Criança

Tudo sobre desfralde: dicas de ouro dessa fase para tirar (de vez) a fralda do seu filho 

O desfralde é o momento em que seu filho percebe que não é mais um bebê - Getty Images
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Publicado em 16/07/2019, às 21h00 - Atualizado em 16/01/2023, às 08h37 por Jennifer Detlinger, Editora-chefe | Filha de Lucila e Paulo


O desfralde é o momento em que seu filho percebe que não é mais um bebê (Foto: Getty Images)

Seu filho está crescendo e descobrindo o próprio corpo. Percebendo mãos, pés e também as necessidades. No momento do desfralde, a criança passa a perceber que aquilo que está na fralda é ela quem faz. E essa é uma mudança grande na capacidade de autopercepção, diferente de tudo o que a criança já passou antes. Um dia, tenha certeza, seu filho vai sair da fralda e usar direitinho o banheiro. Mas tudo tem seu tempo certo.

Não existe uma idade precisa para fazer essa passagem, mas os especialistas afirmam que antes de 1 ano e meio a criança não tem maturidade pra encarar essa mudança.  O período natural do desfralde do bebê é entre 18 meses a 4 anos, segundo a fase de desenvolvimento anal especificada por Freud. Se você insistir antes da hora, vai se estressar à toa e não vai trazer qualquer benefício para seu filho.

Nesse momento, o sistema nervoso da criança vai se desenvolvendo da parte central até a região do tronco, o assoalho pélvico. Parece complicado, mas significa que os sinais nervosos chegam com mais rapidez ao esfíncter. “Esse processo faz com que o bebê ande com coordenação e tenha controle sobre a bexiga, porque a sensação de estar apertado ele já tem”, explica Fabiana Catanzaro, mestre em Psicologia Escolar e Psicopedagoga, filha de Marlene.

Além disso, o processo do desfralde é o momento em que seu filho percebe que não é mais um bebê. Dependendo de como esse momento é entendido, isso pode ser muito angustiante para ele. Por isso, é importante que todos sintam o desfralde como algo bom e mostrem para a criança que é um crescimento, um ganho. Mesmo depois de criança ser desfraldada pode acontecer alguns escapes. “É comum acontecer incidentes até cinco ou seis anos. É preciso encará-los com naturalidade”, comenta a Teresa Uras, pediatra do Hospital Samaritano de São Paulo, mãe de André e Amanda.

Quando chegar o momento mais adequado, seu filho vai dar sinais, pode ter certeza. Preste bastante atenção neles. Por exemplo, ele vai começar a avisar quando fez xixi ou cocô ou se mostrar incomodado com a fralda suja, mexendo o tempo todo nela ou até mesmo evitando se sentar nessa situação. Aí, sim, você deve começar o treinamento, que pode levar de quatro a cinco meses. Portanto, nada de pressa! Comece perguntando com frequência se ele está com vontade, reforce que ele avise sempre que quiser fazer e então comece a levá-lo ao banheiro. O processo leva tempo mesmo e exige paciência. Mas jamais desista.

No tempo da criança

Alguns bebês desfraldam mais rápido e outros têm o desenvolvimento mais lento; essa variação de tempo é normal. Para saber o melhor momento de começar o desfralde, você deve ficar atenta aos sinais da criança. “Para abandonar a fralda, o bebê precisa se sentir seguro e tranquilo para perceber as necessidades fisiológicas, dar atenção a elas e calcular o tempo que necessita para chegar ao banheiro. Geralmente a partir de dois anos e meio, em média, é quando a criança já comanda os esfíncteres, que são as estruturas que controlam a abertura e o fechamento da uretra e do ânus. A criança aponta a região das fraldas e fala xixi ou cocô, e tem capacidade de ficar sentada de 5 a 10 minutos”, explica a pediatra.

