Em uma reviravolta surpreendente, a Justiça de São Paulo decidiu reduzir 96 dias da pena de Alexandre Nardoni, condenado pelo trágico assassinato de Isabella Nardoni, de apenas cinco anos, que chocou o país em 2008. Essa diminuição na pena aconteceu devido a trabalhos e seu envolvimento em atividades de leitura e trabalho na prisão, mais especificamente, uma resenha da obra póstuma “Carta ao Pai” de Franz Kafka, que ele realizou durante sua sentença de 31 anos e um mês em regime inicial fechado.
O programa de incentivo à leitura, promovido pela Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), é uma das opções para que os presos condenados possam tentar reduzir suas penas. Publicado em livro, a carta que Kafka nunca mandou para o destinatário mostra o sentimento de inferioridade do escritor em relação ao próprio pai e a relação conflituosa entre pais e filhos. Ao analisar o texto, o pai de Isabella Nardoni afirma que “indica a obra” porque retrata a “história de vida dos pais com os filhos”.
Em sua resenha, Alexandre Nardoni fez uma conexão entre a obra de Kafka e sua experiência pessoal. Ele afirmou que a obra retrata a “história de vida dos pais com os filhos” e ressaltou que muitas famílias enfrentam problemas similares, principalmente a falta de diálogo.
“Essa história escrita é o que acontece com diversas famílias no tempo de hoje. As famílias têm os mesmos problemas dentro dos seus lares, faltando diálogo”, escreveu Nardoni.
Como resultado, Nardoni solicitou à Justiça a redução de quatro dias em sua pena, o que foi aceito pela juíza Marcia Beringhs Domingues de Castro, da 2ª Vara de Execuções Criminais de Taubaté, do Tribunal de Justiça de São Paulo. A leitura e resenha de Kafka, além de um período de trabalho na prisão, levaram à diminuição de 96 dias de sua sentença, uma vez que a legislação permite que, a cada três dias trabalhados, um dia de pena seja descontado.
“O sentenciado permaneceu com o livro ‘Carta ao Pai’, de autoria de Franz Kafka, pelo período de 26 dias, tendo apresentado a respectiva resenha, que foi considerada fidedigna pela equipe responsável”, registrou a juíza. Nardoni está cumprindo sua pena na Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, em Tremembé, conhecida por abrigar “presos famosos” de São Paulo.
Mãe de Isabella Nardoni conta como teve certeza que Alexandre estava envolvido no caso
Ana Carolina Oliveira, mãe da menina Isabella Nardoni, revelou pela primeira vez qual foi o momento e o sentimento exato em que percebeu que o pai da menina, Alexandre Nardoni, era o responsável pela morte da própria filha.
Segundo ela, na missa de sétimo dia em homenagem à filha, ainda existia algum contato com a família de Alexandre, mas aos poucos algo foi ficando no ar. “A gente não tinha contato. Na Missa de sétimo dia a irmã dele estava lá. No dia em que saiu a [ordem de] prisão deles, eu falei com o pai dele. Eu ainda tinha esse contato”, afirmou ela.
Na ligação, eles falaram que Alexandre Nardoni estava estudando a melhor forma de se entregar. Ela estranhou que ele não estava alegando que o filho era inocente. “Eu pensei: o que está acontecendo? Ninguém quer ser acusado de algo que não fez”, questionou Ana Carolina. A partir da prisão do responsável pela morte, ela foi percebendo que todas as provas incriminavam o casal.
Em entrevista ao ‘Ticaracaticast’, a mãe de Isabella revelou a sensação do momento que teve certeza da culpa do pai: “Foi essa hora que eu falei que algo não estava certo e virou uma bola de neve. A história vai acontecendo. É uma cronologia que não como sair dela. Muita gente falava que dava ânsia de vômito, que teve que parar de assistir”, relatou ela relembrando a dor dos dois em que o caso foi sendo revelado.
