Quando Julia tinha 2 anos costumava passar as tardes com o amiguinho Kim, da mesma idade. Num desses dias, a menina ficou esperando Kim, mas ele não apareceu. O mesmo aconteceu nos dias seguintes. O pai dela, o médico David Szpilman, resolveu conversar com a família de Kim para saber o que tinha acontecido. Dias antes ele havia se afogado na piscina de sua casa. Isso, assim como outros casos de afogamentos com fins trágicos, fez com que David passasse a estudar o tema mais a fundo. Hoje, é diretor médico da Sobrasa – Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático. Kim não só mobilizou o médico e uma equipe, como também virou mascote da entidade.
No Brasil, o afogamento é a segunda causa de morte e oitava de hospitalização em acidentes com crianças de 1 a 14 anos, segundo dados da ONG Criança Segura. E nas últimas três semanas, três crianças morreram no país porque foram sugadas pelos ralos das piscinas. Em 1998, aos 10 anos, a estudante Flavia desceu com os amigos para a piscina do prédio e teve os cabelos sugados pelo ralo. O irmão tentou puxá-la, mas não conseguiu. Só tirou a menina do fundo da piscina depois de cortar uma mecha de seu cabelo. Quando a ambulância chegou, a menina estava inconsciente, com parada cardiorrespiratória. Depois de 8 meses no hospital, a família voltou para casa com Flavia em coma vigil (estado vegetativo) e ela está assim até hoje.
A relações públicas Lismary Oliveira estudou na época com Flavia e ainda hoje lembra-se de como a notícia foi recebida por ela e pelos demais alunos. “Consigo lembrar claramente da comoção das crianças e da escola para apoiar a família. Hoje, 16 anos depois, acabo de descobrir que ela está ainda em coma vegetativo, em estado irreversível. Quanta coisa eu vivi em 16 anos… Quanta coisa ela poderia ter vivido também. Só desejo muita força pra essa e pras outras famílias e que a lei de segurança em piscinas no Brasil passe a ser levada a sério e fiscalizada”.
Projeto de Lei
O projeto de lei a qual se refere foi sugerido ao deputado federal Darcísio Perondi por Odele Souza, mãe de Flavia. A Lei de Segurança nas Piscinas é uma realidade em países como Estados Unidos e Colômbia. Um dos pontos defendidos no projeto é que os ralos das piscinas tenham um sistema a vácuo com sensor que, em caso de obstruções do ralo, desligue as máquinas em três segundos. Outro mecanismo defendido pela lei usa uma tampa de aprisionamento fazendo com que a água circule, mas que não sugue.
Também a fim de evitar esse tipo de acidente, a Sobrasa lançou no fim do ano passado a campanha Piscina Mais Segura que usa a palavra “águas” para apontar os cinco principais riscos das piscinas.
A – Atenção em seu filho mesmo que haja um salva-vidas por perto. A distância da criança deve ser de um braço;
G – Guarda-vidas, tenha sempre um profissional capacitado por perto em piscinas coletivas;
U – Urgência, saiba o que fazer em casos de urgência, como a quem chamar ou como ajudar em caso de afogamento.
A – Acesso restrito, impeça o acesso às crianças caso elas não estejam acompanhadas dos pais. Se tiver piscina em casa, tenha uma cerca ou grade de proteção que seja transparente com portões auto-travantes;
S – Sucção, se você tem uma piscina residencial, use a bomba apenas durante a noite. Em piscinas coletivas, o recomendado é que hajam dois ralos com uma distância de 1 metro e meio entre eles, para que eles dividam a força de sucção.
Um passo ao lado
Com essas medidas, 95% dos casos de afogamentos poderiam ser evitados. O sócio-fundador da entidade explica que o mais comum dos afogamentos é em crianças de 1 a 5 anos que caem na piscina ou que o pai não está presente.
Também com o intuito de alertar os pais sobre os riscos das piscinas, a ONG Criança Segura elenca algumas dicas:
– Um adulto deve supervisionar de forma ativa e constante as crianças e adolescentes, onde houver água, mesmo que saibam nadar ou que os lugares sejam considerados rasos;
– Esvazie baldes, banheiras e piscinas infantis depois do uso e guarde-os sempre virados para baixo e longe do alcance das crianças;
– Mantenha baldes com água no alto, longe do alcance das crianças;
– Conserve a tampa do vaso sanitário fechada, se possível lacrada com algum dispositivo de segurança “à prova de criança” ou mantenha a porta do banheiro trancada;
– Mantenha cisternas, tonéis, poços e outros reservatórios domésticos trancados ou com alguma proteção que não permita “mergulhos”;
– Piscinas devem ser protegidas com cercas de no mínimo 1,5 m que não possam ser escaladas e portões com cadeado s ou trava de segurança que dificultem o acesso das crianças;
– Alarmes e capas de piscina garantem mais proteção, mas não eliminam o risco de acidentes.
– Tenha um telefone próximo à área de lazer e o número do atendimento de emergência (SAMU: 192 e Corpo de Bombeiros: 193).
Consultoria: David Szpilman, pai de Julia, diretor-médico e sócio-fundador da Sobrasa, http://www.sobrasa.org. ONG Criança Segura, http://www.criancasegura.com.br/dicas_afogamento.asp