Em alguns casos, pode ser necessário retroceder o processo de desfralde: é um período de aprendizado que deve ser tranquilo. E quando a criança está muito assustada ou acontecem casos de doenças agudas, é melhor interromper o processo. “Se a criança não está reagindo de uma maneira produtiva para aquela relação, que começa a fazer cocô em todos os lugares ou a segurar muito as fezes, alguma coisa não está bem. Ela está dizendo que o processo precisa de tempo ou de maturidade. E dar um passo atrás não é um erro. Errado está em percebermos que não era o momento e não retrocedermos. E o que pode desencadear na criança é que ela vai se sentir respeitada e que tudo bem ela ter o tempo dela. E isso é um ganho”, aconselha Fabiana.

Ao tirar a fralda, também é comum ter escapes e a criança sujar a roupa. “Esses escapes são normais, temos que ter atitude positiva, sem cobrar demais para que ela não tenha traumas e encare esse processo como natural”, diz Teresa. O que acontece no momento do desfralde é que o bebê está começando a ter controle, mas ainda não tem total. “Falar para a criança que tem que fazer cocô em tal hora, ou perguntar demais se fez cocô hoje quando estava na escola, ou ficar focando demais nesse assunto é ir contra a natureza. É claro que é importante saber, mas esse tema virar o da vida da criança não é legal”, comenta Fabiana.

Desfralde diurno X desfralde noturno

Especialistas defendem que o ideal é começar o desfralde diurno e depois fazer o noturno. Isso porque o organismo da criança pode ter dificuldade de segurar o xixi durante as fases do sono profundo. Depois que o seu filho estiver ficando sem fraldas o dia inteiro, você pode começar a pensar em tirar a fralda noturna.

O ideal é começar o desfralde diurno e depois fazer o noturno (Foto: Shutterstock)

Dicas para ajudar seu filho no momento do desfralde

Algumas atitudes podem colaborar nesse momento, como deixar a porta do banheiro entreaberta para que as crianças possam ver os pais indo ao banheiro. Outra ideia é apresentar o penico: deixe que ela explore o objeto, respeite seu tempo. O uso do penico é recomendado por muitos pediatras pela facilidade de uso, o bebê consegue sentar e sair sem problemas e levá-lo a vários lugares. “Os pais devem ter paciência, tolerância, não exagerar em ambos os lados. Por exemplo, parabenizar a criança quando usou o penico na primeira ou segunda vez tudo bem, mas depois, aos poucos, vai tornando aquilo natural. E nem o contrário, exagerar no que é ruim, reclamar muito do cheiro, falar ‘meleca, olha só o que você fez, quanto cocô, que nojo’. Claro que a criança tem que aprender que as fezes é algo que ela descarta, não é porque foi produzida por ela que tem que ficar. Aos poucos, a criança percebe que controla as fezes, mas que também é uma coisa diferente dela. Portanto é válido se despedir do cocô e xixi e estimular o desejo dela de crescer igual o pai, a mãe, os irmãos”, completa a psicóloga.

Primeiros sinais: Quando chega a hora de abandonar a fralda, as crianças começam a dar alguns indícios. A partir do momento em que você perceber que ele obedece a comandos, compreende frases simples e imita a ação dos pais, significa que tem maturidade para iniciar o desfralde.

Iniciando: Ao perceber os sinais, você deve iniciar o ensino gradual. Comece apresentando o banheiro, o vaso sanitário e mostrando ao seu filho qual o destino de tudo o que ele vai fazer no penico.

Trabalho de quem: Geralmente, a indicação médica é de que a mãe ensine a filha e o pai ensine o filho, por correspondência de gêneros. Mas, seja menina ou menino, a participação tanto do pai quanto da mãe é essencial nesse momento, os dois têm que se envolver.

Converse muito: Nesse momento é importante passar uma orientação de forma lenta e gradual através de gestos repetidos, como levar a criança ao banheiro e jogar o que tiver no penico dentro do vaso junto com ela. Tudo deve ser ensinado didaticamente, para que ela adquira consciência do que está fazendo.

