Nos últimos anos, o mundo da beleza deixou de ser assunto só de adultos. Cada vez mais, crianças e adolescentes estão mergulhando nesse universo, influenciados por vídeos nas redes sociais e recomendações de influenciadores. Mas será que essa febre dos cosméticos faz bem para a pele nessa fase da vida? A chamada cosmeticorexia, ou seja, o uso excessivo e muitas vezes inadequado de produtos de beleza, foi tema de debate no IMCAS 2025, um dos maiores congressos sobre envelhecimento do mundo. O evento aconteceu entre os dias 30 de janeiro e 1º de fevereiro, em Paris, e trouxe um alerta importante sobre os riscos desse comportamento.
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O que é cosmeticorexia?
Talvez você nunca tenha ouvido esse termo antes, mas a cosmeticorexia está cada vez mais presente no dia a dia dos jovens. O nome vem da junção das palavras “cosmético” e “anorexia” e descreve o comportamento obsessivo de comprar e usar produtos de beleza sem necessidade ou de forma inadequada. Apesar de não ser um diagnóstico médico oficial, o fenômeno já preocupa especialistas.
“A pele de crianças e adolescentes ainda está em formação. O uso precoce e exagerado de cosméticos pode causar reações alérgicas, acne e até comprometer a barreira natural da pele”, explica Patrícia França, farmacêutica e gestora científica da Biotec Dermocosméticos.
Os principais riscos para a pele
Existem dois problemas principais ligados à cosmeticorexia. O primeiro é a dismorfofobia, um transtorno caracterizado pela preocupação exagerada com a própria aparência. Muitas vezes, a pessoa acredita ter imperfeições que nem existem ou que são quase imperceptíveis. Esse problema pode levar a quadros de ansiedade, depressão e até isolamento social.
O segundo risco é o uso de cosméticos formulados para adultos em peles ainda imaturas. “Antes da fase adulta, a barreira cutânea é mais frágil. Produtos com substâncias muito fortes, como ácidos e retinoides, podem causar irritações, alergias e até agravar problemas como a acne”, alerta Patrícia.
A influência das redes sociais
Se antes as crianças pediam brinquedos de presente, hoje muitas querem produtos de skincare. Esse fenômeno tem tudo a ver com a influência das redes sociais e dos chamados skinfluencers, que fazem tutoriais ensinando rotinas de cuidados muitas vezes complexas e desnecessárias para essa faixa etária.
Em países como a Alemanha, essa tendência já virou pauta na imprensa. Um artigo do jornal Die Welt destacou como a geração mais jovem está gastando cada vez mais em cosméticos, muitas vezes sem orientação adequada.
Como cuidar da pele na infância e adolescência?
A boa notícia é que, para manter a pele saudável, não é preciso seguir uma rotina cheia de passos complicados. Pelo contrário! Para crianças menores de 12 anos, menos é mais: um sabonete neutro e um bom protetor solar já são suficientes.
Já na adolescência, alguns produtos podem ser incluídos, mas sempre com cautela. “Nessa fase, é importante evitar cosméticos com substâncias que possam causar alergias ou obstruir os poros, aumentando a acne”, orienta Patrícia.
A partir dos 12 anos, além da limpeza com sabonete neutro, um hidratante leve com vitamina C e ácido hialurônico pode ajudar a manter a pele saudável. “O Ascorbosilane C, por exemplo, libera vitamina C de forma controlada na pele, proporcionando proteção antioxidante prolongada. Já o Hyaxel é um ácido hialurônico que ajuda na hidratação e na renovação celular”, detalha a especialista.
Outro item indispensável é o protetor solar, mas é importante escolher uma versão própria para adolescentes. “O ideal é um produto com FPS 50 e ingredientes antioxidantes, que protejam contra os danos da radiação solar e outros agressores ambientais”, acrescenta Patrícia.
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A importância da orientação profissional
Se você percebe que seu filho está obcecado por cosméticos, vale a pena bater um papo sobre o assunto. Em vez de proibir totalmente o uso, tente explicar a importância de escolher produtos adequados e de ter uma rotina de cuidados equilibrada.
O mais importante é que o skincare seja algo positivo, e não um motivo de preocupação excessiva. “Com os produtos certos e uma abordagem saudável, crianças e adolescentes podem aprender desde cedo a cuidar da pele sem comprometer a saúde cutânea”, finaliza Patrícia.