Nem sempre os grandes gestos são os que mais marcam. Para uma criança pequena recém-chegada a um novo lar, muitas vezes o que faz a diferença é o que parece simples: um abraço antes de dormir, a leitura de um livro favorito ou a repetição carinhosa da rotina diária. No dia 25 de maio, o Dia da Adoção nos convida a olhar com mais atenção para esse momento tão delicado e, ao mesmo tempo, transformador.
A adoção vai muito além de documentos assinados e processos legais concluídos. É um encontro de histórias, de afetos e, principalmente, de construção de vínculos. Quando falamos de crianças de até seis anos, esse processo se torna ainda mais sensível. Nessa fase da vida, o cérebro está a todo vapor, formando conexões importantes e aprendendo como se relacionar com o mundo.
A importância do acolhimento nos primeiros anos
“A criança pequena precisa de estabilidade, previsibilidade e afeto para se desenvolver de forma saudável na nova família”, explica o neurocirurgião e especialista em desenvolvimento infantil, Dr. André Ceballos. “Nos casos de adoção, é fundamental respeitar o tempo de adaptação, evitar sobrecargas emocionais e criar um ambiente seguro, com rotinas bem definidas e espaço para a construção gradual de vínculos afetivos”, completa.
Segundo dados do Painel da SA, em 2024 já foram concluídas 3.409 adoções no Brasil. Atualmente, 4.935 crianças e adolescentes estão aptos à adoção e há 35.622 pretendentes habilitados. A maioria desses pretendentes (mais de 33 mil) manifesta preferência por crianças de até 8 anos, sendo que a faixa etária de 2 a 4 anos é a mais procurada. Isso reforça a importância de preparar bem a casa e o coração para receber essas crianças.
Comece pela casa: ambiente que acolhe
Antes mesmo da chegada, a preparação do espaço físico da criança já diz muito sobre o acolhimento emocional. Ter brinquedos, livros e um cantinho só dela para descansar são formas de mostrar que ela tem lugar naquele lar. Mais do que isso: é um sinal de que ela foi esperada e é bem-vinda.

Rotina traz segurança
A adoção é um momento de mudança intensa, e a rotina pode ser uma grande aliada nesse processo. Estabelecer horários para comer, dormir, tomar banho e realizar atividades ajuda a criança a se sentir mais segura e confiante. “Estabelecer horários para comer, dormir, brincar e tomar banho ajuda a criança a criar o senso de segurança e confiança nos novos pais”, ressalta o Dr. Ceballos.
Conversas sinceras e escuta ativa
Por mais que sejam pequenos, crianças de até seis anos têm muito a dizer, mesmo que não saibam ainda exatamente como expressar. Estar disponível para ouvir, acolher sentimentos e responder com clareza é essencial.
“Aos seis anos, as crianças estão em uma fase de transição importante entre a primeira infância e o início da vida escolar mais estruturada. Nessa idade, elas já têm mais vocabulário e consciência emocional do que nos anos anteriores, mas ainda estão aprendendo a reconhecer, entender e expressar seus sentimentos de maneira saudável”, comenta o especialista.
Expectativas reais e paciência no dia a dia
Adotar é um ato de amor – mas também de compromisso. É preciso estar disposto a lidar com dúvidas, inseguranças e até algumas frustrações. “Uma criança que passa por um processo de adoção ainda na fase do desenvolvimento infantil vai precisar de apoio. Mas os frutos que os pais irão colher serão muitos”, afirma Ceballos.
Segundo ele, o mais importante é lembrar que cada gesto de cuidado tem um impacto direto na formação da autoestima e no senso de pertencimento da criança. “Não há nada mais prazeroso do que ver seu filho crescer com saúde dentro de um lar que proporcionou recursos e estrutura para que ele se tornasse um adulto saudável e feliz”, conclui.