Muitas pessoas imaginam que amamentar é um processo puramente instintivo, algo que a mãe e o bebê já nascem sabendo. No entanto, a realidade para a maioria das mulheres é diferente: a amamentação envolve técnica, conhecimento e prática, e pode ser cheia de desafios. É neste cenário que o apoio profissional se torna fundamental.
Em entrevista exclusiva para Pais&Filhos, conversamos com Mariana Betioli, mãe de André, Felipe e Bianca, consultora de amamentação, obstetriz e doula, que atualmente acompanha Brunna Gonçalves, mãe da Zuri, fruto do relacionamento com a cantora Ludmilla. Mariana esclareceu a importância desse suporte especializado para que a amamentação ocorra com leveza, sem sofrimento e, muitas vezes, sem a necessidade de recorrer precocemente à fórmula.
A importância do acompanhamento profissional
Ao contrário da crença popular, amamentar não é algo que acontece automaticamente. “Muita gente imagina que amamentar é só colocar o bebê no peito, como se fosse encaixar um plugue na tomada. Mas não é bem assim”, afirma Mariana. “Existe uma crença de que amamentar é algo totalmente instintivo — que a mãe e o bebê já nascem sabendo”. Para a grande maioria das mulheres, é um processo que exige aprendizado, pois “amamentar envolve técnica, conhecimento e prática. E ninguém nasce sabendo”, explica a especialista. Ter o acompanhamento de uma consultora de amamentação logo nos primeiros dias do bebê é essencial para ajustar a pega correta, prevenir a dor, evitar feridas e garantir que o bebê seja bem nutrido. “Esse apoio pode fazer toda a diferença para que a amamentação aconteça com leveza, sem sofrimento, e sem a necessidade de recorrer precocemente à fórmula”, pontua Mariana.
O papel da consultora de amamentação
A consultora de amamentação é uma profissional especializada que estudou profundamente o aleitamento materno e compreende a singularidade de cada dupla mãe-bebê. “O nosso papel é escutar, acolher e orientar de forma personalizada, respeitando os desejos e os objetivos da mãe”, descreve Mariana.
Na prática, a consultora auxilia a ajustar a pega do bebê ao seio, estimula a produção de leite pela mãe, identifica e ajuda a resolver dificuldades específicas, como ganho de peso insuficiente do bebê ou dor durante a mamada. “A consultora de amamentação vai poder passar essas técnicas, trabalhar para que a mãe produza a quantidade de leite suficiente para o bebê, para que o bebê ingira a quantidade de leite que ele precisa para se desenvolver de forma saudável, e também vai trabalhar para que o bebê consiga extrair direto da mãe esse tanto de leite que ele precisa para crescer bem”, detalha a especialista. Além disso, “vai trabalhar para que a rotina dessa casa funcione de uma forma mais saudável”. Todo o trabalho é baseado em evidências científicas e no respeito à realidade de cada núcleo familiar.
Como funciona o acompanhamento na rotina da mãe e do bebê
A frequência das visitas de acompanhamento varia bastante. “Em alguns casos, uma única consulta já é suficiente. Na maioria, é preciso acompanhar mais de perto, com encontros frequentes até que a amamentação esteja bem estabelecida”, conta.
“Tudo depende da história dessa mãe, da condição do bebê — se é prematuro, se já recebeu fórmula, se há histórico de cirurgias mamárias — e das metas dessa família”, explica Mariana. A cada consulta, os avanços são avaliados e a frequência ajustada conforme a necessidade. “É um acompanhamento passo a passo, feito sob medida”. A recomendação da especialista é que “a primeira consulta seja feita logo no primeiro ou segundo dia de vida do bebê e a segunda visita assim que o leite descer”.
Desafios nos primeiros dias de amamentação
Os primeiros dias podem apresentar diversos desafios. “Um dos maiores desafios é acertar a pega”, afirma Mariana. “Quando o bebê não abocanha corretamente, ele pode machucar o mamilo da mãe, não estimular bem a produção de leite, não extrair o suficiente e ainda se cansar mais rápido, sem se alimentar direito”, detalha.
