as crianças, as crises de dermatite atópica podem piorar?

O aumento da ansiedade pode desencadear o aumento da coceira, que é um dos sintomas da dermatite atópica, o que pode suscitar uma nova crise. Se para os adultos a pandemia tem sido uma vivência difícil, para as crianças pode ser mais complicada a compreensão de toda a mudança de rotina, como por exemplo a suspensão das aulas e o afastamento dos amiguinhos da escola. O papel dos pais é muito importante porque são o alicerce da família e precisam tranquilizar as dúvidas e fantasias das crianças, trazendo informações e segurança para elas. Além disso, os pais podem realizar vídeos chamadas para proporcionar conversas entre os amigos, amenizando assim a saudade entre eles. A pandemia trouxe de volta a proximidade entre pais e filhos que pode ser bem aproveitada se puderem brincar juntos e conversar mais.

Como os pais podem ajudar os filhos a enfrentarem este problema?

É sempre importante que os pais entendam como funciona a dermatite atópica, lembrando que ela é uma doença crônica, com ciclos de melhora e piora. Os pais precisam saber lidar com suas expectativas, frustrações e passar segurança para seus filhos. É essencial que você eduque e trate seu filho para que tenha uma vida como a de qualquer outra criança, seguindo as orientações do médico, sem colocá-lo em uma bolha no intuito de superprotege-lo. Isso só atrasaria o seu desenvolvimento psicoemocional e o privaria das experiências importantes e necessárias da infância (brincar, participar de festas, passeios com a escola). Em São Paulo e em alguns outros estados, os grupos de apoio auxiliam os pacientes e seus familiares a trocarem suas experiências e dificuldades sobre a doença, com a orientação de dermatologistas e/ou alergistas e psicólogos, com o objetivo de compreenderem melhor a D.A. e aprenderem a lidar com a doença.

Mais lidas

Notícias

Foto mostra que Nicolas Prattes 'escondeu' barriguinha de Sabrina Sato antes da notícia de gravidez

Notícias 📣

Edu Guedes fala sobre primeiro filho com Ana Hickmann: "Deus vai escrevendo as coisas"

Família

Emocionante! Pais viajam mais de 10 mil quilômetros para adotar filha e ela mostra todo o processo

Família

Filha de Ana Maria Braga tem vida simples no interior de São Paulo longe da fama: veja foto inédita

Imperdível

Ofertas do dia: até 51% de desconto no smartphone POCO X6 Pro

Notícias

Jade Magalhães impõe condição para morar com Luan Santana após gravidez

Família

Larissa Manoela fala sobre gravidez de 1º filho com André Luiz Frambach

Família

Ana Paula Arósio não fala com a mãe que vive em asilo há anos e perdeu enterro do pai


Palavras-chave
Família Saúde Criança Cuidados Pele doença infância sintomas isolamento social pandemia estresse irritação especialista psicologia dermatite atópica coceira condição dermatite sintoma