Lembro como se fosse hoje a sensação desagradável que eu tinha quando ao fazer uma pergunta obtinha tal resposta: “Você vai entender quando crescer.” Isso valia para questões sobre o Papai Noel, sexo, de onde vinham os bebês, para onde a lua ia quando era dia, o porquê dormirem meus pais dormirem juntos e eu sozinha, como o coelhinho da páscoa conseguia colocar ovos de chocolate, entre tantas outras. Na escola, não era diferente. Quando perguntava à professora o porquê aprendia tal coisa, ela sempre respondia: “Quando você chegar na série tal você entenderá.” E eu pensava: “Então por que me ensinam agora?”
Sei que o desapontamento foi me tomando, ficava com raiva e, com o tempo, fui me desinteressando pelas perguntas. E isso é um crime que podemos cometer com qualquer ser. Afinal, a curiosidade é uma grande mola propulsora ao desenvolvimento. Demorei anos para perceber isso e voltar a perguntar.
Quando uma criança faz um pergunta, ou ela faz como treino de linguagem, ou por uma curiosidade momentânea ou por já estar pensando naquele assunto sem ter conseguido resolvê-lo por si mesma. É uma necessidade daquele instante e não para quando ela crescer. Por mais difícil que pareça, a pergunta deve ser respondida, ainda que seja um simples “não sei”.
“Mas há coisa que não dá!”, reclama o leitor.
Concordo que há perguntas que nos deixam em “saia justa”. Mas há como sair dela sem precisar esquivar-se ou deixar para depois. Veja como.
Primeiro, certifique-se de que você está entendendo a pergunta. Uma criança questionou a mãe o que era sexo. Ansiosa, ela pegou os livros e, com dedicação, desenvolveu sua aula começando das plantas até chegar no ser humano. Ao final, perguntou ao filho: “Entendeu?” Ele respondeu que sim, levantando os ombros e dizendo: “Mas o que eu respondo no questionário: “Sou do sexo F ou M”? Cuidado com a cilada!
Após esse primeiro crivo, certifique-se que a resposta vai de acordo com a idade da criança e com os conhecimentos que ela já possui, pois só assim a fará sentido. Muitos pais tendem a dar uma explicação lógica e por completa, muitas vezes despertando na criança o que não convém para a idade. Uma boa dica é responder exatamente o que ela perguntou e não tudo o que sabemos a respeito. Se ela não estiver satisfeita, ela fará novas perguntas. E então, repita o procedimento.
Também não convém inventar histórias para aliviar a resposta. A avó de uma criança morreu e a mãe disse que ela havia virado uma estrela. Meses depois, foi ao cemitério e a filha quis ir junto. Foi e encheu a mãe de perguntas até que lhe deu um xeque mate: “A vovó é uma estrelinha no céu, ou está dormindo em baixo da terra?” Coloque-se no cérebro da criança e veja a confusão instalada e instaurada. Evitemos.
Por fim, instigue a criança a fazer perguntas, problematize e a ajude a construir suas respostas, mas não a espere crescer. Entenda a pergunta, não invente e responda o que ela realmente perguntou. Simples, assim como é a criança.