No cenário da tragédia de Brumadinho (MG), as pessoas com membros da família desaparecidos tendem a buscar consolo no trabalho árduo feito pelas equipes de resgate, mas dez dias depois da barragem da mineradora Vale ceder, muitos só querem velar o corpo dos entes queridos.
“Nosso objetivo é sempre entregar as pessoas salvas, com vida. Se não é possível, a gente tenta entregar um corpo para a família velar, porque sabemos que isso vai diminuir o sofrimento”, afirmou o tenente Pedro Aihara, de 25 anos, do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, em entrevista ao Estadão Conteúdo.
Desde cedo na vida militar, Pedro reforça a importância da sensibilidade no momento de lidar com as famílias que esperam por notícias das pessoas que ainda não foram localizadas, 205 de acordo com o último balanço divulgado no fim da tarde do último domingo (3).
“Eu venho com a perspectiva do familiar que perdeu uma pessoa e está nos assistindo em um momento delicado, de muita dor. Minha preocupação é com a pessoa que foi afetada de alguma maneira, que ela se sinta minimamente acolhida. Que ela possa perceber que está sendo feito um trabalho de responsabilidade”, disse em entrevista.

Mas o tenente conta que não é fácil manter a serenidade em um cenário tão desolador, tendo que lidar com pessoas tão emocionadas: “Tem hora que a gente tem de respirar fundo para retomar a tranquilidade”, revelou, em entrevista.
E assim continuar com o trabalho, que no momento é só no que algumas pessoas conseguem pensar, em ver seus entes queridos novamente. Mas ele avisa que vai ficando cada vez mais difícil de encontrar os desaparecidos, e que uma hora não vai ter mais nada que o Corpo de Bombeiros poderá fazer.
“Daqui a algum tempo de operação – e isso vai demandar alguns meses -, com o estado avançado de decomposição dos corpos, eles se misturam à lama. A quantidade de rejeito envolvida, o tamanho da área afetada pela tragédia, o fato de os corpos estarem muito espalhados, tornam algumas recuperações realmente impossíveis pela questão biológica mesmo”, explica.
O tenente Pedro teme que, eventualmente, ele tenha que anunciar o fim das buscas. “Esperamos que antes disso a gente tenha conseguido encontrar o maior número de corpos possível. Essa notícia de encerrar as buscas sem ter encontrado todo mundo, acho que vai ser o momento mais difícil dessa operação. É a notícia que eu não quero dar. Não quero ser o porta-voz dessa tragédia“, finalizou, em entrevista ao Estadão Conteúdo.
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