Algumas crianças simplesmente não aceitam ordens. E, muitas vezes, é normal até atingir uma certa maturidade para entender o que é certo ou errado. Mas pode ser que a desobediência constante seja um indício de transtorno opositivo desafiador (TOD), um distúrbio de comportamento caracterizado por extrema dificuldade em aceitar regras, recomendações e imposições de outras pessoas, especialmente de autoridades e dos pais.

Para Clay Brites, pai de Helô, Gustavo e Maurício, pediatra, neuropediatra e um dos fundadores do Instituto NeuroSaber, a oposição da criança pode continuar persistindo mesmo que possa machucar os sentimentos de alguém. “Pode levar a condutas desafiadoras, sentimento intenso de irritabilidade e crises de raiva assim como de vingança. A presença destes indivíduos em grupos sociais sempre leva a instabilidades e discussões recorrentes”.
O que é o transtorno opositivo desafiador (TOD)?
Considerado um Transtorno Neuro Psiquiátrico, ele está dentro do grupo de Transtornos Comportamentais Destrutivos da infância, podendo aparecer ainda na pré-adolescência e na adolescência. Nos ambientes sociais, é possível notar que o TOD é uma condição responsável por comportamentos restritivos como, por exemplo, raiva, insubordinação, teimosia constante, hostilidade, sentimento de vingança e uma grande dificuldade em obedecer a regras quando solicitadas.
Quando o distúrbio pode começar a acontecer?
Normalmente, existem indícios nos oito anos de vida e tende a se intensificar na adolescência. Para Ellen Moraes Senra, psicóloga e mãe de Rafael, “uma vez que é explicado que o nome daquilo que o paciente sente é raiva e que é uma emoção que todos nós sentimos, pode ser que fique mais fácil para a criança compreender que as reações são provenientes dessa mesma emoção. Algo que funciona muito bem é deixar que o paciente explore sua emoção de forma clara”, explica.
Como diferenciar o TOD da birra?
Segundo Gladys Arnez, pediatra e neurologista infantil e da adolescência, “é fundamental saber diferenciar o TOD da birra”. No caso deste segundo, é bastante comum um comportamento imaturo e passageiro da criança, em que ela tenta expressar o que está sentindo para conseguir o que quer. Geralmente, pode acontecer dos 10 meses aos 2 anos, e chega a passar antes dos 4.
Já o que a diferencia do TOD, é que a criança fica bastante irritável, esporadicamente ou a todo momento, com ou sem motivo. “É uma criança que não reconhece regras. Ela é sempre do contra, está sempre testando limites, não se importa com o sentimento dos outros, está sempre contra a família, amigos e não assume a responsabilidade dos seus erros, além de não ter medo de punição, fazendo com que tenha maior probabilidade de se envolver com drogas ou apresentar comportamentos ilícitos mais tarde.”, explica Gladys.

O TOD pode estar relacionado com outros transtornos?
Em 50% dos casos, segundo estudos recentes, o TOD está associado ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Contudo, ele também pode estar ligado a quadros de deficiência intelectual, transtorno Bipolar, entre outros. É muito importante ficar de olho no comportamento das crianças e sempre procurar um profissional quando necessário.
Quais são as causas?
Ainda não existem causas definidas sobre o transtorno, mas acredita-se que os relacionamentos familiares podem ser um gatilho para o desenvolvimento do TOD como, por exemplo, violência doméstica, abuso sexual, abuso físico, negligência, abuso de álcool e drogas pelos pais, além de conflitos.
Como o diagnóstico de TOD é feito?
Ao procurar ajuda, os pais precisam notar o comportamento das crianças por no mínimo seis meses, além dos principais sintomas que são: irritabilidade; comportamento desafiador; agressividade; impulsividade; dificuldades de relacionamento com colegas; comportamento vingativo; raiva e ansiedade.
Existe tratamento?
Sim! Na maioria dos casos, o paciente passa por três bases: medicação, psicoterapia comportamental e suporte escolar. O primeiro ajuda na auto regulação do humor em situações de frustração. Já o segundo, as alterações comportamentais na família, de forma educacional, como, por exemplo, conversar, ter paciência ao falar, explicar o motivo das ordens dadas, entre outros. Por fim, o suporte escolar visa oferecer apoio para o aluno, além de proporcionar um melhor engajamento nas regras escolares.
Meu filho tem TOD. Quais conselhos posso seguir?
Gladys Arnez deu 7 dicas de ouro para driblar a situação:
- Evite discutir sobre o relacionamento do casal perto da criança
- Não use agressividade e violência
- Fortaleça a autoestima da criança, fazendo-a sempre se superar em boas ações;
- Em absolutamente todas as situações utilize a boa conversa;
- Trabalho em equipe com Práticas de esportes e atividades em equipe geram disciplina, assim como, cooperação e dinamismo;
- Repreender sempre, porém, com calma e sabedoria;
- E tenha paciência!