Além disso, “os recém-nascidos costumam ser sonolentos, o que dificulta as mamadas”, conta Mariana. “Alguns acabam dormindo sem mamar o suficiente; outros choram muito porque não conseguem extrair o leite”. O desconhecimento sobre o comportamento normal do recém-nascido também é um ponto crucial. “É natural que ele perca peso nos primeiros dias, e isso não significa que o leite da mãe não está ‘sustentando’. O corpo ainda está produzindo colostro, que é pouca quantidade mesmo, e o leite só desce em maior volume após alguns dias”, esclarece a especialista.

“Infelizmente, muitas vezes há intervenções precipitadas, como a introdução da fórmula, mamadeira e chupeta, que acabam dificultando ainda mais a amamentação”, lamenta Mariana.
E, por fim, o apoio, ou a falta dele, impacta enormemente. “Uma mãe cansada, insegura, sem rede de apoio, facilmente se sente culpada ou pressionada”, diz a consultora. “Quando a dor aparece e ninguém a ajuda de forma adequada, ela pode desistir”. Por isso, “o acolhimento e o suporte de uma consultora de amamentação e da família são tão importantes”, enfatiza. Mariana Betioli faz questão de envolver a família em seus atendimentos para que todos entendam o processo e esclareçam dúvidas. “Eu faço questão, nos meus atendimentos, de envolver a família para que eles consigam entender como funciona o processo da amamentação e esclareçam as suas dúvidas”, reforça.
Aliviando a carga emocional
Existe uma grande cobrança, tanto da sociedade quanto da própria mulher, para que ela consiga amamentar “perfeitamente”. “Existe uma cobrança muito grande, da sociedade e da própria mulher, de que ela precisa conseguir alimentar o próprio filho”, reconhece Mariana. “Mas cada história é única. Precisamos olhar para o contexto daquela mãe, daquele bebê, daquela fase da vida”. Nem sempre a amamentação será 100% exclusiva e direta do seio desde o início. “Às vezes, será necessário complementar por um tempo, e está tudo bem”, afirma. “Entre o peito exclusivo e a fórmula total, há muitos caminhos intermediários que podemos construir juntos, com segurança e sem culpa”, orienta.
Em certas situações, “mais vale uma mamadeira com amor do que um peito de uma mãe em lágrimas com dor”, considera Mariana. “A dor, o cansaço, a insegurança não significam que essa mulher é incapaz, apenas que ela precisa de orientação profissional”, reitera. “Amamentar não é instinto, é técnica, por isso quanto antes ela tiver ajuda, melhor”, conclui.
O papel da família no processo
A família tem um papel fundamental no sucesso da amamentação. “Quando a mãe é apoiada, orientada e acolhida pelas pessoas à sua volta, a chance dela conseguir amamentar aumenta muito”, garante Mariana.
A consultora busca envolver parceiros, avós e cuidadores para desmistificar crenças, explicar o funcionamento da amamentação e demonstrar o impacto do apoio emocional e prático. “Nos meus atendimentos, eu sempre busco envolver quem estiver por perto — parceiros, avós, cuidadores — para esclarecer mitos, explicar como a amamentação funciona e mostrar o quanto o apoio emocional e prático faz diferença”, relata. “Ainda existe muito mito e muita desinformação sobre o que é normal ou esperado. Por isso, é essencial que a rede de apoio também tenha acesso a informações baseadas corretas, e não apenas em crenças, opiniões ou experiências isoladas”, alerta a especialista.
Recursos adicionais: laserterapia
Um recurso que merece destaque é a laserterapia. “O laser é um grande aliado quando há dor, fissuras ou inflamações nas mamas”, explica Mariana. “Ele acelera a cicatrização, reduz a inflamação e alivia a dor — especialmente útil nos primeiros dias, quando o seio ainda está se adaptando ao contato intenso com a boca do bebê”. Nem todas as mulheres precisarão deste recurso, mas para aquelas que sentem dor, “o laser pode ser o divisor de águas para seguir amamentando com conforto”, afirma a especialista.
Consultoria de amamentação online
Mariana afirma que é possível fazer a consultoria de amamentação online, e que ela funciona muito bem. “Durante a pandemia, desenvolvemos técnicas para orientar à distância com muita eficiência”, conta. Embora a aplicação do laser não seja possível virtualmente, “todo o restante do trabalho — avaliação da pega, estratégias para ajuste da produção, orientações sobre rotina, ordenha, volta ao trabalho ou desmame — pode ser feito virtualmente com ótimos resultados”, conclui.