
Nesta quarta-feira (04), a filha de Regina Casé, Benedita Zerbini, de 30 anos, desabafou sobre a sua surdez recorrente a uma complicação em uma pneumonia através de um texto para a revista Vogue. Contou que foi diagnosticada quando tinha apenas 3 anos após seus pais perceberem um problema na fala da menina.
Apesar de perceberem a diferença na dicção da criança, os pais optaram por tentar resolver em um fonoaudiólogo. Entretanto, após o tratamento não surgir efeitos, a médica pediu uma audiometria que confirmava que a menina sofria de surdez bilateral.
“Minha surdez foi descoberta aos 3 anos de idade. Meus pais só notaram que havia algo errado porque apesar de falar, era difícil identificar o que eu dizia. No início, eles acharam que era um problema de dicção que poderia ser resolvido com sessões de fonoaudiologia. Mas, desconfiados, insistiram em ter outras opiniões e continuar investigando. Um dia, ao fazer uma audiometria, veio o diagnóstico: o que eu tinha era surdez bilateral neurossensorial severa, uma perda auditiva causada por danos ao nervo que liga o ouvido ao cérebro e que não permite ouvir sons que estejam abaixo de 70 a 90 decibéis. Ou seja, perdi todos os tons agudos, um tanto dos médios e muito pouco dos graves. Não ouço campainha, apito, passarinho…”, detalha ela no texto.
Por conta disso, os médicos diziam que ela também não seria capaz de desenvolver a fala, e que teria de usar a linguagem dos sinais e estudar em um colégio especial, pois não conseguiria ter outro tipo de comunicação. “Mas o ser humano é impressionante: até o diagnóstico final, já havia aprendido, naturalmente, a fazer leitura labial”, recorda.
Quando completou quatro anos, ela foi liberada para o mundo. Foi matriculada em uma escola regular e começou a usar aparelho auditivo. Benedita conta que o instrumento a ajudou muito durante o processo de adaptação na escola, “Isso mudou minha vida, pois apesar de ele não ser suficiente para ouvir absolutamente tudo, me possibilitou escutar tons e frequências que antes eram impossíveis. Também mudei minha relação com a música“, conta ela, ao classificar como “um acontecimento” a primeira vez que ouviu todas as nuances de uma música de Bob Marley em uma loja de discos. “Minha mãe e um amigo que nos acompanhava ficaram super emocionados. Saí da loja com uma caixa de CDs do Bob Marley, que nunca mais parei de ouvir”.
Na faculdade, enquanto estudava Design Gráfico, a moça comenta que muitas aulas os professores apagavam a luz para transmitir filmes e vídeos. Isso dificultava a linguagem labial e atrapalhava seu desenvolvimento nas matérias, “Na faculdade, era comum o professor dar aulas de costas ou com a luz apagada, o que me impedia de ler seus lábios. Apesar de conseguir me virar, tinha dificuldade de me colocar – ficava constrangida em pedir ajuda, achava que iria atrapalhar o andamento das aulas. Minha mãe sempre insistiu para que eu me abrisse com as pessoas, mas tinha pavor de ser vista como vítima”, desabafou.
Atualmente, Benedita escreve em um blog sobre a sua história e ajuda pessoas a como enfrentarem suas condições diante a uma sociedade pouco diversificada e igualitária. Junto ao blog Crônicas da Surdez, ela tem discutido e desmistificado o assunto. “Com eles faço parte da campanha Surdos que Ouvem, que mostra a diversidade na deficiência e leva informações para esta comunidade. É muito bom encontrar pessoas que têm um discurso parecido com o meu e que acreditam que é possível sim, ter uma vida leve e alto-astral”, conclui.
Para ver o vídeo da campanha, clique aqui.
Desabafo da mãe Regina Casé
Regina Casé, mãe de Benedita Casé Zerbini, fruto do relacionamento da apresentadora com Luiz Zerbini, fez um desabafo sobre como descobriu a surdez da filha. Em um vídeo no canal do YouTube, a atriz afirmou que foi uma loucura e que ela não esperava por esse resultado.
“A gente foi fazer uma audiometria em Copacabana e o médico chegou e disse: ‘Por que você trouxe ela aqui?’, eu disse: ‘Porque ela tá com dificuldade na fala’. Aí ele falou: ‘Ela fala muito bem. Eu não sei como ela fala, já que não ouve nada’. Foi assim que esse homem falou. Foi uma loucura”, disse.

Já sobre a criação da filha, Regina explicou que ficou em choque no começo mas logo depois, percebeu que criou um laço de união. “Quando fiquei grávida e vi que era uma menina fiquei muito assustada. Porque eu achava que não saberia criar uma menina e ainda mais uma menina surda. Eu acho que o que a gente passou na hora do nascimento, e a descoberta de que a gente ia passar o resto da vida tendo que enfrentar o mundo com essa dificuldade, isso criou uma união, uma simbiose entre a gente, a gente cresceu juntas, mesmo, agarradas”, afirma.
Há também um depoimento de Benedita e a adaptação. “Eu coloquei o aparelho com 4 anos de idade. Nos dois ouvidos. Vários médicos falaram que eu não poderia estudar em escolas normais. Diziam que eu não iria desenvolver a fala, que eu não iria conseguir me comunicar… Que eu só iria me comunicar através da linguagem dos sinais. Só que minha mãe foi muito forte e falou que queria me colocar num colégio normal”, contou.
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