Uma pesquisa recente realizada em 187 países publicada nas revistas Lancet e Lancet Global Health mostrou que os hábitos alimentares da maioria das populações do mundo pioraram, principalmente entre as crianças. Chade e Mali, nações africanas, tiveram as notas mais altas no quesito alimentação saudável, enquanto as mais baixas ficaram com Mongólia e Argentina.
O Brasil apresentou um dado alarmante: está perto de alcançar o patamar dos Estados Unidos, campeão de junk food mundial. Mais de 30% das crianças brasileiras já apresentam quadros de sobrepeso ou obesidade. O endocrinologista pediátrico e presidente da Unimed Grande Florianópolis, Genoir Simoni, pai de Lanna e André Luís, explica que a principal causa para o problema é a mudança no comportamento social das famílias. As crianças passam cada vez mais tempo fora de casa e, consequentemente, os hábitos alimentares também mudaram.
Outro importante fator é a violência, sim, isso mesmo. Por causa dela, as crianças passam cada vez mais tempo dentro de casa e deixam de praticar outras atividades, o que leva a gente diretamente para o terceiro fator: videogames, televisão e computadores ocupam horas e horas do dia das crianças. “Outra questão é a melhora da condição social da população somada à indústria alimentícia. As pessoas têm mais acesso a produtos industrializados, ricos em gorduras e carboidratos, mas pobres em outros nutrientes”, explica o especialista.
Por último, mas não menos importante, está a questão do aleitamento materno. Muitas crianças desmamam antes dos 6 meses, período mínimo recomendado pelos pediatras, o que contribui para o sobrepeso ou obesidade.
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Evitar para não ter que remediar
Além disso, os hábitos alimentares dos pais influenciam diretamente na alimentação dos filhos. As preocupações começam na gravidez, a futura mãe precisa ser orientada pelo médico a manter uma alimentação saudável e amamentar o bebê que está chegando até pelo menos os 6 meses de idade, exclusivamente. Depois, para introduzir outros alimentos, os pais podem levá-lo ao pediatra e envolver também todos os familiares. “O modelo de equilíbrio entre a família ajuda a criança a criar hábitos saudáveis. O exemplo é essencial”, explica Genoir Simoni.
Claro que nada é radical! O doce, por exemplo, que é um dos queridinhos de muitas crianças não precisa ser abolido. É só ter algumas regras e premissas dentro de casa, que devem ser seguidas por todos. O ideal é que as crianças façam seis refeições por dia: café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ainda comam uma fruta antes de dormir.
Depois do almoço, a criança pode comer um pedaço de chocolate ou uma bala, mas sem exageros. Se a criança come bem, não há um grande problema em oferecer um doce, principalmente aos finais de semana. Mas essas pequenas aberturas são só para as crianças maiores de 2 anos. Antes disso, uma alimentação mais natural ajuda a educar o paladar.
Se a criança desenvolver obesidade infantil, outros problemas podem vir junto, como síndromes metabólicas, hipertensão arterial e diabetes tipo 2. “Crianças de 9 ou 10 anos já chegam aos consultórios com essas patologias. Nós, pais, precisamos estar atentos”, finaliza o especialista. A receita para evitar tudo isso pode ser simples: prevenção, com boa alimentação, prática de atividades físicas e boas noites de sono.