Você mal teve tempo de lavar o uniforme de futebol e, de repente, ele já está esquecido no fundo da gaveta. O maiô da natação foi usado duas vezes e agora só serve para brincar de escorregador no box do banheiro. E o tênis de corrida novo? Virou sapato de “ir no mercado”. Se você tem um filho ou filha que começa atividades com toda a empolgação do mundo, mas depois de algumas aulas já quer largar tudo… respira fundo, você não está sozinha.
A infância é mesmo uma fase de descobertas, e isso inclui também os momentos de tédio e frustração. É comum que as crianças experimentem várias atividades antes de encontrar algo que realmente gostem. Mas e quando o ciclo de “começa-para-começa-para” se repete com frequência? Será que devemos insistir ou deixá-las decidir?
Por que seu filho quer desistir das atividades?
Antes de pensar em cancelar a próxima aula ou em obrigar a criança a continuar, vale a pena investigar o que está por trás dessa vontade de desistir. Em muitos casos, o motivo não é apenas “preguiça” ou “falta de foco”. Ansiedade, insegurança, pressão social, dificuldade de socialização ou até um ambiente competitivo demais podem estar influenciando esse comportamento.
Além disso, nem sempre a atividade em si é o problema. Pode ser que o professor seja muito rígido, que algum colega esteja incomodando ou que a criança esteja apenas cansada com a rotina. Ou seja, ouvir o que ela tem a dizer é essencial. Isso ajuda a entender se vale a pena insistir mais um pouco ou mudar de estratégia.
O valor da persistência — mas sem exagero
Insistir pode ser importante sim, mas tudo depende do contexto. Em situações em que não há nenhum fator mais grave envolvido, como bullying ou crises de ansiedade, manter a criança na atividade por um período combinado pode ensinar sobre compromisso, esforço e resiliência.
Você pode dizer algo como: “Vamos terminar o mês e depois conversamos?” ou “Combinamos de tentar por seis aulas, lembra?”. Isso mostra que cumprir compromissos também faz parte da vida, mesmo quando não é tão divertido assim.
Como ajudar seu filho a encontrar a atividade certa
Nem sempre a primeira escolha vai ser a definitiva. E tudo bem! O importante é dar espaço para que seu filho ou filha explore diferentes possibilidades. Veja algumas dicas que podem ajudar:
- Inclua a criança na escolha: Pergunte o que ela tem vontade de experimentar. Assim, ela se sente mais envolvida e motivada.
- Respeite os gostos e talentos individuais: Nem toda criança vai se identificar com esportes. Música, teatro, culinária, dança… existem muitas opções.
- Não projete seus próprios desejos: Só porque você amava ballet, não significa que seu filho vá amar também.
- Converse antes de se inscrever: Explique como será a rotina, o tempo de duração e o que se espera com essa atividade.
- Convide um amigo: Às vezes, tudo melhora quando se tem uma companhia conhecida para compartilhar a experiência.
- Opte por experiências de curto prazo: Cursos livres, oficinas ou aulas experimentais ajudam a testar sem grandes compromissos.

Quando a desistência é um sinal de alerta
Se o padrão de querer desistir se repete com muita frequência e a criança parece sempre desmotivada, vale ficar atento. Pode ser um sinal de que algo mais está acontecendo — como ansiedade, dificuldade de lidar com frustrações ou até questões emocionais mais profundas.
Nesse caso, conversar com a escola e, se necessário, buscar ajuda especializada pode fazer toda a diferença. O mais importante é lembrar que nem tudo precisa virar uma grande batalha.
E se a criança só quiser tentar, sem continuar?
Está tudo bem. A infância é o momento perfeito para experimentar. Nem sempre é preciso que uma atividade vire uma paixão ou que ela dure por anos. Às vezes, o simples fato de tentar algo novo já ensina muito. Ensina a lidar com desafios, a conviver em grupo, a se adaptar.
Incentivar a tentativa, o esforço e valorizar a experiência (e não só o resultado) é o melhor caminho. E se a criança se dedicar ao treino e depois ganhar um sorvete ou escolher a música do carro na volta pra casa, melhor ainda.
Seu filho não precisa ser craque no futebol, campeão de natação ou prodígio do violino para ser incrível. Ele só precisa de espaço para descobrir o que gosta, aprender com o que não gosta e sentir que pode contar com você nesse processo. Afinal, ninguém acerta de primeira — nem adultos, muito menos crianças. O importante é que, entre idas e vindas, eles estejam construindo confiança, aprendendo sobre si mesmos e, quem sabe, encontrando sua paixão… ou pelo menos se divertindo no caminho.