A melhor estação é o verão: Deixar a criança molhada de xixi em um tempo frio pode causar resfriado, além de incômodas assaduras. Prefira sempre o verão para fazer o desfralde! “É importante adiar o processo se estiver acontecendo algum fato que altere a rotina da criança, como por exemplo, a mudança de casa, morte de alguém próximo, transferência de escola ou o nascimento de um irmãozinho”, ressalta Débora Corigliano, especialista em neuropsicopedagogia do Instituto Brasileiro de Formação de Educadores (IBFE) e mãe de Bruno e Giovanna.

Encare com naturalidade: É fundamental que a criança perceba que fazer suas necessidades no banheiro é importante. Por isso, seja exemplo e encare o fato com naturalidade. Além disso, a criatividade pode ser uma aliada em alguns momentos, como na hora de dar a descarga, em que o barulho pode assustar a criança.

Avise a escola: Quando for iniciar o processo do desfralde, combine o mesmo com a escola para não confundir a criança, pois ela não entende o fato de ter que ficar sem fralda no período escolar e para ir ao shopping, por exemplo, precisar colocar a fralda de novo. Atitudes como essa podem tirar a segurança e confundir criança, deixando o processo muito mais demorado

Cuidado com suas atitudes: Evite forçar seu filho a passar horas sentado no penico. Essa obrigação pode provocar outros problemas, como a prisão de ventre.

Converse com o pediatra: Transforme essa fase um momento tranquilo. É importante a conversa com o pediatra sobre este momento, já que ele pode dar dicas e orientações por conhecer bem você e seu filho.

Seja positivo: Não se surpreenda se sua família e amigos perguntarem a respeito do desfralde e pensarem que você está pressionando seu filho a fazer isso. Um conselho a ser seguido é: ignore comentários e momentos que não saem da maneira que você esperava e mantenha a positividade – isso aumenta as chances de ter sucesso com o que você está fazendo.

Depois do penico: Não faça a transição do penico para a privada muito cedo. Você vai saber que seu filho está pronto para o trono de porcelana, quando ele é capaz de subir sozinho e sentar, mesmo se você remover o assento de criança. Isso geralmente acontece em torno de 3 anos.

Tudo a seu tempo: A principal dica é que você não tenha pressa e tente fazer tudo de forma lúdica para a criança. O pior erro é repreender ou brigar, porque dessa forma você pode prejudicar e atrasar o progresso, já que a criança pode se sentir reprimida de usar o penico outras vezes e até mesmo causar prisão de ventre.

A principal dica é que você não tenha pressa e tente fazer tudo de forma lúdica para a criança (Foto: iStock)

O papel da escola no desfralde

Você pode contar com a escola nesse processo ao oferecer estrutura física e atividades que trabalhem o emocional e o fator comportamental. Numa sala cheia de alunos, é importante não haver comparações e que, pelo contrário, eles sejam incentivados uns pelos outros. A criança que já consegue ir ao banheiro pode acompanhar outra que está no processo de desfralde, por exemplo.

Além disso, os professores também devem ser orientados a oferecer muitas idas ao banheiro por dia. Ao mesmo tempo, devem organizar um momento para tirar a fralda do seu filho, fazendo com que ele se acostume pouco a pouco, assim como você faz em casa.

É importante que você informe a escola em caso de grandes mudanças na vida da criança, como mudança recente de cidade, mudança de casa ou nascimento de um irmão. Elas podem interferir no processo de desfralde, já que ele está diretamente relacionado ao fator emocional.

Na prática

Reunimos algumas dicas práticas que você e seu filho podem seguir para deixar o momento do desfralde mais tranquilo e divertido:

