Por Hallie Levine Sklar / Tradução de Juliana Delleva Cadiz, mãe de Olívia
De uns tempos para cá todo mundo virou expert em proteção solar, compra tudo que é novidade e sempre besunta creme protetor solar em seus filhos quando estão ao ar livre: e funciona. Eles nunca voltam pra casa com cara de pimentão. Ainda bem, porque novos estudos revelam que a exposição solar na infância aumenta significativamente o risco de câncer da pele, e não apenas quando ocorrem queimaduras. Basta tomar sol.
“A pele das crianças está em desenvolvimento, é muito sensível e vulnerável aos raios ultravioleta”, diz o consultor da revista Parents, Eichenfield Lawrence, MD, chefe da Dermatologia do Rady Children’s Hospital, em San Diego. “Se a criança passar por uma intensa exposição solar simplesmente brincando sob o sol, já está em perigo de desenvolver melanoma, o mais grave tipo de câncer de pele, mesmo que ela tenha aquela cor bonita, dourada, que parece ser apenas um bronzeado saudável.”
Sossegue, pois o melanoma infantil é raro. Na maioria dos casos ele só surge na vida adulta, mas o número de crianças diagnosticadas com a doença vem aumentando a cada ano em cerca de 3%.
Por isso, a cada dia que passa, crescem as opções e sugestões médicas e científicas sobre o que se pode fazer para manter nossos filhos saudáveis, mesmo debaixo de sol.
A melhor proteção ainda é o uso de protetor solar, que bloqueia tanto raios UVA quanto UVB. Um estudo com mais de 300 crianças constatou que aquelas que usaram protetor solar quando estavam no sol por mais de 30 minutos desenvolveram bem menos manchas de pele do que as que usavam protetor solar esporadicamente ou não usavam.
Muito importante: seus filhos só devem ser expostos ao sol antes das 10h (ou 11h, na vigência do horário de verão) e após as 16h (ou 17h). Tenha certeza também de que o vestuário tem proteção solar, desde o chapéu até os óculos escuros. E fique de olho: quanto mais pintas seu filho tem maior o risco de câncer de pele.
A revista Parents entrevistou alguns especialistas da Academia Americana de Dermatologia (AAD) sobre mitos e verdades da exposição ao sol. Eles nos sugeriram maneiras práticas e acessíveis de proteger nossa família, sem estragar nosso verão.
Um dia saudável na praia, minuto a minuto
8h00
Passe protetor solar FPS 30 na família toda meia hora antes de sair de casa. “Assim, você garante que houve tempo suficiente para os ingredientes ativos penetrarem na pele”, diz o dr. Johnson. Certifique-se de que cobriu inclusive as áreas geralmente esquecidas: lábios (usando um batom FSP 30), orelhas, ao redor dos olhos, pescoço, mãos e pés.
8h30
Chegue na praia perto das 9 horas, antes de os raios solares ficarem demasiadamente fortes, diz a dra. Andrea Cambio, dermatologista de Cape Coral, Flórida. A vantagem é que você não terá de lutar por um bom lugar na areia.
9h00
Ueba! Todo mundo na água! Use maiô com proteção UV ou camiseta sobre o calção ou maiô. Evite as camisetas brancas, que parecem fresquinhas, mas que, molhadas, equivalem a apenas 3 FPS.
10h00
Nesse horário o sol fica mais intenso: todo mundo pra baixo do guarda-sol! É hora de brincar de fazer castelos de areia. Mas lembre-se de que a areia, sob o guarda-sol, reflete raios UV; portanto, todos, mesmo na sombra, ainda estarão recebendo alguma radiação solar indireta. É por isso que muita gente diz que “até o mormaço queima”. Jogue um balde de água nas crianças e espalhe nova camada de protetor solar.
12h00
O sol está a pino. Os surfistas, acostumados a se proteger dos raios mais perigosos, somem da praia entre meio-dia e 14 horas; portanto, aproveite para levar a moçada para almoçar em casa ou num restaurante. Depois, faça uma pausa de cerca de duas horas, como sugere o dr. Cambio. Se não der para sair da praia, faça um lanche debaixo da barraca e distribua camiseta, bermuda e bonés para proteger todo mundo.
