Se você já se pegou ouvindo a mesma música infantil pela vigésima vez no dia, ou leu o mesmo livro pela enésima noite seguida, saiba que você não está sozinho nessa missão repetitiva. A verdade é que repetir coisas é uma das formas preferidas das crianças pequenas aprenderem e, por mais exaustivo que isso possa parecer para os adultos, faz todo o sentido para elas.
Crianças menores, especialmente aquelas entre 1 e 1 ano e meio, dependem da repetição para absorver o mundo ao redor. É como se cada “encore” fosse uma chance extra de guardar uma nova informação no cérebro. Enquanto um adulto pode entender algo de primeira (ou pelo menos tenta), os pequenos precisam vivenciar várias vezes antes de fixar.
Por isso, quando seu filho ou filha aprende algo novo, é bem provável que queira repetir esse feito mil vezes. Isso acontece porque ele já sabe o que vem depois e essa previsibilidade é valiosa. Ajuda a criar uma sensação de domínio sobre o que está fazendo e dá uma bela injeção de confiança.
Filmes, músicas e histórias: tudo decorado
Sabe aquela criança que sabe cada fala do filme preferido ou cada rima da história da hora de dormir? Isso não é exagero, é uma demonstração prática de como a repetição funciona na cabeça dela. Ela não está só se divertindo, está participando ativamente da experiência.
O mesmo vale para músicas com rimas simples, como cantigas populares. Cantar a mesma canção várias vezes seguidas não é apenas divertido. É uma maneira eficaz de praticar a fala, desenvolver o vocabulário e, claro, sentir que está contribuindo com algo.

Repetir dá conforto e segurança
Além de ajudar a aprender, a repetição também tem um efeito emocional importante. Quando a criança sabe o que vai acontecer, ela se sente mais segura. Isso explica por que brincadeiras e atividades favoritas viram uma espécie de ritual sagrado: montar o mesmo quebra-cabeças, empilhar blocos ou pedir o mesmo jogo repetidas vezes é uma forma de reafirmar suas conquistas.
O famoso “De novo!” que ecoa pela casa é um grito de alegria. Significa que a criança curtiu tanto a experiência que quer vivê-la mais uma vez (ou vinte). Esse gosto por repetição pode ser um ótimo aliado na hora de estabelecer rotinas. Transições como dormir, comer ou sair de casa geralmente são momentos mais desafiadores para os pequenos. Ter uma sequência previsível de atividades ajuda a manter tudo mais tranquilo.
Se todas as noites seguem a mesma ordem — jantar, banho, escovar os dentes, historinha e cama —, a criança entende que há um fluxo natural no final do dia. Isso reduz resistências e até traz mais autonomia. Com o tempo, ela mesma vai saber o que vem depois. Pergunte e prepare-se para ouvir a resposta certeira.
Importante destacar: rotina não é sinônimo de rigidez ou monotonia. A ideia não é transformar o dia a dia em um ciclo cansativo, mas sim em uma estrutura que oferece segurança. Observar a reação da criança é o melhor termômetro. Se ela está feliz, tranquila e engajada, é sinal de que a repetição está funcionando como deveria.