Ele: A expectativa dos pais
Todo pai acha que sabe como criar um filho perfeito. Basta fazer o contrário do que zeram de errado seus próprios pais e repetir o que eles zeram de certo. “É simples!”, pensam aqueles que ainda não têm filho e aqueles que estão grávidos. “Serei o pai mais perfeito do mundo!”, pensamos.
Mas nossos fihos não somos nós. Seu filho tem características biológicas diferentes, ele é uma soma da biologia da mãe e do pai. Ele também terá estímulos culturais diferentes do seu tempo. E ainda terá as expectativas do outro lado da relação conjugal. Que equação maluca!
Imagine uma mãe que tenha essa crença: “É simples! Basta fazer o contrário do que zeram de errado seus próprios pais e repetir o que eles zeram de certo”. Mas esta mãe teve pais autoritários e acredita que aquilo não funcionou. Será mais liberal. Contudo, o marido acredita na mesma coisa: basta fazer o contrário do que zeram de errado seus próprios pais e repetir o que eles zeram de certo. Mas o marido foi criado por pais liberais e acredita que isso não funcionou. Será mais autoritário.
Há ainda a possibilidade do filho de autoritários querer manter uma educação autoritária. “Meu pai era rígido e eu sou uma boa pessoa”, ele dirá. E a filha de liberais querer manter o mesmo padrão dos pais. “Sou livre e autônoma graças aos meus pais!”. Imaginem, quando chega a criança, as horrorosas brigas que veremos entre estes dois seres, ambos certos de que o outro está cometendo um absurdo.
O filho é um desconhecido que devemos amar, antes de conhecer. Não será a criação de nossos pais que definirá uma boa criação de nossos filhos. Será nossa atenção dedicada a esse novo ser. Será nosso desprendimento ao que funcionou conosco ou o que funcionava no passado com outras crianças. Será nossa disposição de reaprender tudo o que achávamos que sabíamos. Será começar esse relacionamento sem muitas expectativas, mas muito amor.
Ela: Ninguém disse que seria fácil
Certa vez ouvi de uma educadora que os filhos não planejados, frutos de uma noite de amor sem fins procriativos, tinham uma vantagem em relação àqueles que foram sonhados e planejados por seus pais desde sempre, aqueles que já têm nome e uma carinha imaginária quinze anos antes de nascer. Os que vêm no susto têm mais liberdade de serem quem são, porque eles não foram programados nos mínimos detalhes. Causam menos frustração.
Racionalmente sabemos que uma gravidez não planejada traz consigo muitas inseguranças – financeira, psicológica e relacional (o que vai ser do meu casamento/namoro/caso?). Programar-se para ter um filho é engravidar com uma estrutura adequada para crianças. Morar numa casa com espaço, pracinhas por perto, avós, tios, estabilidade financeira, uma relação sólida com o outro genitor.
Sendo bem sincera, conheço poucos casais com menos de 40 anos que preencham todos estes requisitos. Para ganhar melhor, muitos jovens adultos se mudam de cidade. Mudando de cidade, lá se vai o convívio com a família. Casais que conseguem comprar boas casas geralmente estão se matando de trabalhar pra constituir este patrimônio. Ou seja, a hora certa – às vezes – pode nunca chegar ou ser aquela mesma que você se depara com um teste positivo.
E as crianças com isso tudo? As crianças não têm nada a ver com a hora nem a circunstância em que engravidamos, elas precisam que a gente se adapte e não o contrário. Planejadas ou não, elas nunca serão exatamente como queremos, porque cada criança é um universo e esta é a beleza da humanidade.
Ter um filho demanda superação pessoal. Haja criatividade e energia para dar conta dos cuidados de saúde, alimentação e afeto com o bebê; e paciência e diálogo para se relacionar com os outros adultos, seja o cônjuge, a chefe, os pitaqueiros de plantão ou até você mesma. E se você controlar suas expectativas, acredite, todos saem ganhando com isso, principalmente o seu filho.