  • Procure sinais que demonstram se seu filho está pronto ou não. Ele consegue ficar com a fralda seca por mais de duas horas? Ele pode estar pronto. Ele prefere usar o penico na cabeça como chapéu? Talvez ele não esteja.
  • Mostre a ele o banheiro e ensine os nomes dos objetos que ele vai passar a usar (vaso, papel higiênico, penico) e ensine-o a se sentar, puxar a descarga e lavar as mãos.
  • Deixe-o escolher entre o penico e o redutor do assento. O penico deve ficar sempre no banheiro, nada de levá-lo para a sala ou quarto.
  • Permita que ele leve um brinquedo pra se distrair.
  • Não tenha pressa. Deixe-o sentadinho ali tentando.
  • Mantenha a rotina de levá-lo ao banheiro a cada hora. Combine com a pessoa que fica com ele na sua ausência e com a creche, se for o caso. Todos devem ser envolvidos no processo.
  • Faça isso ser divertido. Você pode cantar uma canção para sinalizar que é hora de ir ao banheiro.
  • Diga que agora ele é grande e não mais um bebê, por isso pode fazer ali e não na fralda.
  • Quando ele fizer direitinho, comemore, aplauda, mostre que está feliz.
  • Se durante o dia ele já estiver firme e pedindo sempre pra ir ao banheiro, comece o treinamento da fralda noturna. Leve-o para fazer xixi antes de ir pra cama e acorde-o durante à noite para ir ao banheiro.
penico com a parte da frente lisa (Foto: Estéfi Machado)

Desfralde mais divertido

Abandonar a fralda e partir para um novo mundo dentro do banheiro pode ser assustador para as crianças. Por isso, é importante que você ajude seu filho nesta hora, incentivando a ida ao banheiro, mas sem pressão. Para te ajudar a enfrentar esta fase com seu filho, separamos algumas táticas infalíveis:

Calendário colorido: Crie um calendário e decore com o personagem favorito do seu filho, ou com adesivos coloridos. Depois de cada ida bem sucedida ao banheiro, peça que ele marque no quadro.

Transforme-o em um herói: Crie uma história em quadrinhos, ou um scrapbook, contando a história da luta da criança contra as fraldas. E deixe que ele participe, dando sua versão dos fatos.

Livro de colorir: Deixe que seu filho faça um desenho sobre cada jornada ao banheiro. Depois que ele se acostumar com a hora do banheiro, junte as obras de arte e faça um arquivo desta fase da criança.

Livros: Os livros podem ser incentivadores de várias maneiras. Tente uma dessas ideias enquanto o seu filho lê e pratica a ida ao banheiro:

  • Mantenha alguns livros no banheiro (e eles não devem sair de lá).
  • Para que a criança se acostume com o vaso, coloque-o sentado de roupas, enquanto você lê uma história. Só quando ele estiver pronto retire a fralda.
  • Leve seu filho até a livraria mais próxima, e deixe que ele escolha livros, que só serão lidos durante a ida ao banheiro.

Bonecas que fazem xixi: Compre uma boneca que faça xixi e cocô, e incentive que seu filho ensine a boneca a usar o banheiro. Desta maneira, ele também vai aprender e encarar a ida ao banheiro com mais naturalidade.

Não perturbe: Faça um aviso de porta divertido com o seu filho, e peça para que ele decore o objeto com adesivos e imagens coloridas.

Roupas de baixo de gente grande: Leve seu filho para as compras e deixe que ele escolha quais serão suas novas roupas de baixo, sejam elas coloridas ou de personagens, além de deixar claro que ele já é grande o suficiente para usá-las.

Água colorida: Tinja a água do vaso sanitário com corantes vermelhos ou azuis, que irão se transformar em laranja ou verde quando a criança for ao banheiro. Faça deste momento um jogo para eles.

Personalize o penico: Faça do penico um objeto ao gosto da criança, deixando que ele use adesivos para decorar a peça.

Ajuda extra: Se o seu filho tem uma naninha ou bicho de pelúcia de estimação, deixe que ele leve-o para o banheiro com ele. Isso dará a sensação de segurança que a criança precisa nesta fase.

Consultoria: Fabiana Catanzaro, mestre em Psicologia Escolar e Psicopedagoga, filha de Marlene. Teresa Uras, pediatra do Hospital Samaritano de São Paulo, mãe de André e Amanda. Débora Corigliano, especialista em neuropsicopedagogia do Instituto Brasileiro de Formação de Educadores (IBFE) e mãe do Bruno e da Giovanna. Dr. Rodrigo Felgueira, pediatra, filho de Alice e Basilio.


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