13h00
Se puder, aproveite esse momento de descanso para tomar uma ducha de água doce e tirar uma soneca depois do almoço. Que delícia. Tem coisa melhor? Só volte para o sol depois das 16 horas.
14h00
Na hora de voltar para o sol não se esqueça de mais uma camada de protetor solar. O sol amansou, mas ainda está forte; por isso, fique o máximo de tempo possível na sombra e certifique-se de que seu filho está usando chapéu. Se você notar alguma vermelhidão na pele dele, vá para dentro de casa imediatamente.
16h00
Os raios solares já não estão mais no auge; por isso, esta é uma boa hora para nadar, jogar frescobol ou caminhar pela praia. O fato de o sol estar mais fraco não significa que você está livre de queimaduras. A cada duas horas é bom reaplicar o protetor solar.
Atenção aos fatores que elevam o risco de câncer de pele nas crianças
Histórico familiar
Cerca de 10% dos casos de melanoma são genéticos, ou seja, herdados de nossos pais. Se seu filho tiver um parente de primeiro grau, seja o pai, um irmão ou irmã, que desenvolveu melanoma, ele tem cerca de 50% de chance de desenvolver a doença, ao contrário de uma pessoa que não tem melanoma em sua história familiar. Se o melanoma apareceu num avô ou num tio, o risco não é tão grande.
Queimaduras
A exposição aos raios ultravioleta, assim como as queimaduras provocadas pelo sol, podem causar mutações genéticas na pele, e elas aumentam o risco de uma pessoa desenvolver melanoma.
Climas tropicais e de montanha
Crianças que vivem em países tropicais, como o Brasil, tem a pela mais pigmentada, com mais melanina, o que representa uma proteção natural contra queimaduras. Mas isso não quer dizer que não estejam propensas a desenvolver câncer de pele se forem expostas ao sol desprotegidas. O mesmo se aplica para quem costuma tomar sol nas montanhas de Campos do Jordão, por exemplo. “As grandes altitudes nos expõem mais a radiações UV – cerca de 4% ou 5% a mais a cada 1.000 metros acima do nível do mar”, diz a dra. McBurney.
De olho nas pintas
Pintas que estão presentes desde o nascimento são as mais perigosas quando expostas ao sol. A maior parte das crianças acaba desenvolvendo pintas devido à exposição solar, e quanto mais pintas surgem enquanto elas crescem maior o risco de desenvolverem um melanoma mais tarde, alerta a dra. McBurney.
Pele e cabelos claros
Se o seu filho tem pouco pigmento (melanina) na pele, ele é mais vulnerável às radiações UV. “As crianças com pele clara têm cerca de quatro vezes mais risco do que as morenas de desenvolver câncer mais tarde”, diz o dr. Eichenfield. Indivíduos loiros e ruivos têm probabilidade de duas a quatro vezes maiores de desenvolver um melanoma, mesmo que fiquem bronzeados e não aparentem ter queimaduras graves.
Prática de esportes ao ar livre
Quem pratica esportes como futebol, natação, corrida ou tênis toma mais sol. Um estudo da Universidade de Medicina de Cincinnati constatou que 85% dos jovens atletas não usam protetor solar. Trata-se de um fator de risco reversível, mas não deve ser desprezado: basta certificar-se de que seu filho passe a usar protetor solar e, quando possível, roupas UV protetoras, quando estiver sob o sol.
Mitos e verdades sobre o sol
Mito: Com protetor solar FPS 50 meu filho não vai se queimar.
Verdade: Apesar de o protetor solar FPS 50 ser eficiente, se você aplicar uma camada muito fina ou não reaplicar o creme a cada duas horas, a criança pode sofrer queimaduras, sim, diz a dra. Ann Haas, presidente do Comitê de Educação da DAA. A regra de ouro é usar pelo menos uma mão cheia de protetor solar, espalhando-o cuidadosamente sobre a pele do seu filho; se estiver usando produtos em spray, certifique-se de que toda a pele da criança esteja coberta.
