Julho chegou e, com ele, aquela clássica dúvida que ronda muitas famílias: será que é agora que devemos tirar a fralda? Antes de fazer planos para passar o mês entre banheiros e roupas molhadas, é bom respirar fundo e ouvir quem entende do assunto. A terapeuta ocupacional Silvia Ueno Leonetti, conhecida como a Fada do Cocô, dá um alerta importante: desfralde não começa com a fralda indo para o lixo, mas com estímulos seguros, lúdicos e respeitosos.
Especialista em saúde funcional e formada pela USP de Ribeirão Preto, Silvia é referência no tema e orienta que o início do processo não deve acontecer apenas por conveniência, como estar mais tempo em casa nas férias de inverno. “Nessa época, especialmente no inverno, é comum ver adultos levando a criança ao banheiro a cada 30 minutos para evitar roupas molhadas. Mas esse hábito, além de ineficaz, pode gerar problemas como bexiga hiperativa e insegurança emocional”, explica.
Aprender sobre o corpo é o primeiro passo
Antes mesmo de tirar a fralda, a criança precisa entender o que está acontecendo dentro do próprio corpo. Segundo Silvia, autoconhecimento, linguagem e coordenação motora são peças-chave para que o desfralde aconteça com tranquilidade. “A criança precisa perceber suas sensações corporais e entender para que servem o penico ou o vaso, antes mesmo de sair da fralda”, orienta.
E a boa notícia é que esse processo pode começar bem antes dos dois anos de idade, com pequenas ações do dia a dia que ajudam na construção da autonomia.

Dicas práticas para um desfralde com respeito
Silvia compartilha uma série de práticas que ajudam a tornar o processo leve e sem pressões.
- Mantenha a fralda, mas apresente o penico ou adaptador como uma opção disponível, sem cobranças.
- Use o banheiro na frente da criança e narre o que está fazendo, para que ela entenda o processo naturalmente.
- Incentive que a criança participe da própria higiene: jogue o cocô no vaso, dê descarga, lave as mãos e até jogue a fralda fora.
- Brinque com bonecos e personagens que fazem cocô e xixi, criando um ambiente lúdico e acolhedor.
- Mostre que todos os seres vivos fazem cocô e xixi — até passarinhos e galinhas!
- Converse sobre o corpo e suas funções com explicações simples, como: “o cocô é o restinho das comidinhas que o corpo não precisa mais”.
- Evite levar a criança ao banheiro em horários fixos, o que pode gerar condicionamento e até incontinência.
- Transforme o banheiro num espaço divertido, com espelhos, músicas, desenhos e até monstrinhos do cocô nas paredes.
- Fale sobre xixi e cocô com naturalidade, abordando cheiro, cor e forma sem tabu.
“O cocô precisa deixar de ser tabu. Quando falamos abertamente, ajudamos a criança a não ter nojo do próprio corpo, o que favorece o desfralde e fortalece a autoestima desde cedo”, afirma Silvia.
O mais importante é lembrar: desfralde não é maratona. É um caminho de respeito, paciência e aprendizado. E cada criança tem seu próprio tempo para chegar lá, com ou sem férias no calendário.