Hoje em dia é quase impossível imaginar a vida das crianças sem a presença de telas: celulares, tablets, computadores e videogames fazem parte da rotina, seja para estudar, jogar, conversar ou até relaxar. Mas será que o perigo está apenas na quantidade de tempo que elas passam conectadas? Um novo estudo publicado na revista JAMA traz uma reflexão importante: talvez o verdadeiro problema esteja no vício em telas, e não exatamente no tempo que elas passam na frente delas.
Os pesquisadores acompanharam mais de 4.200 crianças e adolescentes norte-americanos, com média de 10 anos de idade, ao longo de quatro anos. Durante esse período, foi observado que cerca de um terço se tornaram mais viciados em redes sociais até os 14 anos. Além disso, quase 25% mostraram sinais crescentes de dependência de celulares, e mais de 40% apresentaram sintomas de vício em videogames.
E o alerta mais preocupante: o uso compulsivo de tecnologia foi associado a riscos mais altos de ansiedade, depressão e até pensamentos suicidas.
Mais do que tempo, o problema está no comportamento
A pesquisa destaca que não é apenas o número de horas online que importa, mas sim a forma como a tecnologia está sendo usada. Quando a criança sente que precisa cada vez mais da tela para se sentir bem, não consegue parar, ou fica irritada quando não tem acesso, os sinais de dependência começam a aparecer. Esses comportamentos são mais relevantes do que o simples tempo de exposição às telas.
Por outro lado, especialistas também alertam para os limites da pesquisa: ela não considerou fatores como contexto familiar, histórico emocional ou outros comportamentos compulsivos que poderiam influenciar os resultados.
Quais são os sinais de vício em telas?
Ficar atento aos comportamentos é essencial. Alguns sinais comuns incluem:
- Pensar frequentemente no uso da tecnologia ou planejar quando vai usá-la de novo;
- Sentir necessidade de passar mais tempo conectado;
- Usar telas para escapar de problemas ou emoções;
- Tentar reduzir o tempo de uso e não conseguir;
- Ficar agitado ou incomodado quando está longe dos dispositivos;
- Prejudicar o desempenho escolar ou outras áreas da vida por conta do uso excessivo.
Como prevenir o vício em telas
Apesar dos riscos, é possível usar a tecnologia de forma saudável, e tudo começa com a forma como o assunto é tratado em casa. Aqui vão algumas dicas práticas para lidar com o uso de telas:
Converse sobre o assunto
Falar abertamente sobre o que é vício e como ele pode afetar qualquer pessoa, inclusive as crianças, é essencial. Esse tipo de diálogo estimula a autorreflexão e abre espaço para que os filhos também identifiquem comportamentos prejudiciais em colegas e amigos.

Conheça os aplicativos e jogos
Antes de liberar o uso de um novo jogo ou app, vale pesquisar mais sobre ele. Veja avaliações, faixas etárias indicadas e converse com outros responsáveis para entender como essas ferramentas funcionam na prática.
Crie limites em conjunto
Em vez de impor regras rígidas, envolver a criança na criação de um “acordo digital” pode fazer com que ela se sinta parte do processo. Isso aumenta as chances de que os limites sejam respeitados e ainda ensina habilidades como autorregulação e negociação.
Estimule alternativas fora da tela
Muitas vezes, a tela está preenchendo um vazio — seja ele emocional, social ou até de tédio. Incentivar hobbies, esportes, brincadeiras ao ar livre e atividades em grupo é uma ótima maneira de promover uma rotina mais equilibrada.
Faça parte da conversa na escola e na comunidade
Combater o uso excessivo de telas não deve ser uma responsabilidade individual. Conversar com outros responsáveis, criar redes de apoio e até propor ações coletivas na escola podem fazer toda a diferença.
Encare o vício como uma questão de saúde mental
Se o comportamento do seu filho indicar um vício, o ideal é procurar ajuda profissional. Em vez de punir ou julgar, o mais importante é entender o que está por trás desse uso excessivo e agir com empatia.
Ao compreender que o vício em telas vai muito além do tempo de exposição, é possível adotar estratégias mais eficazes para garantir que a tecnologia seja uma aliada, e não uma fonte de problemas. Afinal, equilibrar a vida online e offline é um desafio constante, mas também uma oportunidade de ensinar sobre limites, bem-estar e escolhas saudáveis.