A cada duas horas deve-se reaplicar o protetor, especialmente se ela nadar ou suar muito, como costuma acontecer na praia. A dra.Elizabeth McBurney, professora de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Nova Orleans, explica: “O termo à prova d’água estampado na embalagem não significa que a criança pode nadar o quanto quiser. Só garante que o protetor fica na pele durante cerca de 80 minutos dentro da água”, diz. “Além disso, os cremes podem sair cada vez que seu filho secar o corpo com uma toalha”.
Mito: Bebê não pode usar protetor solar.
Verdade: O ideal é manter o bebê longe do sol, mas há momentos em que a exposição ao sol é inevitável. A Academia Americana de Pediatria diz que é seguro usar uma pequena quantidade de protetor solar na pele de um recém-nascido, mas, antes, você deve fazer um teste, colocando um pouco do creme no punho do bebê e esperando para ver se ele provoca irritação ou alergias.
Mito: Ficar bronzeado não é perigoso.
Verdade: Mesmo que só fiquem com um bronzeado lindo e dourado, nossos filhos estão em risco de contrair câncer de pele; e se além do bronzeado acontecer uma queimadura, o risco é ainda maior. “Sabemos, agora, que quanto maior a exposição ao sol maior a probabilidade de a criança desenvolver as células basais e escamosas do câncer de pele no futuro”, diz o dr. Eichenfield. “Qualquer sinal de cor numa pele clara significa que a pele já foi danificada”, explica.
Mito: É importante que a criança tome pelo menos um pouco de sol sem o protetor solar para sintetizar vitamina D.
Verdade: Todo mundo sabe que todos nós precisamos de sol para ajudar nosso corpo a desenvolver esta vitamina que é um importante fator na saúde das pessoas de todas as idades. Mas, segundo os pesquisadores, tanto crianças quanto adultos absorvem quantidade suficiente de vitamina D apenas com o sol que recebem no dia-a-dia e em alimentos como leite, suco de laranja e nos complexos vitamínicos.
“Qualquer criança saudável e ativa, que brinca ao ar livre, recebe luz solar mais do que suficiente para a produção de vitamina D”, garante a professora de Dermatologia Sandra Johnson, da Universidade de Ciências Médicas do Arkansas. “Nossos estudos têm demonstrado que, mesmo as pessoas que usam regularmente protetor solar, não sofrem de falta de vitamina D”, conclui.
Mito: Meu filho fica dentro de casa na maior parte do dia; por isso, não tenho que me preocupar com o sol.
Verdade: Em dias de sol forte, os raios UVA e UVB penetram na pele da criança até se ela estiver perto de uma janela de vidro, especialmente se o vidro não for tratado com uma película protetora. “Antes acreditávamos que só os raios UVB eram perigosos, mas agora sabemos que os raios UVA também causam câncer de pele”, diz o consultor da revista Parents Alpert Jody Levine, dermatologista infantil de Nova York.
Ele recomenda que mesmo numa longa viagem de carro, por exemplo, os pais devem passar protetor solar nas mãos, nos antebraços e no rosto das crianças antes de pegar a estrada. E se a área de estudos e brincadeiras, em casa ou na escola, fica perto de uma janela, é bom colocar cortinas ou usar protetor solar na criança para reduzir a exposição.
Mito: Quando está escrito “à prova d’água” na embalagem não preciso repassar o protetor solar.
Verdade: Nos Estados Unidos, o FDA (órgão que controla os remédios) está pensando em proibir os fabricantes de utilizarem expressões como “impermeável”, “à prova de suor”, “à prova d’água” e “protege todo o dia”, por serem enganadoras. Todos os protetores solares, sem exceção, perdem a eficácia após longos períodos de imersão em água e suor. Outra idéia é criar uma nova nomenclatura e numeração para protetores solares com proteção UVA.