22/12/2012
Por Patrícia Broggi, jornalista
Na minha casa, sempre teve presente, mas na hora certa. Quando eu era pequena, no aniversário, a gente tinha de escolher: festa ou presente. Nunca ganhei nem lembrancinha de Dia das Crianças. Minha mãe dizia que era uma data inventada para consumir. De Natal, nosso primeiro presente foi um chiclete, daqueles que vem cinco, um para cada irmão. Ouvindo isso, parece que eu sou uma coitadinha. Nada disso. A parcimônia não impediu que eu tivesse 56 bonecas (lembro do número até hoje), roupinhas, casinhas, triciclo… Eu ganhava de avós, padrinhos, tios, amigos… E curtia todos, inclusive o chiclete.
Depois, minha mãe foi ficando mais mão aberta (ou meu pai recebendo mais dinheiro), tanto que ganhei uma bicicleta de Natal: tenho uma foto minha no exato momento, e a cara de alegria estampada no instantâneo é de dar inveja.
Meus filhos ganham presente de Natal. Ganham de aniversário, apesar de terem dado festa todos os anos. Ganham de Dia das Crianças. E de viagem. Resisto bravamente e raramente dou alguma coisa fora dessas datas. Quando acontece, eles ficam maravilhados, como se fosse um milagre, porque já se acostumaram com as regras.
O Natal está chegando, e o assunto começa a pegar. Os anúncios na televisão, nas revistas, em tudo quanto é lugar, não deixam a peteca cair. Não dá para resguardar os filhos da sedução ao consumo que assola o país, aliás, o mundo.
Na casa dos meus pais comemoramos o nascimento de Cristo com tudo a que temos direito. São quase 70 pessoas. Tem criança vestida de anjinho para colocar o menino Jesus na manjedoura, tem missa, ceia superfarta, serenata de violão do meu pai e… presentes. Uma árvore cheia deles. Desde já meus filhos começam a fazer uma lista do que gostariam de ganhar.
Pensam no presente dos nonnos (que são meus pais), dos avós (que são os do Antonio), dos tios (de todos), padrinhos… Eles fazem listas e dão sugestões. Mas também me perguntam quem vai se vestir de anjinho, em que dia voltamos da praia para comemorar o Natal ou se meu pai vai tocar violão ou gaita naquela noite. No ano passado perguntaram se não tinha uma leitura para eles – as crianças sempre participam da missa.
Para meus filhos, o Natal não é só árvore e seu conteúdo. E isso é um alivia. Antes, ficava incomodada com o assunto. Achava que era importante preservar o espírito da festa. Mas, de repente, compreendi que temos a missa, o encontro da família. A diversão é que a troca de presentes é apenas um momento da celebração. Um momento importante, mas nunca o mais importante.
Percebi que abolir as lembranças embaixo da árvore ou mesmo optar por um paliativo, como o amigo-secreto – solução usada por muitos que querem economizar, mas que mantém o mesmo espírito de gastança natalino –, não faria com que meus filhos se tornassem menos consumistas. A solução seria mostrar para eles outros lados do Natal. Fazendo com que a festa seja mais gostosa. Priorizando o contato com a família. Minimizando a importância dos presentes. Acho que temos conseguido. E isso é o melhor presente de Natal para mim.